2.3.22
Nem sempre...
Nem sempre te consegues convencer do que tantas vezes repetes, talvez até à exaustão, esperando que pelo menos assim pareça certo. Nem sempre sentes da mesma forma, a ti ou aos que te rodeiam, que vai e volta te sugam as energias que demoras a acumular. Nem sempre sabes o que dizer a quem confia na tua aparente sabedoria e muitas vezes sentes uma vontade gutural de lhes gritar que não sabes sempre tudo e que seguramente dias haverá em que não saberás NADA. Nem sempre as músicas que te movem e deixam em alta conseguem operar o milagre de te curar dum dia difícil. Nem sempre estarás cheia da coragem que já te classifica e os medos de outrora encherão o teu coração de dúvidas, de questões a que ninguém parece saber responder e de desejos que colidem com o que já não pretendias desejar. Nem sempre passarás bem sem o amor que não tens e por vezes até que darias um membro para que ele já se tivesse instalado, definitivo, seguro e confiante. Nem sempre terás o olhar que sossega as mentes inquietas e por vezes até tu mesma estarás num reboliço emocional que assusta. Nem sempre serás apenas sorrisos seguidos de um anuir de cabeça confiante, confirmando o que dizem de verdadeiro e corrigindo, de mansinho, o que julgavam ser certo. Nem sempre o teu corpo saberá o que fazer com a mente que lhe arranca, deliberadamente ou não, o prazer que merece, mas quase sempre responderá ao chamado, aguardando, tranquilamente, pelo dia em que o seu dia chegará. Nem sempre serás a tua melhor versão ou sequer maior amiga, mas com determinação e toda a paz emocional que acumulaste, voltarás para te restaurar, desculpando-te do que afinal ainda te falta aprender. Nem sempre conseguirás deixar de te arrepender do que não foi para sempre, mas com tudo o que te define e depois de passada a tempestade, aceitarás que não poderia ter sido de outra forma. Nem sempre gostarás de ti como já percebeste ninguém conseguirá, mas apenas para que te reformules e acabes a gostar ainda mais. Nem sempre a inspiração virá em catadupa, enchendo-te de todas as palavras que precisas de derramar, no entanto estarás apenas a preparar-te para muitas mais. Nem sempre conseguirás estar no aqui e no agora, mas rapidamente regressarás ao que fazes melhor e te foi dado confirmar. Nem sempre conseguirás que o respirar seja compassado, porque por vezes sentirás que te rasgam a capacidade de armazenares mais saudades e as dores que acumulas enquanto mãe. Nem sempre te impedirás de chorar, porque se o fizeres, repetindo ciclos e lugares, apenas rasgarás a fina película que te cobre, mas que já se revelou tão dura que te salvou. Nem sempre será sobre ti, mas tanto que gostarias que fosse...
28.2.22
Existem dias assim, como o de hoje!
Existem dias que nos acordam sem sabor. Acontecem momentos que não nos movem da forma certa e que insistem em assinalar tudo o que sabemos ser errado. Temos lugares que nos afastam do que juramos querer, mas também esbarramos em outros que nos permitem continuar a duvidar. Existem dias assim, como o de hoje, em que me movo sem movimento aparente e em que me torno mecânica e vazia, calando-me para que o que carrego de pesado não pese aos outros.
Sou de muitas camadas, mas tenho-as arrancado, uma a uma, na esperança de apenas deixar as que me representam, mas existem dias em que nenhuma parece dizer de mim o que merece ser ouvido. Sou e estou, aparentemente, mais capaz e cheia de todas as legendas que eu mesma escrevi, mas existem dias em que não coincidem com o que sinto e por isso desato a sentir mal, sem nada digno de registo e riscando o que em vão ainda tento registar.
Existem dias assim, como o de hoje, em que precisava de ter saltado para o seguinte, evitando-me as explicações que não me apetece dar. Existem dias assim, que mesmo cada vez mais raros, ainda me ensombram a urgência de ser melhor e maior, porque a verdade é que não posso vencer sempre!
26.2.22
O poder da normalidade!
Algum tempo depois...
Algum tempo depois, quando julgava já ter feito o que me cabia e continuava pelos trilhos que me levavam ao de sempre, percebi que ainda não vivera, não o bastante e seguramente que não de forma a que valesse a pena recordar. Passei a questionar quem era no agora e que pessoa me tornara, quando na maioria das vezes era tão invisível, movendo-me de forma mecânica, dizendo as mesmas piadas e chorando com os filmes que via uma e outra vez, como que a tentar colocar-me numa outra realidade que não a minha. Algum tempo depois de ter percebido, de forma instantânea dirão alguns, mas demasiado tarde para mim, que passaria a sentir a vida a fugir-me sem que mais nada me restasse fazer a não ser arrepender-me do quão pouco a vivera, quebrei, chorei por mil anos e parei. Os por-do-sol são agora mais grandiosos e já não voltarei a perder nenhum, até que mais nenhum dia reste. O sol continua a nascer para que o veja, mesmo quando as nuvens me ensombram o desejo de o sentir, enquanto me queima a pele e me recorda de que ainda estou viva e que ainda sou eu até que termine. Os silêncios são cada vez mais ruidosos porque os pensamentos, os sonhos e os desejos que engarrafei para usar mais tarde, já não terão como me acompanhar. As vozes somem-se e deixo de ouvir as palavras que me pareceram sempre as mesmas e que agora sei não me terem ensinado nada, ou tão pouco que não encontro em nenhuma a capacidade de me arrancar a dor que ficou e que permanecerá até ao tempo e momento de deixar de sentir. Algum tempo depois, quando finalmente processei o que me dizia quem me entregava a sentença para uma pena curta, sem possibilidade de recurso e com pequenas e inseguras previsões, quase que me vi forçada a reconfortar quem não aparentava saber o que fazer com a minha finitude. Algum tempo depois, percebi que já não me restava tempo que bastasse para amar incondicionalmente quem ansiaria por mais umas quantas horas, e que acabaria defraudado, pilhado de mim e arrependido de ter acreditado que iria cumprir à risca, o que prometera e que passara apenas por poder ficar por aqui, sendo, por mais algum tempo, a âncora, o porto em dias de tempestade e o abrigo que nada nem ninguém poderia derrubar. Algum tempo depois, percebi que deixaria de ter tempo, mas que mais nada me restava fazer, a não ser continuar, até eventualmente parar, ou melhor, ser parada.
23.2.22
Equilibradamente à procura do equilíbrio!
Depois de muito buscar pelo conhecimento que jurava precisar, deixei de lado os que não me cabiam controlar e passei, ruidosamente para mim, mas de forma bem indelével para os outros, a querer encontrar, mais do que a tudo o resto, o equilíbrio. Fixei-me em mim e segui de forma determinada, perdendo uns quantos pelo caminho, mas percebendo que não poderia ser de outra forma. Nada mais seguro e certo do que uma balança com os pratos em sintonia, por isso avivei e reavivei as memórias de tudo quanto me foi permitido viver e passei a usufruir da vida ao minuto, sentindo-me em cada pisar de território novo e ouvindo cada palavra que profiro para os outros, mas que me entram de forma certeira na mente que ainda não controlo, mas que já entendo e respeito.
Decidi superar-me, fazendo o oposto de tudo o que afirmava ser certo e inevitável. Incluí nas tarefas a realizar tudo o que já me parecia desinteressante e evitável. Surpreendi-me e ainda surpreendo, com a mulher que me torno a cada dia, não a conheço na totalidade, mas recorda-me, vagamente, a que jurei que seria. Encontro, em cada desafio, a vontade de me desafiar ainda mais e de me provar errada quando entendo que apenas estarei equilibrada se não desafiar o amor, porque a verdade é que às vezes perder o equilíbrio pelo amor faz parte de uma vida equilibrada.
Estou, agora, tranquilamente à procura do que me fortalecerá o bastante para que não estremeça perante o que ainda não consigo conquistar, mas aguardando pelo tempo e momento em que acontecerá. Estou, mais do que nunca, capaz de respeitar, na íntegra, a "Regra da Física da Procura", porque já se me afigura TÃO real, que a verdade não me será negada, até porque já percorri mais de metade do caminho.