Já não restam dúvidas, sobretudo para mim, que consigo desdobrar-me, estar aqui e ali quase em simultâneo e terminar o dia renovada mesmo assim. Hoje foi mais um desses. Mesmo sendo sábado, acordei cedo, iniciei a manhã com um bom banho, capaz de reparar até uma alma perdida e quando me sentei para ser cuidada, mimada, já um milhão de pensamentos e de planos povoavam a minha mente.
A Laura faz umas massagens aos pés, UI, que classe e que bem que sabem estes minutos só meus. Resolvemos arrojar na cor do verniz e segui segura para quem me deixaria um pouco mais bonita. Os cabelos longos ficaram em cachos suaves, fui maquilhada com cuidado e escolhi um vestido que me realçou os seios generosos. Caramba, casava comigo mesma hoje! Adoro a sensação de poder que se apodera de mim quando estou confiante e segura. Os meus passos seguem firmes, o meu semblante ilumina-se e fico mais alta e capaz de dominar todas as adversidades. Acabo até a suportar almoços carregados, sem qualquer sorriso ou olhar sereno e cheios de gente que já não me diz mais nada. Anotei no meu diário que me vou deixar destas palhaçadas, de reuniões pseudo familiares que me matam de tédio e que para chegar até eles, aos almoços, tenho que percorrer quilómetros de paciência de palavras tranquilizadoras.
- Deixa lá, fazes pelos teus filhos.
Aceno que sim, mas não acredito! O cliente da mesa ao lado deixa pousar em mim um olhar de -"E se fossemos mas era dar uns amassos lá para fora?" - Acabo por me rir de mim mesma. Há gente com imensa imaginação, eu mesma para começar!
Tenho que pôr notas a vermelho no diário, a ver se não me esqueço de me esquecer. Este tipo de desgastes vão ter que terminar. Já não faço parte do clã, por isso vou passar a mandar os filhotes e rumar para praias azuis com céus que brilham mesmo. Chega de sorrisos tremidos. Caramba, afinal para que foi que me produzi? Não há pachorra!
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