Dizer que se ama tem porras!
Dizer que se ama tem porras! Tem mesmo, porque parece que nos deixa irremediavelmente agarrados. Será por isso que tantos têm medo de o fazer?
Words can change the world
Dizer que se ama tem porras! Tem mesmo, porque parece que nos deixa irremediavelmente agarrados. Será por isso que tantos têm medo de o fazer?
És doce tal como a tua boca e o teu olhar. És sempre doce para mim, meiga, atenta e minha!
Já não camuflo emoções. Já não deixo que os meus sentimentos venham de lugares escuros. Já não espero por quem nunca esperou por mim, porque esperar é permitir que o tempo passe sem que o use a meu favor. Já não vejo o que não existe e deixei de existir por quem ficou sem saber o que fazer de mim.
Sou uma crente determinada. Vejo o melhor do mundo nos que me chegam e nunca olho para o que me possa impedir de ser convenientemente olhada. Sou feita de muitas camadas, mas nenhuma se sobrepõe à inicial, a que dita a minha essência e dessa nunca fujo. Sou o amor que me tenho e dou o que recebo para o multiplicar, reabastecendo-me do que é certo. Viajo em cada pensamento e recuso paragens emocionais que me demarquem de quem construí e tão bem conheço.
Já não me contento com as metades que não teria como juntar. Já não uso o amor como desculpa e parei de desculpar as palavras que nunca me poderiam alimentar. Já não escureço com a noite, porque já sei quais as cores que me iluminam e são as que uso para recomeçar. Já não sou a mesma de ontem, simplesmente porque percebi de que forma melhorar.
Painting by Cindy Press |
O que é que muda quando mudas? Tudo, o espaço, a perceção, a perspetiva, a entrega e até a disponibilidade. Mudam os momentos que decidiras antecipar, considerando que a antecipação fora despropositada. Muda o olhar para com os que te viam e a crença na sua capacidade de te amar. Muda a entrega às causas, ao arrojo e aos sonhos que agora te impedes de sonhar.
O que é que muda quando o teu coração é apertado até quase deixar de bater, ou batendo tão veloz que se torne incapaz de te manter? Muda tudo o que julgavas saber e pouco do que sabias te consegue valer. Mudam os minutos que se transformam em horas e até os dias ameaçam não voltar a nascer. Mudam as noites que escurecem mais cedo e é com a falta de luz que deixas de te ver.
O que é que mudas quando o amor te passa a faltar? Muda também a tua capacidade de voltar a amar.
Gostava tanto de gostar de ti da mesma forma como te amo!
Por norma só sabemos do que vivemos, ouvimos ou de alguma forma conhecemos, mas contigo foi diferente, irrequieto, pesado, intenso e doloroso. Andei sempre perdida a tentar dar nomes a cada situação nova, mas fiquei sem letras do vocabulário para reusar, acabando por me sentir verdadeiramente usada. Gostar de alguém parece ser o processo natural, no entanto e porque o coração por norma decide tomar a dianteira, amar é consideravelmente mais fácil.
Já não vou ter no futuro o mesmo tempo, ou oportunidades que no meu passado, por isso escolhi continuar a gostar de mim o suficiente para te deixar ir. A pessoa que antecipo do meu lado tem que ser sobretudo meu amigo, velando o meu sono para que os sonhos não me impeçam de viver e vivendo comigo o que mais ninguém conseguiu fazer. Um novo amor, a acontecer, terá que saber de que forma reescrever uma história comum, retirando-lhe todos os episódios obscuros. Ter por perto quem se lembre de mim a cada acordar, de mim em primeiro lugar, começa a parecer uma realidade distante, apenas porque os dias parecem ser poucos para que se esqueça de quem nos abraça sem cobrar e nos beija simplesmente por conseguir amar.
Gostava de não precisar de desgostar de quem me afagou o coração, mas também o dilacerou para sempre, porque já me provei que amar nunca será suficiente, não quando gostar parece carregar o peso do mundo.
Aqui estava, como sou, de braços abertos e pronta para receber quem julgava ter reconhecido. Aqui estava, sem demasiados medos, mas cheia de receios que se revelaram fundados. Aqui estava, até ao dia em que precisei de me retirar, desistindo do que afinal nem sequer tivera.
Não levei mágoas na bagagem. Não me escudei em desculpas, até por que nunca as uso e não me impedi de mostrar quem era, mas nem assim consegui ver-te. Foi sempre tão fácil acreditar que eventualmente o poderia fazer, sabendo que o que dizia e a forma como me conduzia me refletiam na íntegra e que isso bastaria. Fui eu sem as máscaras que normalmente me cobrem a face e o coração, mas depressa me arrependi de baixar os muros que me protegiam sobretudo de mim, porque tendo a julgar os outros pelo que sou.
Aqui estava, sem nunca bastar e sem ser a que eventualmente mudaria o curso de uma vida aparentemente desejada. Aqui estava, sozinha como antes, tendo apenas por companhia o que me arrancaria todo o sabor doce que me brota dos lábios, porque é com eles que beijo e me passo. Aqui estava eu, mas consciente de que não poderia estar por muito mais tempo. Aqui estava, eu e tão somente eu comigo...