Always!


lme/Always!Tema:Contos!
Imagem retirada da internet

Estou de partida hoje. Sempre adorei o bulício dos aeroportos, muitas caras, cores, passos certos, definidos, todos parecem saber para onde ir e o que procurar, mas desta vez não me enquadro, não usufruo. Continuo a olhar, a procurar pela tua face. Acreditei que virias, que me agarrarias pela cintura roubando-me um beijo quente e intenso como só tu me soubeste sempre dar, mas não vieste...

As pessoas surgem apressadas ao meu lado, sinto as malas que me roçam as pernas e me acordam momentaneamente para o que sou e para onde vou neste momento. Dentro de uma hora estarei num avião, bem lá no alto da distância que não conseguimos quebrar.

- Porque me vais deixar agora? Continuas a ser sempre tu em primeiro lugar, não te consegues sentar num colo de estabilidade, és egoísta!


Olhei-te dorida, sabes usar bem as palavras, sabes magoar e fazer-me sentir pequenina, mesquinha. Deixei que lágrimas gigantes rolassem  até ao meu colo, pingando ruidosas até ao chão que nos dividia. Amar-te já não te bastava, precisavas de me colocar grilhetas na alma e nas mãos cansadas de te pedirem calor, um colo, apenas tu, o melhor de ti cada dia. Nunca precisei de te ver para te recordar, de te ouvir para te reconhecer,bastavam-me os melhores momentos, o tempo que sabíamos dividir, o amor que os nossos corpos esmagavam e de onde saía apenas muito mais por fazer. Amo-te hoje no silêncio estridente das pessoas que passam sem me ver, sinto-te dentro de mim, o teu cheiro inunda-me, grito sem que o som libertador ouse sair. Vou partir, tenho que me cuidar, restabelecer, porque um amor assim apenas mata por dentro, corrói.


- Não te deixaria nunca se conseguisses ver para além de ti, se não esperasses sempre e só pelo que desejas, queres dominar, queres-me pronta, disponível, queres um corpo mesmo que a alma lhe fuja. Não é de mim que precisas afinal, porque eu não sou essa, sou a que olhas mas não vês. Ainda hoje não me consegues ver, e isso magoa-me bem mais do que as palavras que atiras como navalhas.


Forço-me a andar e sinto-me arrastar uma mala que parece agigantar-se a cada passo que dou. Ergo agora a cabeça, endireito os ombros e sinto a garganta seca queimar a vontade que tenho de chorar, chorar tanto que me lave por dentro. Por favor meu Deus, ajuda-me, carrega-me tu agora, não me deixes tropeçar. Não vou olhar para trás, e quando a porta se fechar vou recomeçar, renovar-me para me ter de volta. Vou apenas ser eu outra vez e quem sabe continuar a amar-te, sempre. Always!
 


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