De lá...


De lá não se volta! Não temos como voltar do lugar onde enterraram metade de nós. Não sabemos como tirar de dentro do buraco e do escuro, a esperança feita em pedaços minúsculos de vidro que só teriam porque se partir quando nos agarraram com uma força desmedida e nos fizeram perder o suporte.

Quando alguém se entrega, acreditando que poderia estar de alma aberta, sem camuflagens, usando e falando de todas as palavras, saindo da sombra, rindo-se à luz que surge, caminhando com passos seguros, em direcção a alguém e a algum lugar, fica tão vulnerável que se for magoado ou atingido numa luta desleal, numa entrega falsa, muito dificilmente sairá inteiro...

De lá não se volta, desse lugar obscuro onde se passa a questionar tudo. A sensação de medo claustrofóbico paralisa cada membro, prende até a respiração e deixa-nos a morrer, enterrados tão abaixo da terra, que escapar passará apenas pela capacidade de vermos mais para fora da bolha, como se uma mão estendida nos guiasse e nos puxasse com força. O corpo até poderá vir à superfície, mas o resto morrerá, como morto ficará até o olhar, a capacidade de voltar a acreditar e a coragem de sentir o que nos matou antes.

De lá não se volta, fica-se morto-vivo,
 e até os que se achavam fortes perceberão que apenas salvaram metade, porque tudo o resto, o que faria a diferença, o que existia para completar e para acrescentar de forma a que nunca se duvidasse, permanecerá lá, durante o tempo que o nosso tempo entender!

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