Feel Me

Lá atrás, no meu passado, considerava-me inteligente o bastante para conseguir mudar o mundo, hoje considero que sou suficientemente sábia para perceber que apenas me posso mudar a mim!

Podemos sempre ir mudando o mundo de alguém, diariamente, mas podemos escolher fazê-lo pela positiva, passando o que já aprendemos e sendo suficientemente generosos para nos doarmos sem pedir nada em troca. Há tanto que nos ensina o tempo, quando queremos mesmo aprender e a aprendizagem deixa-nos mais plenos, mais livres e libertos para simplesmente viver. O tempo permite-nos prosseguir, escolhendo o caminho, marimbando-nos para as escolhas alheias e alheados dos males do mundo e parando de lhes anuir.

Lá atrás sonhava em fazer a diferença, passando pelas pessoas deixando algo de importante e recebendo de toda a importância que me dariam, mas com o tempo acabei a sorrir mais para mim mesma, sentindo que terei que ser eu no leme da vida que escolhi e escolhendo criteriosamente quem fará parte dela.

Deixo-vos com um pequeno poema sobre o tempo da actriz Bruna Lombardi e com o desejo de que o saibam usar bem:

"Para onde vai o tempo depois que passa por nós? Chega  em um ponto de passagem, como um rio em sua foz e desemboca no imenso, onde já não existe tempo, existe uma outra essência, uma outra qualidade. Uma espécie de abrangência, uma absoluta verdade. Deve ser lá nesse espaço, onde o tempo flutua no meio dos planetas, dos asteroides, das luas. Ele fica se deliciando depois da missão cumprida e pode ficar descansando, pelo resto de todas as vidas".

"Quando sabes mais, fazes melhor" - Como dizia Maya Angelou.

Se não ensinas aos outros de que forma queres ser tratada, como é que esperas que o saibam?

Deveria ser fácil perceber que o respeito, a atenção ao estado emocional do outro e o cuidado quanto ao uso das palavras, terão que estar sempre presentes quando alimentamos relações, sejam elas de que tipo forem, no entanto, para alguns e porque carregam demasiadas mágoas e dores invisíveis, só se sentem prosperar quando diminuem.

Não me canso de falar na Lei do Retorno, mas para os que escolherem duvidar do seu efeito, só terão que continuar a ser da mesma forma, egocêntricos, maquiavélicos, impuros e vazios. A esses desejo toda a sorte do mundo, porque vão mesmo precisar!

Se não usas as palavras que te assolam à boca de imediato, vais mantê-las guardadas na garganta e sentir que se forma um nó que se estende a todo o corpo, deixando-te incrivelmente dorida. Se não puxas dos galões para colocares no lugar devido quem achou que te deveria invadir, vais continuar a passar a mensagem de que não tens fronteiras e que a tua "casa" interior é de todos. Se não bates o pé quando te roubam o sossego e deixam em claro as noites que te pertencem, vais ficar a cada dia mais fragilizada, dando aos outros, aos matadores da paz alheia, já que a deles não existe, o direito de te estragarem o que tanto te custa a criar.

Se não aprenderes a ter uma voz clara, tudo o que disseres vai ser sempre insuficiente.

Não te dês permissão para permaneceres limitado, desculpando-te com os outros, com o exterior e com tudo o que supostamente não controlas. Escolhe vibrar na frequência mais alta, sentindo orgulho em ti e no teu percurso, envolvendo-te na coragem que a vida sempre nos exige; Sendo mais neutro e permitindo que dessa forma cada um viva a sua própria jornada; Aliando a razão à emoção para que exista equilíbrio e sentindo que a paz e felicidade chegam quando vivemos envoltos no amor próprio que se estenderá aos outros. Não te dês permissão para repetires o que te deixa desconfortável e te adoece o corpo e a alma, sai da rotina de negatividade e acredita que o conhecido nem sempre é seguro, apenas te limita e impede de viveres o que já reconheces existir.

A vergonha e a culpa perante o que fizemos de forma errada ou deixámos por fazer, apenas nos inflige mais dor, agravando o medo e a raiva até perante os que não desistem e cuidam de se cuidar. Vibra por isso com consciência, sendo mais receptivo e aventureiro. A vida é bem maior do que o teu "quintal". 

Levanta-te do lado oposto da cama, muda as rotinas, começando pelo fim e enchendo-te de pensamentos bons mal despertes, porque a repetição faz o hábito e o hábito continuado de qualquer rotina, imprime a tua personalidade. És fruto de tudo o que pensas e sentes e de cada vez que atribuis aos outros  "culpas", retiras-te poder.

Não te dês permissão para desistir do que te tornará a pessoa que quererás ter por perto no final da jornada. 

Como está a tua relação contigo?

Ouvimos e lemos vezes sem conta que se não nos amarmos, nunca teremos forma de amar os outros e de receber o amor que nos têm. Ninguém deve ser responsável pela felicidade do parceiro, porque quando ele ou ela precisa de se misturar no outro para que se tornem em apenas 1, então o resultado final será o de duas meias pessoas. Somos seres únicos, mas muitos demasiado danificados para se sentirem bem com o que são e conquistaram. Do que nos vale ter um carro topo de gama se vivemos em constante dor e ressentimento?

A melhor relação que podemos ter, é connosco, porque as outras vão e voltam, mas nós permanecemos para sempre e até ao final dos nossos tempos com o nosso corpo, coração e alma. As pessoas carentes apenas atraem relações falhadas. Nunca teremos forma de fazer outra pessoa feliz, dando-lhe o que precisa se elas mesmas não se sentirem felizes, seguras e amando-se. É exactamente isso que presenciamos com os ciumentos, porque na realidade não se valorizam e reconhecem de forma a sentirem segurança por parte do parceiro, achando sempre que irão ser enganados e abandonados.

Foge das pessoas danificadas, não as tentes sarar, porque falharás, essa tarefa cabe aos profissionais de saúde mental, a ti apenas te cabe amares-te para NUNCA permitires abusos, venham de onde vierem, não importa a capa de mentiras com que se envolvam. Olha bem para o que sentes de cada vez que te olhas ao espelho e percebe que apenas serás capaz de dar o que já tiveres. Quem entrar na tua vida deverá ter como missão acrescentar e não providenciar, a tua eterna missão será a de cuidares de te manter saudável, poderoso e confiante.

Como está o teu volume de amor? Demasiado alto, ou com o tom que fará com que o teu amor próprio encoraje os outros a procurarem os seus, focando-se no que permanecerá vida fora e que vai muito para lá do que o corpo mostra? A quem escolhes amar em primeiro lugar?

Sabe-me TÃO bem receber o que vou pedindo, por bem, para que sirva sobretudo aos que amo, porque deles depende a minha sanidade e felicidade. Sabe-me pela vida sentir que as coisas se encaixam e que tudo volta para os lugares onde fazem sentido. Sabe-me bem saber que faço parte dum Universo bem vasto, mas que tem uma posição para mim. Sabe-me bem ter e dar cada vez mais amor.

Não somos filhos dum Deus menor, temos o mesmo valor e merecemos o que fizermos por ter, dando sem olhar à quantidade, ao tempo, ou sequer a quem. Precisamos de saber como manter o foco, nunca nos desviando do que fomos sonhando e desejando, porque o como e o quando ser-nos-ão devidamente revelados.

Sabe-me TÃO bem saber que existem pessoas à minha volta que me continuam a manter com a fé em alta, agradecendo pela sua existência e continuando a existir para as honrar. Sabe-me bem verbalizar a gratidão que carrego sempre que cumpro o que sei que vim fazer e que a cada dia faço melhor. Sabe-me bem saber que o BOM se espalha de forma veloz, contrariando a onda de MAL que ainda persiste, mas que já filtro com mais sabedoria. Sabe-me bem saber das certezas que vou sendo feita, hoje bem mais do que ontem, porque apenas assim reconheço que evoluí. Sabe-me bem ter-te.

Estou de volta ao ser que vim "aqui" para viver. Estou mais do que pronta para o perdão que me exigem os que não se reconhecem e apenas deambulam por este mundo, muitas das vezes pisando e escarnecendo dos outros. Estou livre dos sentimentos que me escureciam o coração e impediam de seguir em frente, sendo da importância que mereço. Estou incapaz de me voltar a zangar com quem se esvaziou, algures no tempo que não vi chegar, mas que agora está para ficar e que por isso mesmo escolho perdoar. Estou livre dos que não souberam o que fazer comigo para que fosse feliz. Estou determinada a deixar seguir os que na verdade já há muito não estão comigo. Estou na minha sintonia, sem os pesos que não pretendo carregar e aceitando que alguns nunca serão do meu formato e que jamais conseguirão ver para lá de si mesmos. Estou sarada, leve, preparada para a nova viagem e ansiosa para que comece e me leve, finalmente, para o único lugar onde deverei estar.

Estamos, muitos de nós, demasiado voltados para o que acreditamos ser o certo, sem nos darmos ao trabalho de reavaliar, olhando com atenção para o que somos e fazemos e o quanto isso impacta nos restantes seres que também fazem parte do nosso universo. Estamos, a cada dia, mais voltados para dentro e incapazes de esvaziar todo o lixo que acumulámos. Estamos a poucos centímetros de nos deixarmos totalmente sós. 

Vou partilhar convosco um poema de Valerie Cox - O ladrão de bolachas - que com a devida tradução infelizmente se perde na rima, mas que é bem exemplificativo do que vos escrevo:

Uma senhora que aguardava no aeroporto pelo seu voo que estaria ainda por horas, procurou por um livro e comprou um pacote de bolachas, sentando-se ao lado dum senhor bem careca. Foi lendo o livro e comendo das bolachas que estavam no saco entre eles, mas à medida que tirava uma, o senhor fazia o mesmo, sem sequer lhe pedir. "Se não fosse simpática, deixava-lhe com o olho negro", pensava ela do insolente. As bolachas foram sendo comidas, até que chegaram à última, a qual o senhor partiu e dividiu com ela, carregando um sorriso. Agarrou a metade oferecida, bem furiosa e virou costas seguindo para o avião. Quando se sentou, agarrou no saco, ainda de ar carregado e finalmente percebeu que tinha o pacote das suas bolachas intactas. Afinal a ladra das bolachas fora ela, pensou cheia de vergonha,  e toda a indelicadeza e desrespeito tinham sido inteiramente suas.

Estou a cada dia mais convicta de que precisamos de começar a olhar mais para a frente, em direcção a outros olhos, aqueles que poderão bem espelhar o que ainda nos falta.