Saber perdoar também é um acto de amor. O perdão, sobretudo o nosso, é um exercício nada fácil e que leva algum tempo a concretizar. A tendência será, quase sempre, a de não nos perdoarmos os erros, as distracções e a incapacidade de ler sinais. O perdão implica aceitarmos que não nos conduzimos de forma coerente e que facilitámos ao ponto de nos estatelarmos no chão, mas quem é que nunca cai? Quem é que nunca erra? Quem é que nunca acredita que sabe o que faz e que se conhece o bastante para não errar?
Apenas o tempo nos poderá serenar a alma e com ela virá o perdão natural, o "nunca mais", ou o "para a próxima", também são estágios naturais, mas rapidamente, mais para os que não usam de mágoas para magoar, serenamos o bastante para perdoarmos o mundo por não ser perfeito e nós como ele. Saber perdoar quem não nos soube amar à nossa maneira, porque certamente o terá feito da sua. Saber perdoar a falta de entrega, ou a entrega em demasia. Saber perdoar a indiferença que se instala mal nos sentimos desconfortáveis. Saber perdoar, porque nem sempre se sabe.
Estou pronta para me perdoar de cada vez que erro, não é imediato, preciso sempre de rever cada passo e de analisar para não me repetir, mas perdoo-me porque preciso de continuar a viver. A ti, tu, tu e ainda tu, quem quer que sejas e já tenhas passado pela minha vida, também te perdoo por não me saberes perdoar!
É difícil calarem-me sempre que tenha alguma coisa para dizer, dúvidas para esclarecer e sons para reconhecer, as palavras jorram-me porque pará-las será parar-me de sentir, de respirar e de permanecer.
Que triste tem sido perceber que afinal sou uma mulher difícil e que não tenho um modelo que encaixe nos que existem já. Bicho raro. Ser de outro planeta. Personagem mitológica ou tão somente algo ainda por classificar. Não gosto, não me sabe bem que não saiba a nada conhecido ou por conhecer, que tenha mais amargo que doce e que o que passo afinal nunca chegue a passar. É doloroso, tanto, que me deixa dorida grande parte do meu tempo útil, sentir que sou para os outros,o que nunca vejo. Se ao menos o tanto que falo e as milhares de palavras que uso bastassem, saberia o que dizer e como me explicar. Mas por esta altura o mas significa que afinal falo demais e em código.
O que se sobrepõe às minhas palavras, com um efeito mais devastador e a finalizar o que as palavras não conseguem? O meu silêncio, porque depois de instalado, tudo o que poderia desejar explicar morre com ele e morro logo de seguida...
Estremecerde prazer, dos únicos toque que o nosso poderá aceitar. Estremecer de antecipação de cada um dos sonhos que não tivemos receio de sonhar. Estremecer de certezas, mesmo que nada possa ser certo.
O que significa afinal estar vivo? A que fonte poderemos ir beber de cada vez que a nossa vez chegar? Quem seremos a cada caminhar, mesmo que de forma mais lenta? Ser levada nos teus braços, ouvindo o teu coração bater por mim e comigo, é o que me fazestremecer. Perceber que o teu olhar se enche com a minha visão e que estarei tão presente quanto me conseguir fazer passar, é o que me faz estremecer. Amar-te e sentir-te tão dentro que mais não seja possível nem passível de aguentar, é o que me faz estremecer.
Sou muito, tanto quanto achar que devo e preciso para que sejas também tu o mais que me faz falta. Sou a que apenas deseja o toque que faz sentido, porque é o teu. Sou a procura de mais e melhor, porque de cada vez que o consigo, vencemos os dois e acabamos num tremor que contagia e pede mais.
Estremecer de prazer, isso sim é estar vivo e sei que estarei enquanto te sentir!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.