Orgulhosamente só!
Sue Amado
outubro 17, 2016
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Quem é que afinal fica nos meus momentos segurando as minhas mãos que sempre parecem firmes, que cuidam, acariciam, limpam e carregam todo o peso da vida? |
Estou aqui quieta, a ouvir a música da Celine Dion "Because you loved me" e a pensar que bom que seria ter quem se importasse verdadeiramente, quem me permitisse parar de ser forte, quem me deixasse repousar corpo e mente e fizesse acontecer por mim, vendo o que sempre vi e que vendo soubesse para onde quero e preciso de ir. Quem é que me conhece para além do que mostro, sem me apelidar de dura e de demasiado determinada? Na verdade não há ninguém, porque ninguém viveu ao meu lado tempo suficiente para acompanhar o meu crescimento e ao contrário da canção, nunca ninguém foi a minha força quando fraquejei. Ninguém viu por mim quando ceguei, mostrando-me por onde ir e falando quando me silenciei, quando não consegui articular as palavras que me sarariam por dentro. O meu mundo, infelizmente, não é um lugar melhor por causa de alguém por quem tanto esperei, nos dias em que me apeteceu desistir de tudo e deixar-me ir. O meu mundo foi esculpido por mim e atingi o que parecia inatingível, enchendo-me de toda a força que precisava, porque amo quem um dia poderá dizer que teve tudo, que viu e acreditou porque me tinha por perto, porque acreditei sempre e fui a voz que lhes falhava.
Sou a que esteve sempre lá, mas por quem nunca ninguém esteve na totalidade. Sou a que usa a verdade, em todos os momentos, sabendo que nem sempre o fizeram comigo, julgando que não o sentiria e falhando em manter-me a acreditar. Não posso dizer que sou tudo "isto", que cheguei até aqui por alguém, porque me tenham mantido inteira, com um amor seguro e determinado, todos os dias da minha vida. Ninguém conseguiu ver o melhor de mim. Ninguém me acordou com a força que mantenho em mim e comigo todos dias. Ninguém me deu pelo que acreditar, mas eu fi-lo por mim e foi com as minhas mãos que toquei as estrelas que sempre soube não estarem assim tão distantes. Afinal sou abençoada porque me amei sempre e porque nunca deixei de me puxar para cima. Sou abençoada por me saber multiplicar para também conseguir que acreditem, os que são amados por mim, que tudo é possível e que nunca deixarei de estar aqui.
Não estou orgulhosamente só, porque a solidão é um lugar escuro e gosto de luz. A solidão não tem sons e não sei estar calada, sem ouvir as músicas que me restabelecem de dias mais penosos. A solidão é o contrário do que espero, porque estar só é não ter nem dar amor. Não posso estar orgulhosamente só porque amadurecer sem partilhar, sentir sem provocar e olhar sem ser olhada de volta, apenas esvazia tudo o que consegui encher e preencher.
Quem foi que produzi afinal para afastar os que pareço ser capaz de amar? Quantos mais caminhos, terei que percorrer para que consiga ser olhada por dentro? Onde estará a metade de mim, a que fiz por merecer? Quanta mais solidão terei que mastigar para poder deixar de estar só?