Ver e ter gente muda-nos!

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Para quem escreve, ter e ver gente é fundamental porque absorvemos gestos, sons, desejos e olhares, que depois acabamos a retratar, num momento ou noutro!

Para mim, que até sou algo bicho do mato, sair, falar com quem não conheço, expondo-me ainda mais, movimenta-me as energias e força-me a socializar de forma diferente. Os escritores também têm este problema, o de construírem um mundo muito seu, onde estão resguardados dos tempos dos outros, e no qual se soltam completamente, sem receios, ou até com muitos, mas sem forma de impedirem o que são, e tem de sair.

Haverá quem pense que escrever é fácil e que bastará juntar um monte de palavras, aparentemente soltas e largando-as para que as "gramem" os outros, mas é muito mais do que isso, porque ocupa e rouba muito de nós e porque se não o fazemos, ficamos vazios, como se algo tivesse deixado de acontecer quando era suposto.

Por vezes soa a maldição, a um castigo maior, porque deveria ser possível tirar esta pele que se cola e não nos permite ser muito mais, ou talvez ser tanto, porque menos nunca será uma opção. Se cansa? Sim, claro, porque o cérebro gira e gira, até mesmo quando falam connosco estamos a navegar em projectos, em algo que nos apetecia desatar a escrever, ou no que precisávamos de fazer enquanto os outros discorrem as suas ideias. Raio de coisa...

Tão bem que agora entendo quem se torna eremita, sem dar muita margem para que os possam invadir, impedindo-os de funcionar nos seus próprios termos. Por vezes  gostava de me retirar não tendo que fazer intervalos e quebrando o ritmo que apenas eu me deveria poder impor. Mas pronto, há que saber adaptar e há que ter gente por perto também, afinal de contas, é de cada um e por cada um que me chegam as palavras, e isso é algo que sozinha não saberei fazer, pelo menos não tão bem.

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