Nunca te afastes demasiado. Não estejas do lado de lá da vida que não me inclui, por muito tempo. Nunca me deixes sem as respostas que as minhas perguntas carregam, porque se o fizeres, não te sentirei comigo e quando nem olhos conseguem ver o que que as palavras subtraem, o nada instala-se. Não te poupes a explicações, usa e abusa de cada uma para que nenhuma penetre, de forma indelével e te impeça de te instalares no lado certo do meu coração, aquele que te reservei. Nunca te afastes demasiado, não o suportaria e não saberia o que fazer com o que ainda não sei sobre nós.
Tens o olhar que me sossega e que me vê para além dos outros e do que digo para parecer bem. Tens, de mim, tudo o que me vais dando e passou a ser tanto, que já não suportaria a tua ida sem regresso à vista. Tens o colo que uso cada dia mais, sem qualquer receio de parecer carente, até porque o assumo, sou-o sempre que não te tenho. Tens o tempo que nunca me basta e que me escorre dos dedos com que te desenho os contornos que tão bem conheço. Tens a voz que me embala e sossega e é ao ouvir-te que ouço, de forma bem clara, o que também preciso de dizer. Tens tudo o que pedi, agora só me resta saber quem sou para ti e o que te dou, quando considero estar a dar-te tudo.
Nunca te afastes demasiado, porque até nos sonhos te revejo e espero, sabendo que chegarás. Nunca te afastes do corpo que o teu cobre sem que nunca me baste e bastando um roçar de pele para que me devolva inteira e pronta. Nunca te afastes do que estamos a construir juntos, porque ainda precisamos de muito de nós para que o tudo se instale de vez. Nunca te afastes do amor que te tenho e que entrego, como nunca fiz antes, porque estou finalmente a receber o que me cabe. Nunca te afastes demasiado, preciso de te ter aqui, hoje bem mais do que ontem e amanhã seguramente que com as certezas que me diziam não existir, mas se até tu existes... Nunca te afastes demasiado, já não saberia o que fazer de mim.
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