Estou a olhar-te, vejo-te, mas não me mexo, não quero que percebas que estou aqui, sinto-me encolher até ficar invisível. Estás bonito, bem cuidado, oiço o som das tuas gargalhadas e elas doem-me por dentro, a tua felicidade já foi antes a minha, mas hoje tudo o que te move não tem o meu nome, não anda na minha direção, já não somos mais nós, és tu, com uma vida nova, és tu com as escolhas que fizeste e que não me incluem. Julguei que seria mais fácil, nunca me senti verdadeiramente dependente de ti até que me faltaste. Prometi que te traria de volta, mas baixei os braços, recusei-me a mendigar, a soltar as palavras que tantas vezes me pediste.
- Porque te custa tanto dizer que me amas? Porque és tu sempre tão distante, tão assustadoramente segura?
Mas eu não era assim, distante, fugia de ti sim, de ficar presa, de passar a precisar de ti para sobreviver, viver, sentir, querer, e apenas porque amar assim me assustava, não queria ser “addicted to love”, queria ter poder, mandar nos meus sentimentos, queria… até ao dia em que percebi que já o era e que a vida ficava vazia sem ti.
Passei a olhar-me ao espelho sem voltar a ver a mulher que impressiona tanto os outros, eu já não estava mais lá, fugira, nem sei bem para onde. Em tempos dissera que jamais alguém me perderia, me levaria a alma, me obrigaria a arrojar pelas sensações de desespero, a chorar pelos cantos baba e ranho de cada vez que não estivessem para mim, mas enganei-me, afinal sou humana, sou mulher, sofro e choro, caramba e como choro. Juro que inundei a casa, deveria ter armazenado a água para dias mais secos.
Noutro tempo e lugar iria rir de mim, dizer que eram pieguices, mas agora não falo, não reajo, deixo-me ir, resigno-me e enrolo-me à espera de que tudo passe, tudo o que me faz deixar de ser eu mesma. Afinal eras a outra metade que eu nem sabia que buscava, encontrei-te e só para te perder de novo. Que Gaja burra!
Finalmente levanto-me, conserto o vestido de corte elegante, afasto os longos cabelos que por momentos me mantiveram escondida de mim mesma e sinto os olhos que me seguem, sou sempre assim admirada e desejada, mas que pena sentiriam da mulher que me tornei se me vissem por dentro. Tu entretanto já te foste, de bem com a vida, bem acompanhado, a rir com aquele riso que tantas vezes ouvi, agora já te foste e uma vez mais desisti de querer, de pedir, de correr para o que representas na minha vida. Escolhi ficar aqui!
Estou a olhar o mar, perco-me na sua imensidão e estremeço, de medo, de frio, de ansiedade, de desespero. Como será que se sobrevive ao desamor? Como se recomeça? Por favor alguém que me tire a dor, me dê colo, me aperte e conforte. Tenho medo, tanto medo de acabar só, vazia, de nunca voltar a ter por perto quem me faça rir de mim mesma, de me soltar, de andar descalça e de sentir para além do que em vão sempre quis controlar. Eu não sou dona de mim, não mando em nada, nem sequer no meu coração, sobretudo nele!
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