O que é melhor que amar? Resposta simples, é ser amado, o resto já não será assim tão simples, porque raramente se sente o amor que se dá e mais raramente ainda sentimos que vale a pena amar de forma genuína, com entrega e sem cobrar. O que é melhor que amar? É saber que do outro lado, num ser que reconhecemos, está quem precisamos e vemos a partilhar connosco tudo. Será que ainda existem amores assim, na mesma sintonia? Quando deixar de acreditar retiro-me, mudo de planeta, vou só ali morrer e já não volto. Mesmo que não saibam como continuar, no dia imediatamente a seguir àquele em que descobriram o impensável, pelo menos tentem com coragem e respeito por quem planear seguir-vos. Se, e o se é permitido em todos os estágios do amor, se não forem capazes, se não quiserem, pelo amor da santa, seja qual for o nome dela, deixem ir, saiam de cima, vão vocês também ali morrer e não voltem.
Dar é bem mais difícil do que receber. Ser, muito mais complexo do que ter. Querer, ui, querer é dose para muitos. Nós até que queremos, mas à nossa medida, com as nossas regras e pensando muito pouco no que quer o outro. O amor não tem apenas uma definição, todos o sabemos, mas certamente que em nenhuma das conhecidas estará implícito apenas o EU. Eu quero. Eu sei. Eu digo. Eu preciso. Eu...Eu...Eu...
Se ainda não sabem como se ama, vão aos treinos mais vezes e esforcem-se para estarem prontos antes do fim do mundo, não do dia em que ele termina, mas naquele em que terminam vocês, porque o amanhã pode muito bem já não acontecer.
Qual o mundo novo em que agora vivemos? O que mudou desde que fomos também nós mudando? Porque já não conseguimos encontrar pontos de referência e sentimos que tudo o que era está a deixar de ser? As mudanças são visíveis e todos parecemos queixar-nos constantemente delas, mas a verdade é que também participamos, de uma forma ou de outra, neste processo. O tempo muda, as estações encolhem, os dias aceleram e nós ficamos mais pequenos, mais sós, menos realizados, mesmo com toda a realização que conseguimos. As relações passam a ser menos importantes e o que sentimos até alvo de alguma brincadeira. Se choramos a ver filmes, ou apenas com um abraço vindo de quem nos faz falta, somos lamechas e propensos a mais sofrimento. Se não rodamos, como parecem agora rodar todos, somos obsoletos e não sabemos o que é viver. Se queremos ficar no nosso cantinho, aquele que nos permite sermos mesmo nós, o tempo todo, chamam-nos de bichos-do-mato.
O mundo mudou e muda a cada dia e é bom que saibamos adaptar-nos para não ficarmos para trás. Este parece ser o lema, mas caberá a cada um mudar apenas na proporção que lhe fizer sentido. Em que mundo vivemos agora? Será naquele em que o outro importa muito pouco e apenas o que nos importa passa a importar? Será que perdemos a capacidade de incluir e de manter quem nos chegar, com medo de sermos absorvidos, engolidos e deixados para secar por dentro?
Adaptar, acompanhar, mas resistir a tudo o que não seja como somos nós. Não teremos que "comer" do que comem os outros, podemos mesmo mudar alguma coisa, bastando que nos mudemos, dia a dia. Este é o mundo em que vivo, mas assim como há muito dele que me motiva e melhora, também há muito que não aceito, porque me respeito, porque sou a pessoa mais importante da minha vida e porque lhe exijo mais, muito mais. Mereço, ponto final!
Vamos lá fazer um exercício mental daqueles que movimentam a mente e a levam a ver de vários ângulos! Então é assim:
Quando vamos a uma exposição de pintura para ver quadros, não colamos o nariz a qualquer um deles, pelo contrário, tomamos uma distância generosa dos mesmos e analisamos cada ponto, porque a perspectiva é mesmo importante. Agora vamos usar esta analogia e aplicá-la à vida e aos relacionamentos:
. Quando nos "colamos" demasiado a alguém, não vemos as arestas todas, as curvas e as guinadas, as escolhas e as caminhadas.
. Quando nos focamos apenas no que estamos a sentir e permitimos que o nosso corpo se agarre ao do outro nas mesmas posições e cada vez por mais tempo, falhamos ver as imperfeições e mesmo que sintamos os tremores, não entendemos o que os origina.
. Quando nos mantemos a olhar para as palavras escritas e por todas as que foram proferidas, não ouvimos as novas que já chegam com sons distintos e outras exigências.
Tirar o coração do lugar que lhe pertence por algum tempo, impedindo-o de apenas sentir, não é de todo fácil, mas se nos distanciarmos o bastante, tudo se clareia, tudo se mostra como é na realidade e o que era demasiado brilhante e colorido passa a ser monocórdico, nú e crú, sem qualquer embelezamento. Se depois de tudo isto o que tiverem, vos servir, então embarquem, mas conscientes e prontos, verdadeiramente prontos para tudo o que vos espera e que até conseguiram ver.
Vou agora colocar-me a uma distância segura e esperar que vos consiga ver como merecem estar, felizes!
Pediram-me que escrevesse sobre o lado positivo de se estar só, de se ser apenas um a comandar o barco. Acedi, claro, mas na condição de o fazer baseada apenas na minha perspectiva e dando uma achega ao lado negativo, porque na verdade ele também existe.
Estarmos sem parceiro é uma escolha e deve ser consciente, pesando todos os prós e contras e eles são invariavelmente muitos. O que é natural é procurarmos, encontrarmos e mantermos a nossa outra metade. O que está certo e faz sentido, é termos do nosso lado quem colmate as nossas falhas, acrescentando o que não sabemos fazer e apagando os momentos que chegam sem que os dominemos. Por dois será por norma mais fácil. Quando sermos dois se torna impossível de suportar, regressar ao eu torna-se necessário para a sanidade mental e para o restaurar de almas cansadas. O primeiro passo é o arrumar do passado, perdoando-se. Aceitar que não somos perfeitos e que por vezes falhamos ver o óbvio, contribui para um continuar mais tranquilo. Depois da decisão tomada mentalmente, há que a saber verbalizar parando de adiar. Temos que ser capazes de enfrentar quem muito provavelmente se vai opor por não estar preparado, por se ter apropriado do que nunca lhe pertenceu, ou por puro medo de recomeçar. Quando a porta que sempre usámos para entrar e repousar do mundo se fechar na direcção contrária, para a saída, teremos que usar de toda a força que somos feitos e encarar os dias, os mais difíceis e quase insuportáveis, que chegarão muitas vezes, mas com o tempo, a paz conquistada e a certeza de que estamos certos acabará por se instalar e depois há que lutar com o mundo sozinhos e mais expostos.
Estar sozinho, sobretudo quando se é mulher, obriga a uma cautela acrescida, a um recato que nos deixe pensar e repensar o que não correu bem. Se juntarmos a tudo isto o sermos mães, o que é pequeno amplia-se e o esforço que até já era enorme antes, agiganta-se e por vezes ameaça engolir-nos. O depois e o passar do período negro compensa tudo. Sermos nós a comandar, a decidir, a deitar a cabeça de forma tranquila, mesmo que exista muito por resolver, carrega-nos as baterias para mais. Não vou falar das trivialidades, do comando da televisão, dos banhos prolongados, das saídas à meia-noite para acudir a uma amiga, sem perguntas e cobranças. Não vou referir o dançar nua e o rir à gargalhada sem olhares desaprovadores, porque tudo isso é perceptível. O que quero referir é que estar sozinha deve ser uma preparação, uma formação contínua para o momento em que o deixaremos de estar. Estar sozinha será tão bom quanto conseguirmos manter-nos a sonhar pelo dia em que alguém chegará e ficará connosco, repondo o que se perdeu. Não o façam por terem desistido de ser feliz, encarem o agora como um depois melhor e procurem sempre, até encontrarem, quem mude o que já conquistaram.
Desejo-vos muitas horas de colo, de risos, de afagar dos cabelo e de beijos genuínos. Espero que morram de um amor que não vos abandone e que vos prove que se ficaram sozinhos, algures no tempo, é porque se estavam a preparar para serem finalmente dois. Isto é tudo o que sei e até reconheço que não sei o bastante ainda, mas espero ter ajudado!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.