Tenho-te sem te ter e sinto-o ao olhar para ti. Percebo-o ao ouvir-te com atenção, vendo os movimentos que os teus lábios desenham e desejando, por vezes que se movessem em mim. Se conseguisses ler os meus pensamentos estou certa que me irias ralhar, gritando-me o óbvio, que só não tenho mais porque não peço. Sei que bastaria que te pedisse, que te dissesse o quanto esperava que me tocasses, que me apertasses até me faltar o ar, mas vou-me encolhendo, com medos dos recomeços e com um enorme receio de que esperes pelo que não sei se chegará. Sei que de cada vez que te tenho, não te tenho realmente. Sei e deixa-me a querer ser diferente, a conseguir arrojar e a perder-me para me encontrar depois. Não és tu. Não é porque te falte algo. Não é sequer por não tentares. Sou eu que apenas quero o que não tenho, sabendo que te teria, se permitisse.
Já não é sequer difícil aceitar que me fazes bem, que me deixas mais eu, que é confortável imaginar-te no meu futuro. Não é difícil, mas ainda não se tornou possível e se queres que te diga, até porque me conheço, ou caio de cabeça logo, ou nunca chego sequer a desejar saltar.
Tenho-te sem te ter e apenas posso olhar para ti e imaginar tudo o que me darias, se ao menos eu me desse!
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