Acordaste-me como sempre fazes, devagarinho e a soprar-me as palavras que me deixam a sorrir antes mesmo de abrir os olhos. Beijaste-me com intensidade, como fazem os apaixonados e os que sentem nas certezas do amor as dúvidas que a falta dele provocam, e disso já sabemos ambos. Acariciaste-me o rosto que mantenho voltado para ti e por isso consigo ver nos teus olhos tudo o que os meus já conhecem e reconheceram desde o primeiro dia. Acordaste-me para que viaje contigo nesta vontade de unirmos os corpos como apenas nós sabemos, fazendo amor até que nos obriguemos a parar, regressando à vida que nos espera lá fora. Acordaste-me do sonho que te incluía, mas no qual dificilmente teria as sensações que me passas e sem as quais nada seria igual.
Quase que não me consigo recordar de quem era antes de ti e já nem me esforço para reconstituir as histórias, lugares e pessoas que deixaram de estar porque deixei de me importar. Amar só poderia ser assim, até porque me recusava a ter menos, sentindo em metades e precisando de me explicar para o que teria que ser claro como água. Sentir-te fez-me perceber tudo o que nunca havia sentido antes e o quanto estava adormecida. Ouvir as palavras que nem precisas de dizer, porque as usaste vezes que bastassem, deixa-me atenta a todas as partes de ti. Percorro cada pedaço de corpo que me pertence, fixando-me nos pontos que beijo para que te arrepies comigo. Enrolo-me, cansada, nos braços que me acolheram mal entendeste que a minha força era feita das fragilidades que me recusava a mostrar e entrego-me à única pessoa em quem confio.
Acordaste-me hoje como tens feito desde que a nossa história começou e mesmo que saiba muito pouco sobre o que ainda nos espera, não desisto de esperar pela generosidade da vida que nos juntou. Acordei com o som do amor que me tens, mesmo que cheio de silêncios, arriscando antever um futuro previsível, quieto e seguro, mas revolto o bastante para que nunca precise de ser de outra forma.
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