Quem és tu Mulher?
Quem é afinal a Mulher, esse ser tantas vezes mal interpretado, quase sempre lido ao contrário e para muitos tão complexo quanto a forma como se expressa?
Vivemos na era que nos acolhe, cheias dum entusiasmo que contagia os mais céticos, mas que mesmo assim lhes força a procura das legendas que nunca terão forma de ler em todas as línguas. Ainda tomam por garantida a força de que somos feitas, esquecendo-se de que carregamos o início do mundo e que lhe impediremos o fim tão anunciado. Renascemos das cinzas todas as manhãs após noites pequenas, dormidas à pressa e muito depois de todos se terem colocado na dianteira para que os cuidemos e tantas vezes nos esqueçamos de ser cuidadas. Solucionamos o que parecia não ter solução e ainda encontramos tempo para os que nos cobram o que nem sempre queremos dar. Somos resistentes aos desejos quando nos coíbem de os mostrar, mas também já os gritamos apenas porque podemos e porque apenas assim saberão o que nos liga os botões.
O que diz a Mulher quando parece estar a falar em códigos que nem a NASA entende e para os quais não existem manuais apropriados?
Nada como uma Mulher para saber sempre do que fala outra Mulher, do que padece e do que diz que se esquece para se esquecer de tudo o que lhe falta. Falamos de tudo, contamos e recontamos as experiências mais íntimas, quiçá na esperança de que sejam as melhores. Julgamos em atitudes feias, mas corremos para abraçar todas as que por nós chamarem, sabendo sempre o que dizer e dizendo ainda assim tantas parvoíces, que essas sim poderiam servir para compilar grandes manuais sobre complexidade humana. Amamos com uma intensidade que desarma os não entendem porque recusamos que nos vejam como os únicos seres que amam no planeta. Ignoramos as dores que retirariam o protagonismo das dores dos nossos e sofremos caladas, mas esperando que algures na vida que nos coube, exista quem nos saiba ler sem palavras e nos oiça sem os sons que o mundo abafa. Adoecemos como qualquer outro mortal, mas sentimos nunca poder estar suficientemente doentes para que nos afastemos dos que contam com a nossa quase interminável resistência emocional.
Quem somos agora, nós as Mulheres dum século cheio de benefícios, mas ainda tão julgador e redutor de sucessos?
Somos o pilar de qualquer casa e se ruirmos por não aguentar o peso dos que nunca nos aligeiram a jornada, derrubamos almas que apenas passarão a vaguear por aqui, sentindo falta de tudo o que não chegámos a dar. Somos seres excecionais e por isso temos o dever de "produzir" homens que nos respeitem o bastante para que tudo o que nos cabe nos chegue sem esforço às mãos, até porque foi de nós que cada um se apresentou ao mundo. Seremos, hoje e sempre a razão pela qual muitas outras Mulheres derramaram verdadeiras lágrimas de sangue e por isso lhes devemos mais coragem e muitas mais certezas, porque no dia em que nos reconhecermos o real valor, o mundo nunca mais terá como nos diminuir ou ignorar.