Nunca teremos a verdadeira dimensão da influência de algo em nós, até que um dia, do nada, acabemos a perceber o que foi que accionou o rastilho. Tive, há algum tempo atrás, a noção de que fui verdadeiramente tocada por uma personagem fantasiada, mas que poderia bem ter existido, tal como existo hoje. A Jo Marsh do romance as Mulherzinhas, representava a menina que quase fui, porque era igualmente voluntariosa, determinada e virada para as palavras. A Jo era a mais forte das irmãs e para quem não leu o livro, posso contar que se tratava de uma família constituída por 4 meninas, pela mãe e por uma doce empregada. Tinham ficado as 6 para trás, a segurar os despojos de uma guerra para a qual o pai partira. Foram tantas as aventuras e as lições de vida, que quem como eu leu o livro, não poderá ter ficado indiferente.
Eu a escritora, a que se denomina assim, porque sempre se sentiu capaz de juntar letras, dando-lhes significado, sou diariamente influenciada por diversas histórias, personagens, desejos e sonhos que acabo a juntar e a reconstruir. Eu a escritora, sei que não poderia ter sido outra coisa, mesmo que já tenha sido muitas outras. Eu a escritora, vou a cada dia permitindo que tudo o que amealhei no meu banco de memórias, me forneça o combustível que me alimenta. Eu a escritora, sinto que posso finalmente começar a usar tudo o que me fez assim, para poder partilhar sem defesas e sem filtros, com todos os que me vão lendo, porque de outra forma não serei eu.
Incrível como por vezes precisamos de tão pouco para sermos muito!
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