Feel Me

Crescer significa caminhar sozinho grande parte das vezes, não respondendo ao que não queremos que nos perguntem e seguindo, inevitavelmente, até ao ponto de não retorno. Crescer emocionalmente sabendo que a razão deverá complementar o coração, sobrepondo-se à pressa e ao que o amor descarrega quando nos move o corpo, só acontece com o tempo e é de tempo que falamos quando amar se torna a questão principal. Crescer sem perder os sonhos, mas usando a realidade para nos fortalecermos e decidirmos com convicção. Crescer para podermos ter, ao nosso lado, quem esperamos que se mantenha. Crescer com todas as dores que isso implica, mas sem fingir não ver o óbvio.

Tanto que gostaria de ter ouvido quem afinal sabia bem mais do que eu e só depois passar a ouvir-me. Tanto que me teria poupado, mesmo que não vivesse da mesma forma e com o mesmo arrojo. Tanto que me teria fortalecido e impedido de ser magoada, se ao menos o ontem já fosse o hoje...

O que gostarias de já ter aprendido para conseguires responder, de forma sábia, generosa e responsável, todas as perguntas que esperarão que saibas?

Quem se "arma" de mais habilidades, cuidados com a mente e propósitos que terão que ir para além das necessidades diárias, resiste ao isolamento, ao silêncio imposto e às indefinições do mundo. A verdade é que todos eles existem diariamente e há muito pouco que possamos controlar, mas e porque somos hábeis em nos distrair do necessário, usamos o movimento dos outros, a nossa própria movimentação, na maioria das vezes desequilibrada e nada planeada, para não vermos, não sentirmos e não mudarmos.

Escrevo TANTAS vezes sobre a necessidade de não dependermos de nada externo para sermos felizes e emocionalmente crescidos, mas nunca fez TANTO sentido como agora. Se nos tivermos apetrechado do essencial, sabendo verdadeiramente o que fazer connosco e com o tempo que terá que sobrar, nada nos poderá ensombrar ao ponto de nos matar numa morte lenta e desprovida de diagnóstico.

Temos que ser capazes de nos ouvir quando falamos e quando nos silenciamos, para que a vida continue a acontecer e nós com ela. Temos que nos arredar das doenças da mente, fugindo a sete pés do que levará MUITO tempo a curar. Temos que saber ser maiores e mais capazes de nos aquietarmos, deixando do lado de fora o que NUNCA nos poderá invadir o porto de abrigo. Temos que parar de adiar o que nos adia a força e a determinação em sermos verdadeiramente felizes.

Bons conselhos. Sábios alguns, mas tão pouco realistas outros, porque recomeçarmos emocionalmente e arrojarmos, exige que do outro lado esteja quem nos insufle de vontade e nos arranque do marasmo.

Mas onde estarão esses seres e que terão que possuir já, para que entremos cheios de vontade de partilhar o que é nosso? TUDO e nada menos do que isso:

Terão que saber ao que vão e por quem pretendem ir ainda mais longe; terão que saber accionar os botões que deixámos apagados e longe da vista; terão que se encaixar na nossa visão de companheiro para o resto da vida; terão que ser e ter tanto, que rapidamente nos desmotivamos pela busca incessante e desistimos...

Procura por quem te saberá completar, dando-te o que ainda não encontraste forma de armazenar sozinha. Procura ainda e a cada dia, para que não te demovas duma realidade possível. Procura e certamente que acabarás por ser bem-sucedida.

Quando, e se acreditar, ficarei inevitavelmente pronta. Quem sabe hoje não será um bom dia!

Estamos todos envoltos numa névoa emocional que muitos explicam, mas que ninguém tem forma de travar. Deixámos de acreditar no que parecia ser tão simples e natural e passámos a complicar, de forma gratuita, o que se atravessa no caminho da felicidade e nos arreda até da vontade de tentar. Contamos demasiado com o que nos faz bem e esquecemo-nos, constantemente, de quem poderia contribuir para o que nunca faremos sozinhos.

O egoísmo está instalado e prolifera, como se de um "vírus" se tratasse, mas este não parece alguma vez vir a ter uma vacina que cure, verdadeiramente, quem adoece por escolha. Os umbigos tornaram-se demasiado visíveis e importantes e o amor deixou de importar.

Dramas emocionais que nos impedem, a mim de te aceitar e a ti de me querer para além do hoje, porque amanhã já poderás estar demasiado entregue ao dia seguinte. Dramas que me afastam, inevitavelmente, de quem adoece o meu campo energético e me afugenta, a toda a velocidade, para o lugar de onde muito provavelmente não saberei como voltar.