Sózinha, mas comigo...


Sozinha outra vez, como estive sempre. Sozinha sem ti, porque nunca me escolheste e sozinha porque me atirei para o vazio que agora me esmaga. Sozinha, outra vez e pelo tempo que demorar a reerguer-me. Sozinha, mas sabendo o que preciso de fazer para que nada de errado me seja feito. Sozinha, mas com a voz que ainda mantenho.

Não estava a sonhar, ou a desejar em demasia quando desatei a querer-te. Não me entreguei de corpo e alma por desespero, ou por solidão instalada. Não te procurei, apenas sequiosa de ti, ou por não saber ao que sabem toques verdadeiros e que nos alimentam. Não te amei por me desejar amada, mas acreditando que eventualmente o saberias fazer. Não te toquei, em toques reais e comigo dentro, por temer ser apenas eu e pelo tempo que assim permanecesse, fi-lo porque ser tocada por ti me lembrava do muito que ainda sou capaz de sentir e proporcionar. 

Estou sozinha por escolha e escolherei, em todos os percursos que ainda me faltam percorrer, estar apenas onde for bem-vinda, admirada e desejada. Estou sozinha, mas menos só do que quando me tocavas, beijavas e percorrias o corpo que se movia para alimentar o teu. Estou sozinha comigo e já não com quem não me deseja olhar para não precisar de me ver. Estou sozinha nos beijos que já não dou, mas estive sempre sozinha quando recebi os que me entregavas como se dum prémio se tratassem. Estou bem menos sozinha do que estive quando os teus movimentos me arrepiavam a nuca por tanta indiferença. Sozinha na dor que provocaste quando te ausentaste de mim e as ausências forams empre prolongadas. Sozinha sem as palavras que sopravas à mesma velocidade das mentiras que embrulhavas até se transformarem em presentes envenenados. Estou sozinha, hoje, mas a solidão não me magoa, ou sequer usa, embrulhando-me para me atirar para bem longe.

Não foi apenas por mim que fiz todo o amor que nos alimentou, a mim de forma a fazer crescer quem já era e a ti apenas a acelerar a vontade de muitos outros amores. Não te amei com condições inegociáveis, mas foi sem qualquer amor que me condicionaste a dar o que ainda mantenho e que um dia pertencerá a alguém. Não foi apenas pela minha vontade que desejei sentir a tua vontade de mim, e nunca foi pelo pouco que chegou que me senti a mulher que sei existir. Não foi por mim que quiseste ficar, mas é por mim que escolho partir.

Estou sozinha, por escolha, mas sei que nunca mais ficarei só!


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