Hoje acordei contigo em mim,
sonhei-te de noite e acabei a ter-te como das outras vezes. Eras tão real, tão atingível que te consegui cheirar, saborear, tocar...
Alimento-me do que já foste para mim, davas-me alento, renovavas os meus dias, acordavas-me para o sol que estava dentro de mim e do qual preciso para me sentir mais viva. Sou um ser do ar, do tempo quente que nos faz escorrer o suor pelo corpo lânguido, gosto dos dias longos, abertos, cheios de luz e na falta deles murcho qual flor que não foi cuidada, mas tu conseguias sempre fazer-me sorrir, ver o lado bom das coisas, das pessoas, conseguias que eu acreditasse que sou forte o bastante para viver sem ti, mas não quero, não quero que não faças parte do que entendo por vida, preciso de ti para que me apontes com segurança os caminhos que tenho que percorrer. Preciso tanto de ti...
Acordavas-me com um beijo no nariz que dizias arrebitado, largavas-me um sorriso tão intenso que eu sentia bem dentro de mim o quanto era a mulher que te cabia, que te fora destinada, que te reconhecera, e porque te pertencia. Fazíamos amor sempre com uma entrega que me assustava, parecíamos fundir-nos, sermos apenas um e no final o que jorrava de ti, de mim, parecia preencher tudo o que qualquer palavra alguma vez seria capaz de descrever. Os meus dias começavam contigo, sempre contigo a dar-me alento para também eu ser uma pessoa melhor. Quase não precisávamos de falar, já havíamos dito tudo, falado de nós, do que queríamos, de como nos sonhávamos, as palavras eram substituídas por toque, carinho, sons, beijos profundos.
Ensinaste-me a orar ao universo, a agradecer a noite tranquila e a manhã que nos permitiria recomeçar. A tua tranquilidade, paz, sabedoria, tocava a todos que reconheciam o quanto eu era um ser afortunado e fui-o até que acabei a contemplar o que restava de ti, uma pedra fria da cor que te deslumbrava, negra, tão negra como passou a ser a minha vida... mas eis que de vez em quando te sonho, te sinto de novo real, perto de mim, cuidando-me, beijando-me o nariz que já não arrebito. Agora caminho insegura e tento sorrir ao que não me recorda nada, que não me trás nada... agora sou tão pequenina, insegura, apagada, adormecida e apenas em sonhos te tenho de volta.
Hoje acordei com o teu cheiro, com o teu respirar e com o teu sorriso que me impeliu a agradecer a manhã que nascera para mim, mas não consegui, agora as palavras já não brotam mais de mim, não consigo agradecer ao universo porque te roubou de mim, porque apagou a minha chama, porque te trouxe até mim e depois sem pedir te roubou. Estamos no Natal e eu não tenho nada, não quero recomeços, não quero ninguém por perto, quero-te a ti, queria-te a ti, tu que me irias desejar um
Bom Ano Novo, sem medos, um ano repleto do amor que todos temos para dar, eu sei como tu me olharias e falarias, mas já não te tenho.
Sonhei-te esta noite,estiveste dentro de mim, comigo e eu sorvi-te de novo, amei-te e senti que estarás sempre por perto, até que me erga de novo e passe a agradecer os amanheceres agora cinzentos.
Sonhei-te, recordei-te, tive-te... uma vez mais e tudo fez sentido!!
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