26.2.22
Algum tempo depois...
Algum tempo depois, quando julgava já ter feito o que me cabia e continuava pelos trilhos que me levavam ao de sempre, percebi que ainda não vivera, não o bastante e seguramente que não de forma a que valesse a pena recordar. Passei a questionar quem era no agora e que pessoa me tornara, quando na maioria das vezes era tão invisível, movendo-me de forma mecânica, dizendo as mesmas piadas e chorando com os filmes que via uma e outra vez, como que a tentar colocar-me numa outra realidade que não a minha. Algum tempo depois de ter percebido, de forma instantânea dirão alguns, mas demasiado tarde para mim, que passaria a sentir a vida a fugir-me sem que mais nada me restasse fazer a não ser arrepender-me do quão pouco a vivera, quebrei, chorei por mil anos e parei. Os por-do-sol são agora mais grandiosos e já não voltarei a perder nenhum, até que mais nenhum dia reste. O sol continua a nascer para que o veja, mesmo quando as nuvens me ensombram o desejo de o sentir, enquanto me queima a pele e me recorda de que ainda estou viva e que ainda sou eu até que termine. Os silêncios são cada vez mais ruidosos porque os pensamentos, os sonhos e os desejos que engarrafei para usar mais tarde, já não terão como me acompanhar. As vozes somem-se e deixo de ouvir as palavras que me pareceram sempre as mesmas e que agora sei não me terem ensinado nada, ou tão pouco que não encontro em nenhuma a capacidade de me arrancar a dor que ficou e que permanecerá até ao tempo e momento de deixar de sentir. Algum tempo depois, quando finalmente processei o que me dizia quem me entregava a sentença para uma pena curta, sem possibilidade de recurso e com pequenas e inseguras previsões, quase que me vi forçada a reconfortar quem não aparentava saber o que fazer com a minha finitude. Algum tempo depois, percebi que já não me restava tempo que bastasse para amar incondicionalmente quem ansiaria por mais umas quantas horas, e que acabaria defraudado, pilhado de mim e arrependido de ter acreditado que iria cumprir à risca, o que prometera e que passara apenas por poder ficar por aqui, sendo, por mais algum tempo, a âncora, o porto em dias de tempestade e o abrigo que nada nem ninguém poderia derrubar. Algum tempo depois, percebi que deixaria de ter tempo, mas que mais nada me restava fazer, a não ser continuar, até eventualmente parar, ou melhor, ser parada.
23.2.22
Equilibradamente à procura do equilíbrio!
Depois de muito buscar pelo conhecimento que jurava precisar, deixei de lado os que não me cabiam controlar e passei, ruidosamente para mim, mas de forma bem indelével para os outros, a querer encontrar, mais do que a tudo o resto, o equilíbrio. Fixei-me em mim e segui de forma determinada, perdendo uns quantos pelo caminho, mas percebendo que não poderia ser de outra forma. Nada mais seguro e certo do que uma balança com os pratos em sintonia, por isso avivei e reavivei as memórias de tudo quanto me foi permitido viver e passei a usufruir da vida ao minuto, sentindo-me em cada pisar de território novo e ouvindo cada palavra que profiro para os outros, mas que me entram de forma certeira na mente que ainda não controlo, mas que já entendo e respeito.
Decidi superar-me, fazendo o oposto de tudo o que afirmava ser certo e inevitável. Incluí nas tarefas a realizar tudo o que já me parecia desinteressante e evitável. Surpreendi-me e ainda surpreendo, com a mulher que me torno a cada dia, não a conheço na totalidade, mas recorda-me, vagamente, a que jurei que seria. Encontro, em cada desafio, a vontade de me desafiar ainda mais e de me provar errada quando entendo que apenas estarei equilibrada se não desafiar o amor, porque a verdade é que às vezes perder o equilíbrio pelo amor faz parte de uma vida equilibrada.
Estou, agora, tranquilamente à procura do que me fortalecerá o bastante para que não estremeça perante o que ainda não consigo conquistar, mas aguardando pelo tempo e momento em que acontecerá. Estou, mais do que nunca, capaz de respeitar, na íntegra, a "Regra da Física da Procura", porque já se me afigura TÃO real, que a verdade não me será negada, até porque já percorri mais de metade do caminho.
Cada novo dia mais uma oportunidade!
22.2.22
Como será o para sempre!
Para sempre, já o esperei, tive e desejei que fizesse parte do resto de todos os meus dias. Já jurei que seria para sempre e já amei acreditando que nunca seria menos do que para sempre. Provei do amargo sabor da finitude quando fui sacudida pela incapacidade de me quererem mais do que início. Mas também já fui a que quebrou o para sempre e me escolhi.
Como será que o para sempre se instala no amor? O que teremos que ser e fazer para que o fim não chegue antes do desejável? Porque razão aceitamos, de forma ligeira e descomprometida, as desistências, arremessando as desculpas que não nos desculpam e o que pretendemos dum futuro onde supostamente estaremos a solo?
Gostava que o nosso para sempre me impedisse, agora, de precisar de outros braços e de todos os beijos que terei que repetir para que se instalem e façam parte de mim. Queria que apenas a tua voz me acompanhasse, porque já conhecia cada variação e porque até o meu corpo reagia à magia que produzia quando me sopravas o que precisava de ouvir. Esperava não ter que ensaiar, com outro, o amor que tantas vezes fizemos e que nos saciava a cada toque. Ansiava pelo conforto que o nosso para sempre representaria e no qual me "salvarias" de todos quantos me perturbam por me desejarem, mas nunca chegou...
Para sempre, talvez ainda o venha a riscar da lista de coisas a conquistar e quem sabe não estarás, secretamente e de alguma forma, a sonhar com o nosso para sempre também.
21.2.22
Não venço sempre, mas nunca desisto!
Recebi-te, mas não fui aceite!
Recebi-te, de braços abertos e de coração pronto, mas a vontade que aparentavas ter de mim não era comparável ao medo de te perderes no que poderia representar!
Somos todos diferentes e nem sempre procuramos pelo mesmo, porque somos feitos de muitos lugares, tempos e momentos que nos marcam como ferros. Somos o que decidimos, mas deixamos de o ser à velocidade do que acreditamos não querer ou ser capaz. Somos o topo do sonho de alguém e o ponto mais baixo da pessoa que a nossa reconhece e pela qual luta, tantas vezes em vão.
Li-te na diagonal, demasiado confiante e julgando estar preparada para as entrelinhas, mas a verdade é que tudo o que disseste foi claro e pleno de todas as vírgulas que mudavam o sentido. Falávamos línguas diferentes e usávamos de linguagens pouco claras e sem qualquer efeito prático. Magoávamo-nos nas imensas insistências, querendo quem na verdade não nos queria o bastante, ou não da forma que nos permitiria o repouso do guerreiro e travávamos lutas tão desleais que no final perdemos ambos.
Recebi-te quando já me sentia tão tranquila e despojada de todos os quês e porquês que antes me travavam, que acreditei ser o tempo e momento de recomeçar. Recebi-te e não duvidei, por nenhum segundo, que não me fosses receber de igual forma. Recebi-te porque me parecia caber a capacidade maior de abrir as portas aos amores falhados de ambos, mas assim que desviei o olhar das imensas janelas que mantiveste fechadas, fiquei como estava antes, sozinha e sem escolhas que me incluíssem.
Fomos a metade possível de um todo tão distinto e impreparado, que nada jamais nos poderia preparar para os danos colaterais de que ainda padeço e que seguramente te mantêm onde continuas, bem longe do meu mundo e a cada dia mais perto de seres esquecido.