Estou assim agora, à espera do expectável e desejando, pelo menos desta vez, que o meu olhar se foque no que não me trará mais do mesmo, mais do ontem do qual fugi e muito menos do que na verdade é tão possível quanto o são a chuva e o sol nos quais não mandamos. Estou desejosa de poder perceber que o meu desejo não é apenas isso e que também tenho algum poder. Estou claramente pouco preparada para o que esbarra, de forma violenta, no corpo que até cuido e que tem resistido, estoicamente, a muitos embates, mas que já me grita por menos, menos dor, menos receios e muito menos incertezas. Estou assim agora, sem as forças de antes e incapaz de as recuperar...
As mesmas portas que vemos abertas por vezes também se fecham, fechando-nos em lugares onde nenhuma luz entra, impedindo-nos de ver o chão que pisamos, as paredes que tocamos à procura do familiar e os tetos que parecem baixar até que fiquemos tão pequenos e encolhidos, que o ar fuja e o respirar ensurdeça pelo som desesperado. Os mesmos momentos que souberam a sabores novos, também se estilhaçam, estilhaçando-nos TANTO por dentro, que o exterior ficará mais pálido e sem cores que o protejam dos que nos olham. As mesmas horas, em dias igualmente longos ou demasiado curtos para que encurtemos a distância que nos separa do razoável e familiar, pregam-nos partidas, iludindo-nos quanto à possibilidade de as podermos reter, ou permitir correr. Os mesmos riscos, sempre os mesmos, mas para que não arrisquemos desistir sem ao menos experimentar.
Estou assim agora, sem a voz que me sossega os pensamentos, mas cheia das palavras que apenas eu oiço e que me mantêm sozinha, como na verdade sempre estive, até quando no meio da multidão.
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