Quando um amor chega e atropela um outro, previsível, pronto e aparentemente natural, a nossa paz esbate-se a passamos a questionar até o ar que respiramos, sentimo-lo entrar, mas somos incapazes de o expelir convenientemente.
Gostava de te ter visto e sentido antes, muito antes das cartas que já trocávamos, mas com uma finalidade muito diferente da que tenho hoje. Gostava de não precisar de magoar quem me escolheu, afastando a ideia que criou de nós, porque esteve ao meu lado quando precisei e quando precisou de mim, do meu amor e das minhas certezas, já não as tinha, agora eram-te dirigidas, a ti, quem certamente já me pertenceu. Gostava de não precisar de comparar dois homens, dois amores, mas a verdade é que quando nos vimos, eu e tu, depois da vida que tinha e que me corria de forma tão natural, o ontem esfumou-se e passei a não ter qualquer passado sem ti.
Quando o amor certo chega, nada do que nos parecia certo volta a ter lugar. As dúvidas passam a ser a nossa maior forma de certeza, porque nos deixam a pensar no que nos resta, no que nos está reservado e no que ainda teremos que fazer para que tudo resto faça sentido. O teu amor chegou assim, destemido, mas igualmente reservado, como se não acreditasse no que lhe poderia devolver. Gostava de ter gostado de ti antes, vendo-te quando podia ser simples e imediato, mas aparentemente precisei de um outro amor para validar o teu.
Decidir teve um sabor agridoce, mas a única decisão possível teria que passar por ti, já o sabias e foi com o teu sorriso mais aberto e confiante que me recebeste, a espera não poderia ter sido demasiado longa, afinal de contas já não tínhamos mais tempo para gastar, não um sem o outro!
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