Quando nos enganamos, achando que queremos o que nunca seremos capazes de dar, acabamos a mentir ao outro, a quem começou por acreditar que seríamos nós, no "sempre" possível. Quando nos mentimos e até seremos capazes de o fazer durante algum tempo, fazemo-lo até que venha o tempo certo, aquele em que veremos para além da neblina e perceberemos que não somos talhados para continuar...
Querer muito, desejando quem parecia ser certo para nós, não é errado, o que transformamos em erro é o sabermos como sabemos tudo o que nos diz respeito, que não somos fortes o bastante para permanecer ao lado de quem nos recebeu e até ficou. Não sei o que é mais triste, se a mentira deliberada, a que usa e abusa de quem apenas ama sem condições, numa entrega tão natural quanto é respirar, se a mentira que camuflamos, esperando que o dia seguinte seja mais radioso e menos real. Quando não conseguimos conversar connosco de forma honesta e determinada, dificilmente seremos capazes de o fazer com o outro.
Já senti, na boca, no corpo e na alma, o sabor amargo da mentira, a que foram capazes de usar para me usarem e convencerem. Já fui enganada, sim, mas apenas porque decidi desviar o olhar e ignorar os sinais. Já me mentiram e magoaram numa dor que julguei não ser capaz de suportar, mas acabei a fazê-lo porque percebi que tinha sido eu a mentir-me a mim mesma.
Quando nos mentimos, acabamos apenas a adiar o inadiável. Mas para que possamos sair regenerados, sem muitas mazelas emocionais, apenas teremos que nos focar no que tivemos, pelo tempo que durou, jurando-nos não voltar a acreditar no que há muito sabíamos não existir.
Nós somos qual ímans e atraímos tudo o que sentimos. Pessoas, situações e lugares. A tua felicidade depende da frequência que passas, porque tudo o que dás recebes de volta. Penso que é bem elementar, mas para os mais cépticos deixo aqui alguns exemplos:
Quando ouvimos chorar, o nosso coração fecha-se e a alegria que até poderíamos estar a sentir, escurece-se para absorvermos a vibração de quem sofre, talvez em solidariedade. Agora pensem nos alegres, nos que sabem soltar gargalhadas reais e genuínas, junto a eles nem sequer precisamos de saber porque riem, o nosso riso chega também de forma expontânea e natural.
A felicidade, a tua, és tu que a escolhes, pode ter um formato distinto da dos doutros, mas é a tua e só te cabe a ti decidir como a queres receber e manter. A tua felicidade é feita de tudo o que já aprendeste e conquistaste e até do que tiveste que libertar. Ser feliz, o tempo todo, é uma linda utopia, mas apenas isso, porque num dia estás triste, ansiosa, ou desmotivada, mas no outro imediatamente a seguir, és tu em pleno e capaz de enfrentar até gigantes adamastores.
A felicidade tem vários rostos e aplica-se de forma distinta, tal como o somos todos, mas a sensação que passa, já essa é totalmente comum e inquestionável. A tua felicidade tem que ser construída, dia-a-dia, todos os dias, porque apenas assim irás resistir aos que serão de tristeza absoluta.
Será que alguma vez te arrependes da quantidade de amor que passas? Será que consegues sempre entender quem não te entendeu, perdoando cada falha e incapacidade? Será que sabes retomar-te do ponto em que deixaste de ser apenas tu, e voltar a sentir o que sentias antes?
Arrependes-te de seres como és, ou acreditas que estás neste formato porque nenhum outro seria possível?
Sei que me arrependo de não ter dado mais, de não ter sentido, mais vezes, a boca de quem deixaria de me beijar. Arrependo-me do muito amor que se deixou por fazer, quando e enquanto os corpos ainda se colavam de forma segura e determinada. Arrependo-me, e muito, de não ter dito que amava um milhão e meia de vezes, ao contrário de apenas um milhão. Arrependo-me de não ter olhado com mais intensidade, mais fundo e por mais tempo...
Ser assim e perceber que o sou, não me deixa dúvidas de que é esta a mulher que me serve. Sei que continuarei numa linha que não me defrauda, porque me asseguro a mim mesma de que nunca poderia ser outra ou sequer de outra forma. Gosto de mim, sim, até com os excessos que tanto parecem assustar os outros. Gosto de mim porque consigo gostar de tudo o que me rodeia, o que crio e o que acabo a viver. Gosto de mim e exijo que gostem da mesma forma e só me poderei arrepender se permitir, num qualquer dia de insanidade, que me ofereçam menos do que aquilo a que tenho direito.
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.