Vivemos na cultura do exagero, da comparação e dos feitos que nem sempre são exemplares, mas que exemplificam bem a falta de valores, de caráter e de respeito pelo outro. Vivemos para nos mostrarmos, sendo vistos da forma mais redutora e errada, mas ainda assim vistos, porque ninguém parece querer estar, nem que por alguns momentos, no recato, no conforto e paz que deveria ter criado, mas que facilmente troca pelo caos e barulhos ensurdecedores. Vivemos sem referências e sem sabermos de que forma referenciar o que vamos fazendo e sendo para os outros, por norma desperdiçando o tempo que nos entregam os que têm tempo de qualidade. Vivemos para ir sobrevivendo aos nossos balanços, quedas e recuos, porque parecemos já não querer ou precisar de viver para mostrar o melhor que supostamente teremos recebido. Vivemos sem pensar no que sobrará no futuro, porque a não ser abruptamente interrompido, chegará, e a fatura será alta e por vezes impossível de saldar. Vivemos tão vazios, que esvaziamos os que nos preencheriam, tornando os dias mais brilhantes e as noites menos solitárias. Vivemos a esperar tão pouco em troca, que tudo o que vier será ganho. Vivemos cada dia mais sozinhos e solitários, recusando os silêncios que nos recordariam de quem já fomos, quando ainda eramos sãos, tolerantes e generosos. Vivemos a desperdiçar a única vida que nos coube e é por isso que pouco nos caberá quando já não houver nada que mereça ser vivido. Vivemos com tanta falta de amor, que nem conseguimos reconhecer os que nos vão entrando "porta" dentro. Vivemos porque estamos, mas estamos a viver tão pouco, que o resultado das somas serão apenas ainda mais subtrações.
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