Matar a lembrança é morrer de cada vez que o fazemos. Matamos de forma tão rápida quanto possível, o que nos lembra cada sorriso, cada palavra e os inúmeros desejos e sonhos quebrados. Matamos até os pensamentos... Se ao menos eles se deixassem morrer, mas recusam-se, estóicos e armados em cavaleiros montados em cavalos brancos, altivos e prontos para qualquer batalha.
O depois, o momento em que se ouve ou diz um não, inicia o processo longo, bem mais demorado do que o sim que se acabou a proferir, sem saber como saiu, de onde veio e o que o motivou. Apagar, riscando com uma borracha emocional, o que não fomos capazes de manter, carrega uma dor que rasga, que culpa e que nos cobra até o novo respirar, porque na verdade passamos a respirar de forma diferente, sozinhos, descompassados e sem outro som que não o nosso. Matar a lembrança, cada lembrança, mata-nos inevitavelmente e leva de volta a esperança que se instalara, o desejo que regressara, vivo e alerta de sermos desejados, cuidados e amados incondicionalmente. Matar a lembrança de um amor que chegou com uma força e vida que nem sabíamos ser capazes de sentir, deixa-nos no primeiro minuto a nadar sofregamente para não morrermos com ele.
Não se pede, nem se procura até quando o fazemos, mas o que é nosso e tudo aquilo que teremos que viver e aprender, vem na nossa direcção e sem possibilidade de desvios. Não se pede nenhum amor, mas quando ele nos atinge, muda-nos, redirecciona-nos e coloca em perspectiva o que é mesmo importante. Não se pede amores que podem matar como um raio, mas eles chegam assim mesmo e provam-nos que não controlamos nada, nem o início nem o fim.
Não quero matar a lembrança. Não quero deixar de pensar e de sentir, mas preciso de me manter viva e de continuar. Não quero matar a lembrança porque isso seria matar-te, mas ou morres tu e eu sofro na mesma, ou morro eu e acabo mesmo morta!
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