De que forma se remenda um coração partido? Para onde se reenviam as dores que nos parecem ter oferecido, mas que seguramente não pedimos e que não têm morada postal? Como se encara o amanhã e todos quantos virão depois de nos terem dado a provar o amargo sabor dum passado sem retorno?
Ainda sinto, acordada e a dormitar, os cheiros que te distinguem de todos os outros. No ar parece pairar o que me arrepia a nuca e me deixa com vontade de já não ter apenas vontade de ti, mas de te tocar e ter por perto. Sei do que me fala a mente e carrego, de forma bem determinada, a razão que me promete superar os delírios do coração. Vou e venho, jurando que te esqueci, mas a verdade é que continuo a lembrar-me de tudo de forma tão clara, que me recuso o inevitável falhanço que escolho acreditar não ter sido originado por mim. Ainda me chove na alma e até mesmo os dias de sol radioso escurecem de cada vez que pronuncio o teu nome.
De que forma te convenço a que uses os dias que ainda nos restam, para me ofereceres uma explicação que não permita dúvidas? Por onde andas agora que já não te oiço os passos e deixei de sentir o que sentias por mim? Como é que resistes a tudo o que representei na tua vida e para que lugares foges de ti, mesmo que sem qualquer sucesso?
Ainda estou aqui, não para que reatemos o que se quebrou, mas para que me devolvas a mulher que te ofereci e a quem deixaste partir. Ainda tenho guardadas as palavras que te sararão e me permitirão continuar, mas mesmo que pudesse, agora e hoje, mudar o que nos quebrou, vou continuar a permitir que tenhas nas mãos o fim que ditará um merecido reinício. Ainda estou aqui e sei que sabes.
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