17.4.23

Mente-me!



Olha-me nos olhos e mente. Diz-me tudo o que preciso de ouvir, mesmo que estejas a mentir, até porque mentir te desresponsabiliza do que possa vir a sentir. Afaga-me os cabelos enquanto descanso a cabeça no colo que deveria confortar-me, mas ainda assim mente. Toca-me, como apenas a ti permito e mesmo que não te saiba tocar dentro, finge que consigo e mente. Mente para me salvares do que escolhi acreditar e mente de cada vez que duvidar do que sei ser verdadeiro. Mente quando não souberes o que me responder e pergunta-me como estou, mentindo para mostrares que te preocupas. Mente que sentes tanto prazer quanto o meu corpo te mostra, estremecendo com os teus toques e com a tua recusa em te entregares. Mente para que me continue a mentir, enquanto empurro para a frente o nosso final e permaneço incapaz de te dizer a verdade que me corrói. Mente para que não tenha que te cobrar o que nos salvaria e mente-me porque ainda o consigo permitir. Beija a minha boca que procura a tua, esperando que o sabor me saiba ao amor que te sopro e que apenas me devolve as mentiras que te deixei construir, mas que me estão a destruir. Mente-me hoje, porque ainda me recuso a mover as partes de mim que já anteciparam o fim. Mente-me generosamente e acreditando também tu, que poderás continuar a fazê-lo.

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