Cuidas de mim? Sempre o quiseste fazer e de alguma forma até que conseguiste, porque querer muito alguém, incluindo-a no que é mais importante, é uma forma de cuidar. Cuidas de mimse tepedir? Olhas mesmo para mim se te olhar? Mantens-te atento ao que digo quando não falo e aos silêncios que por vezes deixo instalar-se entre nós? Consegues manter as águas calmas, afastando-nos da agitação que por vezes provocamos sem percebermos?
Não sei quem cuida de quem. Não sei se temos forma de o fazer, mesmo quando acreditamos que sim. Não sei como se deixa passar o que nos arrepia, num medo que parece bem real e que nos impede de cuidarmos de nós em primeiro lugar. A escuridão que se instala quando não sabemos o que fazer e como fazer para cuidarmos de quem tanto quer cuidar de nós. A mentira que se diz por não sabermos o que dizer, vai minando os momentos que já julgávamos apenas nossos e arranca-nos do sonho, atirando-nos violentamente para a realidade.
Cuidas de mimpor favor? Não quero pedir, não quero ter que te mostrar que preciso, apenas quero que saibas como cuidar de mim até quando falho cuidar-te. Cuidas de mimse te pedir e quando achar que terei que o fazer para que estejas atento? Cuidas de mim? Prometo que também saberei como cuidar de ti.
Temos que viver a vida descomplicando sempre que nos sentirmos tentados a complicar. Precisamos de a entender e de a levar de forma mais ligeira, mesmo que séria. Devemo-nos encher de vida para melhor enfrentar a vida que nos entra porta dentro, implacável e determinada, tanto quanto precisamos de o ser. Nada é fácil neste nosso percurso. Nada é determinável, ou pré-estabelecido. Nada vem com modelos personalizados, teremos sempre que nos adaptar, mudando o que não nos servir. Mas também acabaremos a perceber que nada será tão difícil que não consigamos resistir.
A vida é um bem demasiado precioso para ser desvalorizado, descartado ou simplesmente posto em stand by, à espera do que muito provavelmente acabará por não chegar, pelo menos não como prevíamos, ou desejávamos, mas certamente que da forma certa e que se adaptará de forma perfeita em nós. Viver a vida todos os dias, começando e recomeçando, adaptando e mudando, é por si só um desafio que nos faz acordar mais determinados e correr mais velozes. Isto obviamente para os que não desistem e para os que resistem de forma estóica a cada recuo. Estar na vida, nesta, a nossa, carrega olhares por vezes desfocados, medos infundados, mas muitos que se materializam, porque viver é deixar acontecer até o menos bom.
Não podemos desistir, cair sem levantar, ou olhar demasiado para trás. Temos que saber viver enquanto vivemos, fazendo o máximo que todos os momentos nos permitirem, porque apenas assim valerá a pena. A vidaé isto!
Esta sou eu e isto é tudo o que sei. Escolhi viver assim, sendo quem reconheço de cada vez que me olho, não deixando que o coração controle a minha mente, impedindo-me de recuperar das quedas inevitáveis. Esta sou eu agora, desde que sou contigo e por ti. Sei que as forças por vezes quase ameaçam abandonar-me, mas também sei que preciso de todas elas para não ter que te dizer adeus. Alguns sonhos terão, em algum momento, que deixar de os ser e percebo, a cada dia mesmo com idas e vindas, que é mais o que nos une, do que aquilo que chega, ameaçador, para nos afastar.
Cada viagem tem um começo mais ou menos desconhecido, mas à medida que vamos continuando, devemos forçar-nos a saber o que esperar, a cada paragem, sempre que não seja possível continuar, mantendo-nos, firmes, até que chegue o próximo transporte e nos leve. Cada momento, até os que não conseguimos viver, vão, apagam-se e não conseguem ser recuperados. Cada palavra mal usada, ou em demasia, serve-nos para o propósito que lhe quisermos dar, e mesmo que saibamos, sem qualquer dúvida, tudo o que nos une, por vezes também entendemos que até nos pode separar.
Este novo encaixar, o unir de duas pessoas, em outras vidas, as que já existiam e as que vão acontecendo bem diante de nós, sem que as possamos evitar, vem sempre com umas quantas provas, bem duras por vezes e a testarem cada gostar que dizemos sentir. Se ao menos pudéssemos saltar etapas, "aterrando" no lugar que sentimos ser o certo e o único onde nos manteríamos, porque imaginarmo-nos de volta ao eu, depois do nós que nos encheu de tudo, pode ser demasiado doloroso e solitário. Não o quero, tal como não o desejas, até porque sabemos, ambos, que é bem mais o quenos une do que o que nos separa e é assim que queremos ficar, onde estamos já, aqui!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.