Vou-me lembrar sempre da forma como me beijaste pela primeira vez, quando ainda não sabíamos o poder que os beijos carregam. Estávamos no início dum amor tão inocente, mas a saber-nos a todas as certezas que certamente não voltaremos a ter. Vou-me lembrar sempre do apoio de todos os amigos que já desesperavam pela demora, mas a minha timidez e o teu medo de me afastares, afastou-nos até ao dia em que finalmente nos apaixonámos e trocámos o beijo que permanecerá para sempre, o primeiro, o certo e o único com o qual mais nenhum poderá competir.
Tanto que gostava de poder voltar ao tempo em que ter tempo era natural e o usávamos para abraçarmos o mundo que acabaríamos por descobrir, parte dele acompanhados pela nossa alegada metade, mas a outra apenas desejando que a espera acabe para podermos prosseguir. Os dias eram começados e terminados em função dos sonhos que não temíamos sonhar, não até que os desatassem a aprisionar, um após o outro, alegando que os pés teriam que estar sempre na terra, como se voar não fosse já um sonho possível.
Vou-me lembrar de quando olhar-te bastava e o fazíamos por tanto tempo que até nos esquecíamos de respirar. Vou-me lembrar de todas as promessas que nunca chegámos a verbalizar, mas que confirmávamos quando apertávamos a mão que a nossa segurava achando que seria para sempre. Vou-me lembrar pouco do que dissemos, mas jamais tirarei de mim o que sentíamos enquanto nos perguntávamos se todos sentiriam assim e se amar era o estado do eternamente possível e do verdadeiramente inquebrável. Vou-me lembrar de acreditar que o nosso amor nunca seria como o dos adultos, até porque eles nem pareciam alguma vez ter amado, até quando tudo era inevitavelmente possível. Vou-me lembrar sempre de ti como o amor que deu início a todos os outros, mas seguramente que nenhum alguma vez carregou a inocência e a ausência do medo que agora me está tão colado como uma segunda pele. Vou-me lembrar sempre do início de tudo.
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