A Mónicafoi sempre aquela mulher que virava cabeças e fazia os homens caírem aos seus pés. Não era inocente de todo, sabia bem ao que ia de cada vez que saía de casa. Preparava as caçadas com toda a classe que até tinha e passava aquele ar de matadora que parecia fazê-los salivar.
Nos seus anos gloriosos escolhia-os a dedo, com todas as exigências que se impunha, algumas bem disparatadas e sabia-o, chegando a namorar 2 e 3 ao mesmo tempo. Escolheu, pediu e recebeu, sempre que quis e enquanto quis, cuidando pouco de se cuidar, emocional e intelectualmente, e esquecendo-se do óbvio, que o corpo, o invólucro, vai-se, apaga-se e deixa-nos vazios se mais nada nos encher por dentro.
A Mónica viveu mesmo, é o que ela nos diz. Sentiu o que poucas mulheres se podem vangloriar numa vida inteira, mas o que lhe restou afinal, agora que é apenas a Mónica, sem efeitos especiais? Pouco, muito pouco, mas ganhou em frustrações, em esgotamentos e tudo mais que chega ao corpo cansado e desiludido com tanta futilidade.
Tantas Mónicas por aí, cada vez mais, e perceber que as conheço e que nunca mais serão o antes, o que consideravam o melhor, esquecendo-se de que o tempo é este no qual se vive, o hoje, porque nada mais nos resta, nem sequer o que o corpo sentiu e o coração desbaratou. Não sei o que sentir por ela e por todas elas que deambulam por aí, não sei como avaliar ou quantificar o que tiveram, o que sei é que não compensou, nem poderia, porque não temos como usar os outros e sair sempre ilesos.
O tempo passa e nós precisamos de o saber valorizar, cada segundo, somando os minutos que no depois farão tudo valer a pena. Não há outra fórmula, não ainda!
Quando nos enganamos, achando que queremos o que nunca seremos capazes de dar, acabamos a mentir ao outro, a quem começou por acreditar que seríamos nós, no "sempre" possível. Quando nos mentimos e até seremos capazes de o fazer durante algum tempo, fazemo-lo até que venha o tempo certo, aquele em que veremos para além da neblina e perceberemos que não somos talhados para continuar...
Querer muito, desejando quem parecia ser certo para nós, não é errado, o que transformamos em erro é o sabermos como sabemos tudo o que nos diz respeito, que não somos fortes o bastante para permanecer ao lado de quem nos recebeu e até ficou. Não sei o que é mais triste, se a mentira deliberada, a que usa e abusa de quem apenas ama sem condições, numa entrega tão natural quanto é respirar, se a mentira que camuflamos, esperando que o dia seguinte seja mais radioso e menos real. Quando não conseguimos conversar connosco de forma honesta e determinada, dificilmente seremos capazes de o fazer com o outro.
Já senti, na boca, no corpo e na alma, o sabor amargo da mentira, a que foram capazes de usar para me usarem e convencerem. Já fui enganada, sim, mas apenas porque decidi desviar o olhar e ignorar os sinais. Já me mentiram e magoaram numa dor que julguei não ser capaz de suportar, mas acabei a fazê-lo porque percebi que tinha sido eu a mentir-me a mim mesma.
Quando nos mentimos, acabamos apenas a adiar o inadiável. Mas para que possamos sair regenerados, sem muitas mazelas emocionais, apenas teremos que nos focar no que tivemos, pelo tempo que durou, jurando-nos não voltar a acreditar no que há muito sabíamos não existir.
Nós somos qual ímans e atraímos tudo o que sentimos. Pessoas, situações e lugares. A tua felicidade depende da frequência que passas, porque tudo o que dás recebes de volta. Penso que é bem elementar, mas para os mais cépticos deixo aqui alguns exemplos:
Quando ouvimos chorar, o nosso coração fecha-se e a alegria que até poderíamos estar a sentir, escurece-se para absorvermos a vibração de quem sofre, talvez em solidariedade. Agora pensem nos alegres, nos que sabem soltar gargalhadas reais e genuínas, junto a eles nem sequer precisamos de saber porque riem, o nosso riso chega também de forma expontânea e natural.
A felicidade, a tua, és tu que a escolhes, pode ter um formato distinto da dos doutros, mas é a tua e só te cabe a ti decidir como a queres receber e manter. A tua felicidade é feita de tudo o que já aprendeste e conquistaste e até do que tiveste que libertar. Ser feliz, o tempo todo, é uma linda utopia, mas apenas isso, porque num dia estás triste, ansiosa, ou desmotivada, mas no outro imediatamente a seguir, és tu em pleno e capaz de enfrentar até gigantes adamastores.
A felicidade tem vários rostos e aplica-se de forma distinta, tal como o somos todos, mas a sensação que passa, já essa é totalmente comum e inquestionável. A tua felicidade tem que ser construída, dia-a-dia, todos os dias, porque apenas assim irás resistir aos que serão de tristeza absoluta.
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.