O que te posso desejar? Posso, sem qualquer problema, desejar que tenhas muito amor , tanto que não sejas capaz de respirar sozinho. Posso e quero desejar-te felicidade sem nuvens, entrega sem cobranças e tempo, tempo envolto sobretudo em todo o tempo que consigas para parares de duvidar,de ti. Posso desejar que não tenhas amores amargos, porque eles resultam em sensações que não se descrevem, que não se identificam e que acabam a morrer mal nascem. Amores que ficam apenas na metade que sobra deixando o outro em suspenso. Amores que não alimentam, apenas desgastam. Mas não vou dificultar nada, não vou desbaratar mais palavras das que te têm impedido de resolver o que aparentemente não consegues sozinho. Não te vou pedir que escolhas, ou que decidas para que lado da vida olhar, até porque sei que não me irias escolher a mim. O que te posso desejar? Coragem e determinação para terminares com o que te magoa, seguindo para quem ainda te espera. Posso desejar que continues por onde sempre andaste e que tenhas, outra vez, em qualquer momento da tua vida, o que eu já fui capaz de te dar!
Ter tempo e energia para cada projecto, canalizando-me da forma certa, é o meu desafio diário. O verão arrasa com cada pontinha de ânimo, porque sou o oposto de muitos, prefiro o frio, aquele que se instala como um bichinho que não pára e que não tem forma de ser sossegado. Gosto da energia com que acordo mesmo que precise de me embrulhar em mim mesma e nas mantas que me recordam de que estou na época mais longa, aquela em que também permaneço mais longamente activa. Ter tempo e energia para chegar a todos os lados, não descurando nenhum, já é um desafio ultrapassável. Sei como me encaixar e o que fazer para que tudo o que deve ser feito, o seja mesmo.
Não consigo entender quem se arrasta, diariamente, entre assuntos por resolver e projectos por delinear. Primeiro que tudo há que querer, depois planear e executar em tempo útil o que fomos deixando amadurecer. Tempo, ele existe na proporção do que precisamos, apenas temos que o saber aplicar e incluir no que somos e fazemos. Tempo para sermos, nós, para nos mostramos aos outros e também para ficarmos no nosso cantinho, nem que seja a remoer sobre o que ainda não fizemos, mas tempo para termos tempo, para nós e para quem importa.
Tempo e energia, a combinação perfeita para que tudo o que deve ser feito o seja realmente!
Não, não foi fácil e já nem sei dizer se valeu a pena...
Nunca nada é fácil, seja nos começos, nos meios que prolongamos sem fim à vista, seja quando termina mesmo. Não é fácil lutarmos contra fantasmas, procurando esqueletos em armários fechados à chave. Não é fácil libertarmos quem se aprisionou emocionalmente e passou a duvidar até da sombra. Não é fácil apagarmos amores mal vividos e entregas que não resultaram.
Não foi fácil sair de mim e deixar de lado cada reserva envolta nos receios que tinha de não ser apenas eu, porque alguém iria certamente pagar os meus custos. Não foi fácil baixar as defesas e forçar-me a acreditar em quem senti, tão dentro de mim que acreditei ter chegado o momento. Não foi fácil deixar-me apagar para que outra luz, pequena e trémula se mantivesse. Não foi fácil amar sozinha, mais de metade do tempo, sentindo a insegurança invadir-me, dividindo cada respirar e não podendo descansar a cabeça, porque o ombro nunca ficava nem se mantinha. Não foi fácil aceitar que apenas iria ter pedaços distantes e com sabores que nem conseguiria saborear, porque terminavam antes de começar. Não foi fácil esperar, pacientemente, para que me dessem um nome, um lugar e uma importância, mas assim mesmo nunca parei de lutar e de acreditar.
Não saber o que andei a fazer tanto tempo, para onde e por quem me perdi, forçou-me a uma tristeza que arriscava consumir-me, deixando-me totalmente inutilizada. Não saber quem foi que achei ter encontrado, faz-me duvidar de cada célula do meu corpo, quase desconstruir o que tanto fiz por ser.
Não foi fácil ter permitido que me magoassem, mas certamente que já paguei o custo de tanta veleidade. Não foi fácil, mas pelo menos tentei. Não foi fácil, mas fui eu o processo todo e acabei a gostar ainda mais de mim. Não foi fácil, mas sei que fiquei pronta!
O que acho certo, o que me serve, sendo a que acredita poder desenvolver e crescer diariamente, é manter-me fiel a mim mesma. Não uso ninguém, não me alimento do que me podem dar, para que não fique perdida, nem em desequilíbrio quando saírem da minha vida, porque sermos prisioneiros de sentimentos é algo que não concebo, sobretudo quando a razão da nossa prisão for quem se sentir incapaz de nos reconhecer. Entregarmo-nos a alguém que nos abandone emocionalmente por não saber de que forma nos construímos e o que tivemos de ser como somos hoje, ou entregar o melhor de nós a quem cobrará cada respirar, desgasta-nos e entristece-nos a alma.
Não queiram menos. Não aceitem meias entregas. Não respeitem quem não sabe de que forma respeitar-vos. Não desbaratem os vossos sentimentos, se sentirem que nunca terão valor o bastante.
O que acho certo na relação entre as pessoas, é a procura em melhorar. É o querer em sintonia e é o lutar pela felicidade do outro. O que acho certo é sermos capazes de nos perdoar as incapacidades, permitindo que nos perdoem os erros graves. O que acho certo é amar incondicionalmente, porque de outra forma amar não terá sabor. O que acho certo e exijo, é que saibam o custo de tudo o que dou, porque apenas assim terão forma de me dar de volta. O que acho certo é não ter que me desculpar pelo que não faço. O que acho certo, para cada um de vocês, é que apenas mantenham do vosso lado e para sempre, quem quiser realmente ficar.
Nunca teremos a verdadeira dimensão da influência de algo em nós, até que um dia, do nada, acabemos a perceber o que foi que accionou o rastilho. Tive, há algum tempo atrás, a noção de que fui verdadeiramente tocada por uma personagem fantasiada, mas que poderia bem ter existido, tal como existo hoje. A Jo Marsh do romance as Mulherzinhas, representava a menina que quase fui, porque era igualmente voluntariosa, determinada e virada para as palavras. A Jo era a mais forte das irmãs e para quem não leu o livro, posso contar que se tratava de uma família constituída por 4 meninas, pela mãe e por uma doce empregada. Tinham ficado as 6 para trás, a segurar os despojos de uma guerra para a qual o pai partira. Foram tantas as aventuras e as lições de vida, que quem como eu leu o livro, não poderá ter ficado indiferente.
Eu a escritora, a que se denomina assim, porque sempre se sentiu capaz de juntar letras, dando-lhes significado, sou diariamente influenciada por diversas histórias, personagens, desejos e sonhos que acabo a juntar e a reconstruir. Eu a escritora, sei que não poderia ter sido outra coisa, mesmo que já tenha sido muitas outras. Eu a escritora, vou a cada dia permitindo que tudo o que amealhei no meu banco de memórias, me forneça o combustível que me alimenta. Eu a escritora, sinto que posso finalmente começar a usar tudo o que me fez assim, para poder partilhar sem defesas e sem filtros, com todos os que me vão lendo, porque de outra forma não serei eu.
Incrível como por vezes precisamos de tão pouco para sermos muito!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.