Será que se pode?
Sue Amado
julho 08, 2016
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Também sabe bem, e eu até que já o reconheço, escaparmo-nos, para uma distância considerável e deixarmos a vida seguir o seu curso, mas connosco à pendura. Também sabe bem ter quem nos tire do marasmo, quem nos chame e leve até ares novos, águas correntes, e um sol a cobrir gentes que a gente não precisa sequer de conhecer. Também sabe bem, sobretudo para mim, perceber que não estou sozinha, e que não sou apenas a que cuida.
Será que se pode, mesmo, desligar e ser diferente, ou tão igual que acabemos a sentir, como o fiz hoje, que existe alguém para além do que consigo mostrar? Será que se pode aceitar a nossa pequenez e a nossa incapacidade de dar, sempre, recebendo de braços e coração aberto?
A resposta é um SIM redondo, claro. Não só se pode, como se deve e até deveria estar instituído o dia de receber. Atenção, carinho, compreensão e cuidado. Isso faria, entre as pessoas como eu, um enorme sucesso.
Sou humana, que enorme novidade, mas também consigo abrir as mãos e aceitar o que me estendem. Tenho direito a que me olhem e oiçam com atenção, sem julgamentos e sem respostas, até porque as minhas perguntas encolhem a cada dia. Sou tão humana que até me deixo levar, quieta, de poucas palavras, e sem sorrisos forçados.
Será que se pode desligar os botões todos, reiniciando-os mais tarde que o habitual? Já sei que não virá daí nenhum mal ao mundo e que eu retornarei, inteira, para o lugar de onde saí!