Inconstante e inseguro sou eu. Sou um inseguro crónico e tenho medo de parar de ter medo, porque é o que me segura aqui, neste marasmo que acabou a representar tudo o sei e conheço. Sou inseguro porque ainda não vivi, não o bastante para o deixar de ser. Inconstante porque nada na minha vida durou o bastante para saber com o que contar. Eu sou este, da forma que fui capaz de manter, com todas as dúvidas que apenas me empurram mais para onde não quero estar. Não crio memórias bastantes que me bastem e tornem tudo o resto mais fácil. Não espero, nem acredito que me mude porque não sei o que significa mudar. Hoje, sobretudo hoje, espero poder deixar ir o que me pesa, num peso que quase não consigo aguentar. Hoje a minha inconstância está a custar-me toda a segurança que fui incapaz de manter e nunca arranjei forma de te dizer o que valeria realmente a pena.
Sou inseguro e vou continuar a sê-lo apenas por te olhar, por te ver a conseguir o que me recuso. Sou inconstante e não me permito, de alguma forma, o que seria tão fácil de conseguir, tal como te consegui a ti, se ao menos soubesse como o querer.
Registaste cada registo falado e até os silêncios. Entendeste quem era e amaste-me da mesma maneira, daquela que dizias querer assim que me quiseste. Não tornaste nada fácil, apenas me lembras-te de como a minha insegurança me faria perder-te e desta vez, da única vez em que não precisava ser constante, fui-o e mantive-me como sou, sem nada para te oferecer e vi-te ir, olhei para ti até desapareceres, tu e o sol que nunca mais voltou a nascer, não por mim e nunca para mim.
Terminar comigo mata-me um pouco, sobretudo pela sensação de que não controlo NADA, nem o que aparentemente desejava. Terminar com sonhos, com desejos que quase toquei. Terminar comigo aceitando-me como sou, frágil e incapaz de sofrer para sempre.
Ver como as coisas me escorregam das mãos, como se vão uma a uma, em verdades que escolhi esconder e que apenas me adiaram o amanhã certo, magoa bem mais que uma ferida aberta. Saber o que sempre soube, mas de forma mais real, sem a distância que sempre impomos aos problemas que nos assustam, permitiu-me decidir, aceitar e continuar. Sentir que não me posso fazer sentir o bastante, que não basto e que não importo, não me consegue parar, nem impedir de olhar com atenção. Tenho que aprender com todo o processo e recomeçar do início mais renovada, mais forte e mais pronta. Por vezes é difícil ver com clareza, abrir o coração, perdoar e escutar outras dores para além das minhas, sem esconder o que apenas me poderá vir a "matar" de uma morte lenta, porque sei que sou mais, que consigo ser maior do que o que me derrota e que me devo a mim mesma TUDO.
Terminar comigo será sempre mais difícil do que deixar-te ir, porque a sensação de falha e de derrota é maior, mas eu e eu mesma acabaremos por nos resolver...
Quando percebes que não podes manter quem reconheceste e por quem mudaste tu e a ti mesma, aceitas.
Quando se vai, vai. Quando te esgota, consome e "mata", deixas ir e aceitas.
Quando a decepção deixa de te importar, porque terá vindo com demasiada força, a ser o que nem acreditavas poderes aguentar, decepcionas-te e aceitas.
Quando te lembras que até as pequenas batalhas terão um dia que ser terminadas, determinando quem as venceu, aceitas.
Quando admites que foste demasiado tonta e inocente, mas apenas porque querias mesmo muito, sobretudo acreditar, mas que apenas te magoavas, mais e mais a cada dia, retiras-te e aceitas.
Quando te mentes, dia sim e dia também, ao ponto de já teres na boca o paladar de cada palavra, envergonhas-te de ti, decides que tens que parar e aceitas.
Quando as lágrimas se recusam a correr e sentes que as secaste porque não podias mais, não tinhas como te manter a sofrer mais, sorris e aceitas.
A Rita está numa relação que vai e vem num começar e terminar constantes. Não sabe como a dirigir, não consegue apenas ir recebendo e sente que em todas as etapas também não consegue dar o que basta. Não ter qualquer poder para parar ou sequer desistir, tem-lhe provado que não poderá saber quais os passos que virão a seguir. A Rita é literalmente manipulada, sabe-o e permite. Porquê? Em nome do quê? Talvez daquilo que ela acredita ser o que precisa, e ultimamente parece precisar de muito pouco. Basta-lhe a voz do Paulo nos telefonemas dos quais retira pouco sumo, porque nunca diz nada que o faça reconhecê-la ou aceitá-la. Recusa que se apelidem de namorados. Nunca a identifica perante nenhum dos poucos amigos comuns. Vivem num submundo e aceitam num pacto mudo o que apenas um decide.
- Continuas a não saber o que ele quer de ti e aceitas?
- Oh amiga, mas eu não funciono sem ele, faz-me tanta falta, fico nua se não o tenho.
- Pois, mas pareces funcionar quase nada com ele, e a verdade é que não o tens e percebo que te
sintas nua, vives rodeada de uma inércia e aceitação cega. Dói-me ver-te assim e não poder fazer
nada.
As relações dos outros e até mesmo as nossas, chegam quando não esperávamos e mantêm-se mesmo quando duvidamos e por vezes terminam a parecer que nunca aconteceram. Mas não saberes quem és e o que precisas para te afirmar como a outra parte de duas, vai sempre originar sobreposições, amargos que não se controlam e desejos que nunca passarão disso. Não saberes, é isso mesmo, não teres nada que valide o que acreditas estar a acontecer. Não saberes quem és, é recusares-te e mesmo assim continuares. Não saberes é morreres a cada dia mais um dia!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.