Feel Me

Desde os tranquilos 20, depois de tanto termos esperado pela maioridade, até aos 30 onde as decisões se começam a avolumar e onde TUDO é escrutinado, sobretudo às mulheres, sentimos que de repente o que antes era desvalorizado, agora passa a ser demasiado importante e urgente. Esperem só pelos 50 e vão perceber!

Vivemos em mundos diferentes, atendendo ao que somos, ao que temos e ao que parecemos e não importa o ponto cardeal. Estamos a testemunhar mudanças bruscas em tudo aquilo que antes era garantido e natural. Sentimos alguma impotência perante o que nos surge do nada, ou assim o achamos e nos faz reavaliar cada decisão tomada, ou evitada. Vivemos em modo sobrevivência, a acreditar, a grande maioria, que não existe outra forma.

Não se foquem nas convenções. Não parem demasiado tempo, no tempo dos outros, de contrário o vosso passará rapidamente mesmo debaixo do nariz. Não ouçam o que dizem os que nada sabem do vosso caminho e façam-no sabendo o que é realmente passível de ser controlado.

Não deixem nada por dizer, mas falem menos aos que nada ouvem. Usem os dias em vosso favor, rodeando-se do que importa e importando-se com os que vos elevam e motivam a serem melhores. Criem rotinas saudáveis e aprendam a saudar cada novo dia com saúde, amor, cor e lugares ainda por visitar. Sejam humildes e generosos convosco, porque apenas assim espalharão o que outros estão sequiosos de receber. Vivam no único mundo que vos rodeia, mas preparem-se para mudar para qualquer outro, se disso depender a vossa felicidade.

Estava a ouvir uma entrevista com a Michele Obama e como nada acontece por acaso, dei comigo a avaliar o que fui e representei para os meus enquanto mãe. Segundo ela, a mãe educou-a e ao irmão, como adultos e não como crianças e fui inevitavelmente transportada para o tempo em que os meus filhos, enquanto jovens, eram realmente vistos e ouvidos. Sou, tal como alguns de vós, do tempo em que as crianças não tinham que ser ouvidas e passei para o tempo em que as ouvem em demasia, mas vêem muito pouco. "Equilíbrio para tudo é o que desejamos".

O nosso papel enquanto educadores nunca estará terminado, mas tem o seu pico, carrega momentos irrepetíveis e impossíveis de recuperar. É sem qualquer dúvida o nosso maior feito e grande responsabilidade, colocar seres estruturados e resistentes no mundo. Estamos a viver momentos difíceis, mas até nesses podemos fazer melhor e diferente, por isso mesmo, há que usar do tempo que agora parece abundar para alguns e reorganizar as rotinas e os valores da família. Os filhos não são nossos. Os filhos terão que ser devolvidos ao mundo. Os filhos deverão levar com eles o que lhes passarmos e terá que ser MUITO BOM.

Se trabalharmos em conjunto, sendo uma comunidade no real sentido da palavra, unindo esforços com um mesmo objectivo, chegaremos a algum lugar e é isso mesmo que estamos a presenciar no nosso país. As estruturas a darem respostas imediatas. Os educadores a serem determinados e cooperantes. Os professores a excederem-se nas habilidades e a mostrarem o seu lado mais humano, respeitando as diferenças e reconhecendo as incapacidades de muitos. A sociedade, na sua grande maioria, a remar para um mesmo lado, na esperança de que possam todos regressar às suas rotinas.

Agora, bem mais do antes, temos a possibilidade de apetrechar os nossos filhos com as ferramentas emocionais que lhes irão servir num futuro que se avizinha desafiador. Uns terão mais capacidades do que outros, mas se usarmos todos de bom-senso e resiliência, acreditando que tudo o que começa tem eventualmente que terminar, acabaremos mais preparados para o que ainda falta chegar.

Olhem o que fez uma única frase, vinda de quem já viveu no lado poderoso do mundo. Ouvi, percebi e relacionei-me.

É disto que se trata, temos que andar por aqui para mudar vidas de alguma forma, mesmo que numa outra dimensão. Temos que usar do tempo e do momento para multiplicar os que desejamos venham com mais qualidade. Temos que ser generosos para connosco e para com os outros. Temos que aprender a viver em sociedade, percebendo que sozinhos NUNCA nos bastaremos.

Mantenham-se seguros e cultivem a esperança, porque ela dará frutos.

Somos o que somos e quem interiorizamos, mas haverá sempre margem para melhoria e crescimento, se assim o desejarmos. Somos de uma forma que servirá a alguns, mas seremos certamente do formato errado quando falhamos servir a alguém, quem quer que seja. Somos o produto de muitas vidas e mesmo que não nos lembremos de uma outra que não esta, receberemos sinais, muitos, que nos dirão do que teremos que aprender a escutar. Somos apenas mais uma gota, uma onda rebelde, um soprar de vento mais ou menos intenso, mas não somos TUDO o que fará falta ao mundo se não servirmos a quem está ao alcance duma mão e dum futuro abraço, aquele que certamente será bem mais apertado quando pudermos.

Quando as pessoas me mostram quem são, tenho sempre duas opções, ou me mantenho por perto porque me enriquecem a alma, ou então afasto-me para não me ensombrar, deixando eu mesma de servir.

Quando permites que o teu sonho cresça e defina tudo o que te rodeia, não terás como desistir dele, mesmo que acabe por invadir o mundo de alguém. Tens que saber de que forma aceitar cada um dos inícios que te levam ao futuro, aos dias em que perceberás o quanto já andaste e no que te tornaste, porque estás exactamente onde deverias e porque foi onde te imaginaste. És a tua pessoa certa, a que se conhece para além de todos os outros, sabendo quando suster a respiração, ou respirando de forma acelerada para fazer bater, acertadamente, o único coração que sempre baterá por ti. Quando deixas que o tempo venha e com ele a mudança inevitável, ficas inevitavelmente capaz de muito mais, provando-te o valor que já reconhecias. Quando tens que te reajustar para que as rotas se torem visíveis, passas a ser visivelmente natural e certa.

Nunca escolhas o errado mesmo quando estar certa se transforme num peso que carregarás até que se acertem contigo ou te reconheçam!

Crescer significa caminhar sozinho grande parte das vezes, não respondendo ao que não queremos que nos perguntem e seguindo, inevitavelmente, até ao ponto de não retorno. Crescer emocionalmente sabendo que a razão deverá complementar o coração, sobrepondo-se à pressa e ao que o amor descarrega quando nos move o corpo, só acontece com o tempo e é de tempo que falamos quando amar se torna a questão principal. Crescer sem perder os sonhos, mas usando a realidade para nos fortalecermos e decidirmos com convicção. Crescer para podermos ter, ao nosso lado, quem esperamos que se mantenha. Crescer com todas as dores que isso implica, mas sem fingir não ver o óbvio.

Tanto que gostaria de ter ouvido quem afinal sabia bem mais do que eu e só depois passar a ouvir-me. Tanto que me teria poupado, mesmo que não vivesse da mesma forma e com o mesmo arrojo. Tanto que me teria fortalecido e impedido de ser magoada, se ao menos o ontem já fosse o hoje...

O que gostarias de já ter aprendido para conseguires responder, de forma sábia, generosa e responsável, todas as perguntas que esperarão que saibas?

Quem se "arma" de mais habilidades, cuidados com a mente e propósitos que terão que ir para além das necessidades diárias, resiste ao isolamento, ao silêncio imposto e às indefinições do mundo. A verdade é que todos eles existem diariamente e há muito pouco que possamos controlar, mas e porque somos hábeis em nos distrair do necessário, usamos o movimento dos outros, a nossa própria movimentação, na maioria das vezes desequilibrada e nada planeada, para não vermos, não sentirmos e não mudarmos.

Escrevo TANTAS vezes sobre a necessidade de não dependermos de nada externo para sermos felizes e emocionalmente crescidos, mas nunca fez TANTO sentido como agora. Se nos tivermos apetrechado do essencial, sabendo verdadeiramente o que fazer connosco e com o tempo que terá que sobrar, nada nos poderá ensombrar ao ponto de nos matar numa morte lenta e desprovida de diagnóstico.

Temos que ser capazes de nos ouvir quando falamos e quando nos silenciamos, para que a vida continue a acontecer e nós com ela. Temos que nos arredar das doenças da mente, fugindo a sete pés do que levará MUITO tempo a curar. Temos que saber ser maiores e mais capazes de nos aquietarmos, deixando do lado de fora o que NUNCA nos poderá invadir o porto de abrigo. Temos que parar de adiar o que nos adia a força e a determinação em sermos verdadeiramente felizes.