Ainda me lembro da miúda que fui, de todos os planos que tracei e dos lugares onde estive, achando que me definiriam. Ainda me lembro de quando sonhava, livremente, sem que nada ou ninguém me pudesse demover do que seria TÃO certo e de tal forma seguro, que seguramente não teria como imaginar a mulher que me tornaria. Ainda me lembro dos silêncios que procurava, alimentando-me do que me impedia de ouvir, porque os outros não pareciam ter nada para me dizer, nada do que me enchia e preenchia, sabendo, já então, que sabia mais do que era suposto. Ainda me lembro de querer rebater o que me soava a errado, mas encolhendo-me no lugar, tempo e momentos que melhor falavam de mim e comigo. Ainda me lembro de querer TUDO, achando que o conseguiria.
Lá, na parte da vida que me deixei viver, por vezes de forma desafiadora, forçando as minhas verdades e ignorando as dos outros, talvez porque a língua fosse diferente e a linguagem me soasse mal. Lá, enquanto me preparava para o que apenas eu sabia ser possível, vivi e rebati e incapacidade dos que queriam tudo programado, certo e seguro, como apenas são as vidas às quais se sobrevive, mas que eu esperava viver em pleno. Lá, quando fazia imensas perguntas e não recebia de volta as respostas que me tirariam as dúvidas, tratei de me informar do que o mundo teria para me oferecer. Lá e nem sempre enquanto estava a ser, achava eu, a minha melhor versão, também fiz escolhas erradas e erradamente deixei que na minha vida, ao redor do que teria que ser o meu "lugar", ficassem uns quantos, vazios do que precisava e tão cheios do que nunca me serviria. Lá, cresci, tornei-me mais forte, ainda mais resiliente e segura de toda a insegurança com a qual teria que lutar. Lá, sempre e tão sozinha, que passei a ser a minha melhor companhia.
Ainda me lembro de me rir do que hoje nem me arrancaria um sorriso, fingindo o que nunca poderia ser, mas também foi lá que me parei, no preciso momento em que já não me voltaria a parecer com a pessoa que via no espelho e que me refletia por dentro, da forma que jamais alguém foi capaz de ver.
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