Estarmos na mesma sintonia, passando pela mesma onda e no mesmo momento, é tão raro agora como o será sempre acertar nos números do euro milhões. Sabermos que gostamos do que gosta o outro e que conseguiremos seguir pelos mesmos caminhos, mesmo que não saibamos quais serão, faz-nos querer mais e tudo. Sentir os mesmos impulsos que nos levam a desejar que os dias nunca terminem e que não precisemos de fechar os olhos deixando de ver quem nos olha, é o que precisamos para continuar a querer.
Mal-me-quer, bem-me-quer. Quero o que queres e espero conseguir manter-nos assim, um no outro, até que querer seja tão natural como ser. Ninguém disse que seria fácil ajustar, confiar, perceber do que percebe o outro e sobretudo juntar vidas e projectos. Ninguém nos explica os meandros de relações novas após as relações que nos marcaram. Ninguém resolve por nós os timings que teremos que incorporar, permitindo que o outro entre e permaneça na vida que criámos.
Temos que começar pelo princípio, gostando muito de quem queremos que goste de nós. Depois é ir caminhando, juntos, encontrando soluções, abrindo mais portas e tentando não ceder aos primeiros impulsos, aqueles que nos gritam para desistirmos de cada vez que as coisas se complicam.
Mal-me-quer, bem-me-quer, muito, pouco ou nada?
Querer só não basta, há que saber como o fazer sem que pareça demasiado a quem já tem o que lhe baste, ou pouco a quem nunca teve nada. Mas se for para querer mal, então que não se queira de todo.
Lá vamos nós, a mais um dia, de alguém ou alguma coisa. Pelo menos serve o propósito de nos lembrar do que não deve ser esquecido, se é que tal é possível!
O dia dos que contam e que por norma são poucos, mas que queremos bons, estando presentes até na ausência física. O dia dos amigos, dos que soubemos manter, construindo, dia após dia os alicerces e reconstruindo as derrocadas, porque também existirão. Os amigos que nos ficam, depois das inúmeras tempestades emocionais, já sabem como nos ler, rindo com o nosso riso e chorando com as lágrimas que passam a ser as suas. Os amigos que sobrevivem à nossa passagem pelos vários estágios de uma vida que nos testa, ao limite, sabem de nós tanto quanto sabemos. Os amigos que ficam quando tudo se desmorona, ajudam-nos a reerguer e seguram-nos, mesmo que por breves momentos, mas que no fundo serão os que fazem a diferença.
Sei que tenho os amigos que fiz por merecer. Tenho acrescentado alguns, de mansinho, com todas as exigências que me imponho e é por isso que apenas resistem alguns. Sou, e disso não tenho a menor dúvida, a amiga que todos gostariam de ter e desmultiplico-me em palavras e colo para que nunca se sintam demasiado sós. Espero que nos vamos mantendo durante todo o tempo que o nosso tempo durar e que continuemos a celebrar cada vitória, mesmo que ela seja tão só estar vivo e por aqui.
Na nossa vida teremos sempre dias importantes que nos marcam para o bem e para o mal. Na minha vida passaste a estar tu, bem como o dia em que comecei a olhar-te de outra forma. Desde que te tenho o que ficou para trás passou a ter menos importância, mas o nosso passado trouxe-nos até aqui e hoje, seis meses depois, com tanto que já se disse, sentiu, chorou e riu, recordar só nos pode deixar com vontade de muitos mais dias dezanove. Sabes a importância que tens na minha vida e não me canso de te dizer que sem ti nada poderá voltar a ser igual. Contigo percebi que nada é impossível e que o amor torna tudo tão fácil e difícil, mas que apenas juntos poderemos usufruir do que nos faz bem, afastando o que nos magoa.
Quero que te mantenhas aí e aqui, confiante na confiança que passei a ter em nós. Quero que saibas que te tornaste a razão pela qual me sinto capaz de mudar até de planeta. Quero que sintas o que sinto eu de cada vez que te oiço, com a voz que me entra dentro tal como fazes tu, no meu corpo e alma. Quero que não me deixes ir e que me peças para ficar, uma, duas, mil vezes, até que eu fique mesmo e para sempre.
O mundo exige demasiado de nós. As dúvidas e os ajustes avolumam-se, mas da mesma forma que não sabemos o desfecho, também mantemos o desejo de que sejamos, um e outro, o que um e outro precisam. Quero apenas que me ames como já fazes e que nunca te afastes demasiado de nós, porque apenas nós podemos tudo. Mesmo que por vezes cansados e sem saber o que nos trará o amanhã que queremos criar, vamos conseguir o que importa, porque apenas importará continuar se estivermos os dois.
Quero-te e sei que o sentes. Amo-te e já podes entender porquê!
Sinto o que sentes. Respiro o teu ar e misturo-o para manter o meu mais limpo. Deixo o meu sono desassossegado de cada vez que não dormes. Sinto-te assim porque tenho metade de ti comigo e porque não me consigo distanciar demasiado.
Ter os teus medos de cada vez que ameaças ruir, pela insegurança que te passo mesmo quando acho que estou a ser segura. Ter os teus medos, porque pareço não fazer o bastante para que nunca duvides que a minha vida passa pela tua e pretende ficar. Ter os teus medos para que eu saiba mesmo o que significa estar no teu lugar.
Não consigo ter qualquer prazer com o alegado sentir que te passo, porque se não estiveres bem eu não poderei ficar. Não quero, em momento algum, que o desconforto se apodere de ti, porque se eu sou a mulher que escolheste e reconheceste, então sou a certa para ti. Um casal são dois, em tudo e para tudo e é por isso que ter os teus medos será sempre inevitável.
Deixa-me sossegar-te por favor e larga cada um dos medos que acabam por nos assustar aos dois!
Por vezes deixam-te assim, sem nada de ti dentro. Por vezes conseguem colocar-te no teu lugar, lembrando-te da tua importância, que será nenhuma aos olhos dos que ainda acreditam não precisar de ninguém. Por vezes fazes e dás de ti, tudo, sem esperares que te devolvam algum carinho ou palavras de reconhecimento, mas precisando desesperadamente dele. Por vezes seres tu, dia após dia, torna-se uma batalha bem dura de gerir.
Esventrada serás de cada vez que ousares parar de pensar em ti. Esventrada até que te desgastes, para sempre, sempre que não souberes cuidar-te, dando-te o que mais ninguém consegue, porque mais ninguém se importa. Esventrada até que já nada se possa fazer, e acabes morta, mas não das que permitem descanso e o desligar do que te fez afundar, numa morte bem mais real e dolorosa, porque te manterás por aqui, apenas tu, sozinha.
Ergue-te, por ti, põe-te de pé, mesmo que sigas a cambalear os primeiros passos, mas começa pelo princípio, volta atrás no tempo e faz bem feito. Nunca te deixes ir, permite-te fazer, mesmo parte da tua vida e conta a tua própria história, usando de quantas paragens necessitares. Não deixes que o frio te invada e não te encolhas demasiado, escondendo-te da vida e de todas as emoções boas que ela carrega, se ao menos as souberes viver. Esventrada se não fores, em momento algum, a personagem principal. Esventrada se te deixares ir, sem lutar, sem acreditares que quando a história for contada, poderás lá estar. Esventrada sempre que deixares de te amar!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.