7.4.12

Hoje

                                  











Já se passaram quantos anos? Três? Quatro? Nem sei muito bem, mas assim que te vi o tempo desvaneceu-se, deixou de contar e apagou tudo o que ficara para trás. Olhas-me de olhos firmes postos em mim, quase não pestanejas. As minhas amigas deixam cair um silêncio que nos abafa a todos, perguntam-se provavelmente o que sucederá de seguida, mas nem eu sei. Estou incrédula com a tua proximidade, tanto que te desejei e sonhei assim junto de mim. Sinto-me estremecer por dentro e nem sequer tento disfarçar o meu desconforto perante a tua enorme estatura, a mesma que me forçava sempre a esticar-me para te chegar à boca. O quanto te rias então. – “És mesmo pequenina, anda cá que te trago até mim”! Como será que tem corrido a tua vida todos estes anos? Será que te fiz falta? Que outras mulheres encheram o teu vazio? Quem terás tu agora? Tantas perguntas, mas continuamos em silêncio e apenas nos olhamos.
Vejo-te aproximar de mansinho, passos inseguros como se me considerasses uma visão, os teus olhos estão vidrados, seguras-me a cara entre as mãos que sinto tremer, mas nada dizes, agora já o meu coração parece não caber mais no peito, as minhas lágrimas caiem igualmente silenciosas molhando-me a alma e os lábios que beijas suave como que para não me magoar, estou a rebentar por dentro, não consigo entender porque te afastaste de mim, porque me deixaste ir, porque desististe dos nossos dias e noites. Que falta me fizeste, que vazio ficou na minha alma, a mesma que um dia rejuvenesceu para te aceitar. Fugiste do que te faria feliz e deixaste-nos absurdamente sós de tudo, do amor que fizemos sem nunca nos cansarmos, das palavras que esgotávamos quando planeávamos um tempo só nosso, mas não te deixei ir de mim, nunca, até hoje, dia em que te sinto na pele, dia em que finalmente toco os contornos de uma face que já a mente tentava em vão manter. O teu cheiro é o mesmo, esse guardei-o, o cheiro que se misturava com o teu suor, suor que eu sorvia porque era do prazer que te oferecia. – “Jamais alguém te amará tanto como eu”. – Disse-to no dia em que os mesmos olhos de hoje confirmaram que escapavas de mim, mas não te pedi que ficasses, jamais te impediria de ir onde quer que conseguisses, mesmo que sem mim.
Amar-te foi sempre fácil, premente, meu, teu, nosso. Reconheço-te, sei-te, tenho-te aqui, gravado no que conheço de mim. Hoje sei que se voltasse atrás seria para te impedir de partir. Hoje não iria respeitar as tuas inseguranças, iria sim lutar para te ter, para te cuidar, e encher de mim. Hoje não choraria escondida adivinhando que não voltarias mais. Hoje não!
Os teus lábios pressionam agora os meus, sinto a tua língua quente a roçar na minha, devagar, num beijo cheio de vontade, como tantos outros que já demos. Estou em bicos de pés, laçaste-me a cintura e sinto-me no ar, a flutuar no nosso desejo. Não quero que pares, por favor não pares, beijas-me forte e ansiosamente agora quase não respiro, o ar quer fugir, mas não preciso dele, preciso de ti, quero-te a ti. Fazes-me falta. Os meus poros respiram-te. És real, sabia que tinhas estado na minha vida.
- Meu amor que saudades de ti, estou a sentir-te minha outra vez. Perdoa-me, por favor perdoa-me…
E de novo estás na minha boca, na minha carne.
- Não chores por favor, fiz-te sofrer, eu a besta insegura e desumana. Se soubesses como te sonhei, quantas vezes tentei discar o número que me martelava por dentro. A tua voz, sempre me acalmou e soou tranquila, dizendo como me querias e desejavas. Reconhecê-la-ia entre milhões de vozes. És tudo o que pedi, mas acobardei-me, fugi da tua segurança, da tua força. Estou em vão a tentar que percebas porque desapareci na noite sem explicar nada e tu nunca pediste. Fala amor, não chores, fala comigo…
Hoje foi aquele dia que sonhei durante tantos dias e noites em claro. Julguei por vezes que sairia enlouquecida de tudo isto, que até mesmo a minha força se desvaneceria perante a tua falta, vi-te e antevi-te nas ruas de uma cidade tão próxima da minha sentindo-te no ar. Sonhei com este dia, sonhei-o de todas as formas possíveis, mas senti sempre que viria, que iria acontecer. Imaginei-o acordada, segui-lhe os passos, ele ia acontecer e nesse dia eu iria entender. Os silêncios matam, disse-o tantas vezes e tu fingiste ouvir e entender. Julguei que sobretudo tu o entenderias! Quando estavas só, longe deste mundo seguro, num país longínquo que te roubava de mim, nessa altura sabias que a minha proximidade, a minha voz te manteria acordado, vivo, menos dorido e eu nunca te faltei, nunca me silenciei, estive sempre aqui, perto da tua necessidade de mim! Não me deste na mesma proporção, mas amei-te na mesma, quis-te sempre, sonhei-te e senti-te. Não me arrependo de nada, sobretudo de ti. Faria tudo outra vez, hoje e sempre. Amar é bom, deixa-nos vivos, permite colorir dias chuvosos e cinzentos, rasga sorrisos, permite amanheceres cheios de esperança e vontade. Amar é bom e eu amei-te, muito e voltaria a amar-te tanto, que deixaria que o coração que dizem não doer, me doesse realmente!

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