Usei bem o nosso dia e disse-te adeus. Deixei-te com os meus sorrisos e com todo o amor de que sou feita e que voltei a usar contigo. Disse-te adeus sem que o sentisses, mas foi a chorar por dentro que soube que não nos voltaríamos a tocar. Os abraços nos quais me entreguei, aninhando-me em quem nunca pretendeu acolher-me, já não voltarão a acontecer. Usei bem o nosso último dia e fiz contigo o amor que me permitiste sentir, e que bem me soube, mesmo que me soubesse a fim. Tão bem que as nossas bocas se encaixaram, passando cada sentimento arrancado a ferro a fogo, como aliás sempre fizeram. Voltei a olhar-te e vi, pela primeira vez, como te deixaste ir, cerrando os olhos e sentindo, sentindo-me. Foi numa dança sensual que deixei toda a minha energia percorrer o corpo que aprendi a conhecer e em cada um dos teus toques soube que me estavas a tocar verdadeiramente, como se fosse a tua primeira vez comigo e me conseguisses finalmente ver.
Não deve existir nada mais duro do que desistir de quem arriscámos escolher, mas quando a realidade nos fustiga e mostra, uma e outra vez, o quão pequenos e invisíveis fomos, o discernimento faz-nos escolher a luz, os lugares que conhecemos e as únicas verdades que nos poderão salvar. O amor não se pede. A entrega de quem ama e deseja construir algo tangível, nunca poderá vir com esforço. A verdade de quem ainda não sabe o bastante, mas ainda assim tudo pretende descobrir, estará sempre espelhada em cada movimento, escolha e lugar.
Usei o nosso último dia para me encher do que ainda me fará falta, mas apenas pelo tempo em que me conseguir enganar, dizendo-me o que nunca me fizeste ouvir. Usei um dia pleno de sol para alimentar os que inevitavelmente serão cinzentos e solitários, mas foi ao escolher escolher-me que me permiti recomeçar, reencontrando-me. Disse-te adeus sem as palavras que gostaria de ter usado, mas o silêncio gritou por mim...
0 Comentários