Estava a precisar de te ver e que tu me visses, desta vez com mais cuidado, percebendo o porquê, se é que ele existe, de nos querermos e de sentirmos o que não parece ser explicável. Perdi-te, o tempo não quis parar, nem ser generoso para nos juntar, mesmo que por mais uns minutos. Perdi-te porque acabámos ambos a permitir que a tristeza e a desilusão se instalasse. Perdi-te porque quando te tive, nunca foste meu realmente. perdi-te para a vida que resolveste abraçar, não me escolhendo como dizias ter feito lá atrás.
Não me fica bem dizer que te avisei. Que me avisei a mim mesma que isto aconteceria, que nos iríamos magoar aos dois, ou permitir sofrer. A verdade é que o vi chegar, que pressenti no minuto em que ouvi a tua voz, que nada mais seria igual. Mas não me fica bem deixar de dizer que me recuso a ser a tua segunda opção. Estava pronta, queria mais e podia ter-te dado muito mais. Sei que não deveria, que nem sequer precisava de complicar, de ter que fugir, de sentir o desconforto de não te poder ter quando sentisse vontade, quando o meu corpo quisesse ser tocado, mas e agora o que faço porque o que tinhas para fazer foi feito com frieza, a protegeres-te do que adivinhavas difícil.
Vou continuar a fazer perguntas, a mim mesma e ao universo, mas a verdade é que já não preciso de saber. Quero apenas enrolar-me, adormecer e acordar outra vez em controle da minha vida, voltando a ser eu. Se isso implicasse nunca te ter conhecido, julgo que seria bem melhor, para mim claro. Se mesmo sendo mais cobarde conseguisse sentir-me mais segura e menos exposta ao que não conheço nem explico, juro que o escolheria. No entanto agora resta-me apenas esperar!
Quem é que não mataria por um momento no qual duas bocas sentissem que tinham sido feitas para se encaixarem, para soprarem o melhor de cada um, com desejo, com alma e com vontade de jamais precisarem de outra coisa que não de um beijo completo. Por umbeijo daqueles que tiram o ar, que arrancam sensações que não se explicam, que se conseguem reter e quase permitir que tudo o resto não importe, estaríamos os dois mais do que prontos. Por um beijo cheio de ti dentro, com os lábios a sorverem o sabor que os meus soltariam, porque também eles se adaptam, aveludam e me passam os desejos que consigo esconder quando sorrio tímida, fico ansiosa que me reconheças e que sintas que já nos unimos antes. .
O que me poderia fazer entregar-me, tremer das pernas, flutuar e esquecer-me do que fujo? O que me faria ser inteira, a olhar e a sentir quem importa realmente? Tu e a parte de ti que nunca me poderia enganar, porque sempre que me beijasses saberia. O que quer que tenhas e sejas poderá ser-me passado, permitindo-nos um momento pelo qual muita gente espera e nem sempre tem forma de alcançar.
Por um beijo que nos unisse e mudasse, mataria sim e morreria a saber o que me tinha acontecido!
Tens que ser parecido comigo em muitas coisas e precisas de ter em comum o que me move. Não precisas de gostar das mesmas canções, mas precisas de gostar de música e de a carregar como a carrego para todo o lado e sempre. Não tens que saber dançar, mas o melhor seria que soubesses e que me conduzisses, envolvendo-me nos teus braços, soprando-me as palavras que me arrepiariam por dentro e que me fariam entregar-me, mal me aninhasse em ti.
O que nos poderá unir será o que tivermos em comum. Terás que gostar das palavras, de as usar sem medos, taco a taco comigo, parando-me quando o falho fazer, nem que fosse com um beijo intenso para me recordares que sou mais do que digo e escrevo.
Um homem parecido comigo vai querer ter o mundo como casa, não se parando pelas pequenas quebras da vida e sabendo como sonhar sonhos comuns, daqueles que saberemos como realizar. Se fores, no essencial, parecido comigo, gostarás de te deixar estar quieto, apenas a sentir, sem ter que responder a questões sobre como começou o mundo e sobre o que fazemos aqui. A tua intensidade será maior do que a minha e saberás como me exigir que me entregue sem questionar muito, porque contigo estarei em paz e segura.
Para que me faças ver-te, para que me ensines a ter em ti o maior amigo, o confidente, quem me limpa as lágrimas ou ri das minhas gargalhadas, tens que ser parecido com o que me pareço eu, estando onde estou, mesmo que não estejas realmente, porque ter-te só pode ser isso, saber o que pensas e de que forma reagirás aos meus desejos realizados, às minhas conquistas e aos poucos, muito poucos medos que ainda tenho.
Se tiveres em comum comigo o amor que se expande para todos quantos já amávamos antes de nós, entenderás que ninguém estará em primeiro lugar, nem sequer à tua frente, porque o que tenho reservado para te dar mais ninguém conseguirá reclamar. Se te pareceres comigo saberás do que falo quando digo que poderemos e teremos forma de nos encaixar tão bem, que nunca precisaremos de dizer mais do que um olhar de cada vez que nos olharmos mesmo.
Se és tu e se te consegues parecer comigo, anda, arrisca, temos tudo para dar certo!
Menos razão na emoção! Como conseguir contrabalançar as duas, não sendo em demasia, em nenhuma?
Quando queremos muito alguém, mas gastamos mais do nosso tempo com os "ses" e os "mas" que inevitavelmente nos irão impedir de a ter, então a razão está a sobrepor-se à emoção. Estamos a permitir que os nossos medos, os tais que apenas existem na nossa mente, nos empurrem para a direcção contrária, tornando-nos menos humanos, menos abertos aos abraços sentidos, daqueles que nos mudariam, para melhor, para passarmos a ter apenas silêncios e os mesmos lugares.
Não precisamos de mergulhar em águas turvas, de repente, lançando o que somos e conseguimos para o ar. Precisamos apenas de juntar as forças que nos dobram, e encontrar soluções possíveis. Passinhos de bébé, mas um pouco mais firmes. Planos definidos, mas com as adaptações e os ajustes que nos façam sentir mais confiantes para prosseguir.
Quando entendemos que já temos o mais importante, e que passa pela amizade, o respeito e o amor que vemos crescer, então só nos falta ir aumentando a velocidade, apenas tendo especial cuidado nas curvas e nos pisos molhados.
Vou tentar quebrar, de mansinho, os medos que vão indo de ti para mim e preciso que faças o mesmo, e que na tua vez me ajudes a ver de forma mais clara, sem que tenhamos que desistir um do outro. Terás que tentar que eu seja menos cerebral, e que te saiba incluir, fazendo planos audíveis, porque precisas de os conseguir ouvir, e não apenas de os imaginar. Vou continuar a manter-me optimista e forte o bastante, para que não arrisque deixaste desistir, não de mim.
A razão só servirá enquanto complementar a emoção de que é feita a relação que ainda estamos a construir. De contrário, será apenas um travão para o que até já sabemos que queremos.
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.