Quando percebes que não podes manter quem reconheceste e por quem mudaste tu e a ti mesma, aceitas.
Quando se vai, vai. Quando te esgota, consome e "mata", deixas ir e aceitas.
Quando a decepção deixa de te importar, porque terá vindo com demasiada força, a ser o que nem acreditavas poderes aguentar, decepcionas-te e aceitas.
Quando te lembras que até as pequenas batalhas terão um dia que ser terminadas, determinando quem as venceu, aceitas.
Quando admites que foste demasiado tonta e inocente, mas apenas porque querias mesmo muito, sobretudo acreditar, mas que apenas te magoavas, mais e mais a cada dia, retiras-te e aceitas.
Quando te mentes, dia sim e dia também, ao ponto de já teres na boca o paladar de cada palavra, envergonhas-te de ti, decides que tens que parar e aceitas.
Quando as lágrimas se recusam a correr e sentes que as secaste porque não podias mais, não tinhas como te manter a sofrer mais, sorris e aceitas.
A Rita está numa relação que vai e vem num começar e terminar constantes. Não sabe como a dirigir, não consegue apenas ir recebendo e sente que em todas as etapas também não consegue dar o que basta. Não ter qualquer poder para parar ou sequer desistir, tem-lhe provado que não poderá saber quais os passos que virão a seguir. A Rita é literalmente manipulada, sabe-o e permite. Porquê? Em nome do quê? Talvez daquilo que ela acredita ser o que precisa, e ultimamente parece precisar de muito pouco. Basta-lhe a voz do Paulo nos telefonemas dos quais retira pouco sumo, porque nunca diz nada que o faça reconhecê-la ou aceitá-la. Recusa que se apelidem de namorados. Nunca a identifica perante nenhum dos poucos amigos comuns. Vivem num submundo e aceitam num pacto mudo o que apenas um decide.
- Continuas a não saber o que ele quer de ti e aceitas?
- Oh amiga, mas eu não funciono sem ele, faz-me tanta falta, fico nua se não o tenho.
- Pois, mas pareces funcionar quase nada com ele, e a verdade é que não o tens e percebo que te
sintas nua, vives rodeada de uma inércia e aceitação cega. Dói-me ver-te assim e não poder fazer
nada.
As relações dos outros e até mesmo as nossas, chegam quando não esperávamos e mantêm-se mesmo quando duvidamos e por vezes terminam a parecer que nunca aconteceram. Mas não saberes quem és e o que precisas para te afirmar como a outra parte de duas, vai sempre originar sobreposições, amargos que não se controlam e desejos que nunca passarão disso. Não saberes, é isso mesmo, não teres nada que valide o que acreditas estar a acontecer. Não saberes quem és, é recusares-te e mesmo assim continuares. Não saberes é morreres a cada dia mais um dia!
Como tens a certeza de que estás a cuidar? Quando é que sabes que o que fazes faz mesmo bem ao outro? De que forma te envolves o bastante para conseguires envolver?
Não são receios, nem considero que exista algo de errado no questionar, porque temos que estar atentos, devemo-nos a nós e ao outro o cuidado que se coloca em tudo o que se ama. Por vezes as dúvidas chegam sem que nos demos conta, a ameaçar o equilíbrio, mas elas desempenham um papel importante, porque são o barómetro, o alerta vermelho e a atenção que nos foge amiúde. O que não devemos mesmo e em nenhuma circunstância, é ignorar, é deixar de ver de cada vez que olhamos, porque do nosso lado vamos querer quem esteja mais feliz e mais completo do que nós. Não é entrega desmedida, é sabedoria, porque quem está bem propaga o bem. Quem se sente amado, ama de volta. Quem sabe que pode contar connosco, nunca deixa de estar pronto para nos cuidar.
Quando é que sabes que estás a fazer bem? Quando os sorrisos te são devolvidos sem que precises de os pedir.
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.