Vi-o de costas e foi no mínimo estranha a sensação que tive de familiaridade, senti que já o conhecia de algum lugar, a forma como se movia, o cheiro de um perfume que se me entranhava, ainda sem lhe ter visto o rosto, tive a nítida sensação de que conhecia cada contorno, sabia que os olhos seriam azuis, que a boca era carnuda e que fazia uma covinha na face sempre que se ria. Estava semi-assustada, não me conseguia mover e pareceu-me uma eternidade o tempo que levou a mostrar-me que estava totalmente certa.
Senti-me estremecer e gelei assim que me olhou. Franziu o sobrolho, fez um movimento para se afastar, mas voltou-se de novo para mim e perguntou - desculpa, mas eu conheço-te?
- De uma outra vida, quem sabe...
Largou uma gargalhada e aproximou-se mais de mim, senti a sua respiração e soube de imediato que já tinha beijado aquela boca. Olhou-me como se me estivesse a ver por dentro, agarrou-me a mão que apertou de mansinho enquanto largava um sorriso desconfiado.
- Como é que eu poderia ter-te conhecido e não me lembrar de onde? De onde saíste tu mulherão e porque me olhas assim, porque estás aqui?
- Calma, calma, tanta pergunta... eu não sei o que te responda, estamos aqui e é como se nos estivessemos a reencontrar, até a tua voz me é familiar, o meu corpo está-me a dizer que te reconhece, sei ao que sabes, como te moves, estou incrédula, parece um episódio do Twilight Zone!
Teria entrado noutra dimensão, ou estaria a sonhar? O tempo simplesmente deixou de correr e ficámos ambos sentados a olhar-mo-nos, a fazermos perguntas para as quais sabíamos todas as respostas. O medo deu lugar à vontade de nos termos, de descobrirmos quando nos nos teríamos pertencido e que acaso do universo decidira juntar-nos. Por alguma razão misteriosa estaríamos a receber uma segunda oportunidade, bastava agora saber o porquê e quem sabe retomar de onde paráramos.
Love finds mysterious ways!
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