Mentiras!
Sue Amado
março 10, 2017
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Fiquei a olhá-lo, quieta, deixando que apenas a cadeira de baloiço fosse espaçadamente abafando os gritos do silêncio.
Tentava em vão recordar-me o que me fizera amá-lo tanto, correr para os seus braços sempre que o avião aterrava. Mudando as minhas rotinas e deixando coisas por fazer e dizer. Eu prometera um dia amá-lo na saúde e na doença, jurara fidelidade, unira o meu coração ao seu, mas agora ansiava por alguém ou algo que me permitissem fugir, correr sem olhar para trás, sem ter que me explicar, sem dramas, sem pedidos de tempo e sem desculpas.
Brincava na areia com as filhotas e de quando em vez deitava-me um sorriso, um olhar, e eu acabava a sentir-me ainda mais miserável. Traíra-o, tivera outro homem na minha cama e coração e gostara, muito, mais do que me recordava jamais ter gostado com ele.
- Carolina ajuda-me amiga, já não sei como estar com o meu marido, aceitá-lo, fingir que o quero e que me dá prazer. Desculpa o desabafo, eu sei que tu e o Rui são o nosso casal modelo.
Como se enganava, as mentiras são tão fáceis de construir e acabam a agigantar-se a cada dia. Eu sei como eu fazia, fingia, pensava no outro, em outros e acabava mal comigo, com uma sensação de "sujidade" interior, sentia ódio do que me obrigava, dia após dia.
- Só temos esta vida. -Recordava-me a minha mãe vezes sem conta e eu acreditava agora que teria de a recuperar, à vida, aquela que me negara a mim mesma em nome de um amor que nunca chegou a acontecer.
Levantei-me, determinada, mais forte do que nunca, sabia ter chegado a hora, precisava de recomeçar a respirar, o meu espaço agigantara-se de repente e eu repetia baixinho que era agora, que queria e iria ter tudo.
- Rui, precisamos de falar...