Estremecerde prazer, dos únicos toque que o nosso poderá aceitar. Estremecer de antecipação de cada um dos sonhos que não tivemos receio de sonhar. Estremecer de certezas, mesmo que nada possa ser certo.
O que significa afinal estar vivo? A que fonte poderemos ir beber de cada vez que a nossa vez chegar? Quem seremos a cada caminhar, mesmo que de forma mais lenta? Ser levada nos teus braços, ouvindo o teu coração bater por mim e comigo, é o que me fazestremecer. Perceber que o teu olhar se enche com a minha visão e que estarei tão presente quanto me conseguir fazer passar, é o que me faz estremecer. Amar-te e sentir-te tão dentro que mais não seja possível nem passível de aguentar, é o que me faz estremecer.
Sou muito, tanto quanto achar que devo e preciso para que sejas também tu o mais que me faz falta. Sou a que apenas deseja o toque que faz sentido, porque é o teu. Sou a procura de mais e melhor, porque de cada vez que o consigo, vencemos os dois e acabamos num tremor que contagia e pede mais.
Estremecer de prazer, isso sim é estar vivo e sei que estarei enquanto te sentir!
Quando percebemos, passou-se mais uma hora, o dia correu, inteiro e o final da semana veio a uma velocidade inacreditável. Quando percebemos, cada mês, um a um, envolveu mais um ano e a todos eles, ano após ano, a meia década bateu, violenta e sem qualquer contemplação. Quando percebemos, o nosso sorriso já está carregado de mais rugas e o olhar perdeu o brilho de outrora, não porque tenhamos decidido brilhar menos, mas porque a inocência, os sonhos e a veleidade de acreditar, se esfumou.
Meio século de muito, de tudo o que foi possível acumular. meio século de muitos amores e de algumas desilusões pelo meio. Meio século vivido pelo meio, porque apenas usei e avaliei metade. Antes do meio de alguma coisa, não sabia como estaria, não como estou agora. Meio século de tantos desejos por concretizar, mas de tantos outros já embrulhados e prontos a serem vividos.
Quando percebemos, somos mais, mais velhos, mais sábios, mais intolerantes, ou mais capazes de aceitar tudo o que fizemos chegar. Quando percebemos, e nunca percebi, como hoje, que já tenho metade de vida vivida, quando ainda não sei quanta mais poderei viver. Quando percebemos, e percebi eu, as escolhas de antes passarão a ser cobradas, a partir de agora e para a frente, para o tal do futuro que ainda quero ser capaz de ver.
Não vou estar para sempre, não vou ser sempre como hoje, nem terei, sempre as forças que hoje ainda me impelem a seguir em frente, mas vou estar alerta, viva e cheia de tudo o que me enche e deixa feliz.
Quando percebemos, estamos outra vez na mesma rua, na mesma esquina, na mesma parte da vida na qual ficamos à espera, até que a espera termine. Quando percebemos, já não somos mais nós, mudámos, tão rápido quanto mudaram os minutos que a hora conquistou. Quando percebemos, terminou, terminámos...
Não sabemos, não nos preparamos e nem sequer temos forma de avaliar. O amor leva o tempo que precisa para se revelar e instalar.
Quanto tempo levamos nós a reconhecer sentimentos mais fortes, mais intensos e que nos cegam até que ver seja apenas por dentro? Quanto tempo leva, o outro, o que colocamos no topo da lista, a perceber o que percebemos nós? Quanto tempo leva, a coragem a deixar-se amedrontar, mas de um medo bom, aquele que faz tudo renascer?
Não haverá forma de escapar à dor, aos medos e às dúvidas. Não haverá forma, no depois, de estares, totalmente, protegido, porque o melhor do amor é o percurso e não o final.
Talvez fossemos mais felizes se não esperássemos e se não antecipássemos cada uma das emoções que nos passa o sentimento mais poderoso do planeta. Talvez tudo se revelasse mais simples se apenas o deixássemos acontecer, devagarinho, sem planos elaborados, porque nunca será possível planear demasiado. Talvez arriscássemos mais, ou menos, se corpo e mente entrassem em acordo e entendessem que não existe tempo, não um que já esteja determinado, aqui, onde estamos nós.
Não sei quanto tempo leva, mas sei que chega, para cada um, à sua medida, a que até poderá não encaixar ou parecer certa, mas chega...
Ela está a matar-me e sabe que não é justo. Ela é linda e deixa-me a ferver por dentro, tal como ferve o meu corpo quando a toco. Ela é o que esperava e significa cada escolha, todos os avanços e recuos. Ela faz tudo valer a pena. Sou o homem que ela escolheu. Sou quem olhou e aceitou no minuto seguinte. Sou quem a vê adormecer e acordar. Sou quem a conhece, de beicinho, ou de riso rasgado. Sou o homem que a reconhece pelo cheiro, pelo caminhar e até no escuro.
Gosto da mente, do corpo. Gosto até do que não gosto, porque acaba a significar tão pouco. Gosto de gostar dela e de como me faz gostar do que sou para que goste igualmente de mim. Gosto que quase me mate de um amor que se multiplica como insectos num verão escaldante. Gosto de lhe dizer tudo o que consigo dizer, tanto quanto gosto de gostar do que deixo por dizer, para mais tarde, para o futuro que só poderei ter porque é ela.
Sim é ela já o percebi, tal como percebo que nunca deixará de ser, porque a acontecer já não voltaria a ser eu!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.