TANTO que cabe no meu coração, cada dia mais! No meu coração cabem as pessoas que aprendo a amar um pouco como a mim mesma, porque a verdade é que me amo mais. No meu coração ficam até os que não aprenderam a amar-me da mesma maneira. No meu coração não ficam lascas, nem dores eternas, preciso dele livre e tranquilo porque dependo do seu bater. No meu coração estão os amigos de sempre, a família que me mantém, também ela num lugar especial. No meu coração cabe o meu mundo e que grande ele se tornou...
Quem conhece a sensação de fechar os olhos e de sorrir sem plateia, sem que existam sorrisos de volta, apenas com a certeza de que estamos realmente de bem connosco? Chamo a isso de paz, de serenidade e aceitação. Aceito as minhas imperfeições e reconheço os passos que vou dando, uns mais seguros do que outros, mas sempre a seguirem na mesma direcção. Sereno-me sempre que arrisco magoar-me por não entender, sobretudo por não me entender, porque apenas quieta sou capaz de arrumar o coração.
No meu coração já couberam amores possíveis e impossíveis. Já esteve tão cheio que quase não bombeava o sangue que me permitia funcionar, mas também já o deixei tão vazio que poderiam caber todas as estrelas, até as que não estão visíveis. No meu coração já tive mágoas temporárias, mas escolhi sempre resolver o que o poderia fragilizar e por consequência a mim. No meu coração caberá sempre mais amor, mais felicidade e mais certezas de que só estarei realmente viva se o alimentar. No meu coração ainda continuas a caber "tu"!
Saber perdoar também é um acto de amor. O perdão, sobretudo o nosso, é um exercício nada fácil e que leva algum tempo a concretizar. A tendência será, quase sempre, a de não nos perdoarmos os erros, as distracções e a incapacidade de ler sinais. O perdão implica aceitarmos que não nos conduzimos de forma coerente e que facilitámos ao ponto de nos estatelarmos no chão, mas quem é que nunca cai? Quem é que nunca erra? Quem é que nunca acredita que sabe o que faz e que se conhece o bastante para não errar?
Apenas o tempo nos poderá serenar a alma e com ela virá o perdão natural, o "nunca mais", ou o "para a próxima", também são estágios naturais, mas rapidamente, mais para os que não usam de mágoas para magoar, serenamos o bastante para perdoarmos o mundo por não ser perfeito e nós como ele. Saber perdoar quem não nos soube amar à nossa maneira, porque certamente o terá feito da sua. Saber perdoar a falta de entrega, ou a entrega em demasia. Saber perdoar a indiferença que se instala mal nos sentimos desconfortáveis. Saber perdoar, porque nem sempre se sabe.
Estou pronta para me perdoar de cada vez que erro, não é imediato, preciso sempre de rever cada passo e de analisar para não me repetir, mas perdoo-me porque preciso de continuar a viver. A ti, tu, tu e ainda tu, quem quer que sejas e já tenhas passado pela minha vida, também te perdoo por não me saberes perdoar!
É difícil calarem-me sempre que tenha alguma coisa para dizer, dúvidas para esclarecer e sons para reconhecer, as palavras jorram-me porque pará-las será parar-me de sentir, de respirar e de permanecer.
Que triste tem sido perceber que afinal sou uma mulher difícil e que não tenho um modelo que encaixe nos que existem já. Bicho raro. Ser de outro planeta. Personagem mitológica ou tão somente algo ainda por classificar. Não gosto, não me sabe bem que não saiba a nada conhecido ou por conhecer, que tenha mais amargo que doce e que o que passo afinal nunca chegue a passar. É doloroso, tanto, que me deixa dorida grande parte do meu tempo útil, sentir que sou para os outros,o que nunca vejo. Se ao menos o tanto que falo e as milhares de palavras que uso bastassem, saberia o que dizer e como me explicar. Mas por esta altura o mas significa que afinal falo demais e em código.
O que se sobrepõe às minhas palavras, com um efeito mais devastador e a finalizar o que as palavras não conseguem? O meu silêncio, porque depois de instalado, tudo o que poderia desejar explicar morre com ele e morro logo de seguida...
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.