Se não souber de onde devo beber para que a minha luz não se apague. Se não me conhecer melhor do que todos os outros, sabendo ao que sabe cada sabor, o novo, o que já provei e todos os que apenas provarei quando estiver realmente pronta, parte de mim apenas deambulará por aqui, à espera.
Muito do que poderá acontecer não passará só e apenas por mim, por vezes a luz ficará mais ténue e quase que se apagará, mas eu sei que nunca deixarei, nem por um minuto, que exista outro que me conheça assim, como me conheço eu, e que possa decidir por mim, levando-me, mesmo que para os lugares certos, se eu não souber que devo e tenho que ir.
Os dias serão como os fizer, mesmo que com ajustes, com avanços e recuos, mas sempre comigo ao comando, porque apenas eu poderei saber do que acontece em mim. Os dias até poderão ser mais duros para quem sente que sabe do que fala, mas a minha voz terá sempre que soar a mim, em cada timbre que também escuto com atenção, nas variações, nos tremores, nos medos e nas dúvidas que se instalam, inevitavelmente, quando a tristeza e a dor são mais poderosas do que tudo o que arrisquei escolher.
Se não me conhecer, o que disser, o que fizer, o que procurar e conseguir, nunca será da forma que reconhecem os outros, porque o que faz de mim esta mulher que estranha porque se entranha, não é o exterior, não são os olhares, nem tão pouco os lábios, são todos os pedaços que se juntam naturalmente.
Deixar-te ir? Como é que poderias viver sem as perguntas absurdas que te faço e sem os meus esgares de incredulidade quando me largas um elogio do nada? Não terias como, mesmo que o tentasses e se o fizesses os teus dias ficariam cinzentos. Adoro as tuas gargalhadas quando abro os olhos de espanto perante a tua capacidade de dizeres o que sentes e pensas.
- Mulher tu és boa, fico louco só de te imaginar.
Por norma este tipo de saída faria com que a minha boca se abrisse de espanto, a mesma que tu fecharias com um beijo quente, seguido de um - pareces uma menina às vezes. Fazes-me sentir que não sei nada e que lido mal com o meu lado de mulher demasiado sensual para o meu gosto, com uma pele que te enlouquece e te cola a mim como uma lapa.
- Do que tens medo afinal? Que fique louco de tanto de desejar? JÁ ESTOU! Não tenho como me comportar de forma normal porque não o és, ainda não percebeste?
Não dão por aí workshops do género, "Aceite-se como é" - Não? É que eu preciso de parar de tentar ficar invisível, até porque contigo nem sequer resulta. Quando não me podes olhar, mexes-me, passas-me as mãos suaves e determinadas até que não me consiga controlar mais.
- Caramba, pára de te sentires mal contigo, és fantástica, atreve-te, vais ver que te libertas e depois, ui, já te estou a imaginar solta, mulher e cheia de desejo de mim.
Vi assim escrito algures, "A pessoa que te ama será a única a conseguir ver lágrimas nos teus olhos enquanto todos os outros vêem sorrisos". Não será assim que todos quereremos ser amados? A outra metade de nós deverá ter a capacidade de nos ver por dentro, de ser o que mais nenhum outro consegue, de estar connosco mesmo que ausente, de dar sem condições e acabar a receber em dobro. Pedir até que sei como, mas já receber...
O que queremos, falo por mim, é ter do lado e em todas as frentes, quem saiba quem sou, percebendo o que poderá receber, em todas as fases da nossa caminhada conjunta. Eu não espero menos do que entrega e confiança. Entendo que lutar por quem queremos, fazendo o que for preciso, não poderá ser um sacrifício, nem uma batalha perdida. Dar como se espera receber, é uma regra básica e igualmente fácil de entender. Praticar a entrega, para que o outro se nos entregue incondicionalmente. Olhar de frente, sem fugir ao que nos assusta, perguntando para ser respondido. Sonhar em conjunto, antecipando momentos e lugares que poderão partilhar, em sabores que apenas conseguem os que falam a mesma língua. Ter um ser que se me assemelhe, não pode ser uma utopia. Eu vou continuar a acreditar e a esperar que me encontre.
"Preciso de alguém assim" - direi eu, mas a verdade é que precisamos todos, certo?
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.