Não, não quero...



Não quero ser a única a derramar a cola que nos mantém juntos, porque preciso do que também tens para oferecer. Não quero ser apenas eu a querer-te, tanto, que quereres-me seja um exercício demasiado fácil. Não quero ser a parte difícil duma relação que nunca me facilitou a vida. Não quero cultivar mágoas que nos afastem para sempre. Não quero sentir que nunca me quererás o bastante para que repouse o coração e a alma. 

Não existe forma de te continuar a amar se não me amares de volta. Não há como sentir que há algo para permanecer, se nunca perceber do que aparentemente já teremos. Não tenho vontade de usar demasiado os "nãos" que nos escurecem os dias e mantêm em claro nas noites demasiado longas. Não quero precisar de outros abraços que não os teus, nem de beijos novos que me saibam aos sabores que já tinha desistido de procurar.

Estamos numa viagem que desejo sem fim anunciado, mesmo que ele já nos tenha ensombrado umas quantas vezes. Vejo-nos num caminho que pretendo suave, e mesmo que a vida nos atropele, espero que nunca sejamos, um para o outro, o lado sombrio da lua. Desejo que nos continuemos a desejar, alimentando bem mais do que o corpo, porque tudo o resto será um reflexo do que soubermos manter.

Não quero ser a que permanece à espera do que nunca deixa por dar, porque também eu consigo desistir de tanto esperar. Não quero continuar a saber o que significa não me conseguires querer.

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