Feel Me

Viagens que me levam nos pensamentos que sempre uso para me saber direcionar. Percursos nos quais recordo muitos outros para os quais fui cheia de esperança, mas voltei esventrada do que eu mesma criara. Idas e vindas numa estrada que passou a ser tão cruel quanto o tempo que a demorava a percorrer. Tormentas em alcatrão mesmo que sem ondas altas. Viagens que fazia para que percebesse até onde seria capaz e ir e a verdade é que fui sempre, mesmo que voltar me trouxesse ao único mundo que tenho. Viagens que muito provavelmente precisei de fazer para saber um pouco mais sobre mim, mas que de bom grado esqueceria se ao menos mo permitisse.

Será que escolhemos, de alguma forma, conscientes ou não, quem decidimos precisar, ou somos apenas peões em jogos sem instruções?

Ir, mesmo que num percurso habitual, nunca mais será igual e vir, olhando para o quanto já "caminhei", passou a saber-me aos sonhos que não consegui pôr em prática, até quando achava que estava a ser e a dar tudo. Transpôr os limites da minha capacidade emocional preparou-me para muito, é nisso que quero acreditar, mas arrancou uns quantos pedaços da alma que desejava ter mantido intacta. Aceitar o inaceitável e ainda assim continuar, insistindo e persistindo, não fez de mim uma mulher mais resiliente, apenas me ajudou a entender o que ainda me falta conquistar.

O frio instalou-se em todos os poros e passou a escorrer pelas veias que entupi de maus sentimentos e de tanta falta de amor. Regressei ao meu ponto de partida, mas já não sou a mesma. Atravessei um túnel de escuridão emocional e conheci o pior das pessoas. Não precisava de ter vivido in loco o que já sei existir. Não me fazia falta que me enchessem das dores que agora ameaçam corroer-me, porque a culpa invade-me e as saudades de mim, da mulher que sei que já fui, permanecem em todas as horas do dia. Ainda estamos no inverno, eu sei, mas continuar gelada e incapaz de aquecer o sangue que se recusa a circular da mesma forma, está a afastar as primaveras da vida. O frio instalou-se e com ele a descrença, o olhar por cima do ombro e o acumular das dúvidas que já nem sequer tinha.

Por causa de ti, e até que seria bem mais fácil poder acusar-te de tudo, deixei de conseguir ver com o mesmo olhar e passei a olhar-me de fora sem qualquer generosidade. Gostava que fosse apenas por causa de ti, mas a verdade é que foi de mim que saíram as mentiras que me contei. Repeti-me o que nunca disseste e ouvi da tua boca o que preferia nunca ter sabido. Afastei-me do meu propósito, o que já me guiava o norte e nunca mais me voltei a encontrar.

O frio instalou-se e nada do que faça parece conseguir afastar o que sozinha permiti que chegasse!

Ela, como a vejo e sinto quando a toco. Ela que me testa a cada palavra e que se sente testada de cada vez que a bombardeio com as perguntas que me serenam a mente. Ela que passou a ser a melhor parte de mim, mas que também ativa as piores, provocando-me uma insanidade temporária. Ela que tudo parece saber, mas que sabe tão pouco de mim e do que pretendo dela. Ela que me reajusta as rotas e pinta o céu com as estrelas que nos iluminam. Ela, porque nenhuma outra poderia ser, não neste ponto e momento. Ela, para que reaprenda a amar.

Não sei de que forma esbarrei em quem me barrou a vontade de permanecer sozinho e sem rumo definido. Ainda estou a tentar perceber quem é e de onde veio para que chegasse até a mim. Tenho-me dado sem demasiados medos, mas completamente aterrado perante a possibilidade de não ser o suficiente. Sou uma versão mais moderada, mas igualmente cheia de tudo o que acumulei e quase me levou de quem me reconheceu e aceitou. Não sei ao que me saberia um novo sabor e já não o procuro, mas acabei por saber que me sabe a tudo o que ainda não tinha provado.

Ela que me ama sem qualquer esforço, fazendo apenas o que diz sentir e dizendo-o sem que me caibam dúvidas ou questões existenciais. Ela que ME enche duma voz que entra corpo dentro até que deixe de ouvir o que antes me soava a normal. Ela a quem devo um caminho novo e o repavimentar de tantos quantos já pisei. Ela a quem já aprendi a amar!

Se o que desejas é algo melhor, não importa o quê, precisas de começar a sentir de forma diferente. Se o que precisas de ter de volta é o que ainda não foste capaz de dar, dá-te tempo para reajustar o que servirá para te melhorar. Se estiveres a um passo de dar passadas maiores rumo ao que tanto antecipavas, começa já hoje, porque qualquer dia é um dia bom.

O coração, esse órgão que tanto nos testa 

Nada como a entrada direta no coração que julgávamos fechado para balanço, para que tudo passe a ter sabores novos e o velho seja dissipado à mesma velocidade. Tudo o que se encaixa sem esforço, mesmo que precisemos sempre de nos esforçar para que se mantenha, é bem mais passível de ser entendido e aceite. Os que nos estiverem reservados acabarão por chegar, quer estejamos preparados ou distraídos, mas de cada vez que percebemos ao que vieram e o que deveriam ensinar, deixamos de remar ao contrário, reclamando até da sombra.

Se o que desejas é que te desejem da forma que se encaixará no teu novo formato de vida, não te afastes demasiado da vida, da realidade e das oportunidades. Se o que tens hoje não é ainda o que te basta, talvez baste que te decidas a recomeçar, delineando cada novo percurso. Se o que desejas é ser amado sem condições que te condicionem, pára de condicionar quem estiver pronto para o fazer.

A cada dia um mundo novo e um olhar diferente. A cada decisão uma experiência e mais responsabilidade perante quem nos responsabiliza pelo amor que fazemos crescer. A cada olhar uma forma certa de ver quem nos chega e muda os planos.

Avançar devagarinho após passos decididos, é o que nos sustenta as escolhas que teremos que fazer, inevitavelmente e para que nos acertemos com quem nos acerta os ponteiros do coração. Cuidar de cada toque, afagando o rosto que queremos voltado para nós, faz com que já não olhemos apenas para dentro. Amar na medida certa, nem que certo seja apenas o desejo de ser amado, é a tarefa seguinte, a que acabará por vir quando ambos já tivermos vindo, cada um na sua passada, mas na direção em que se encontra o outro.

A cada dia mais uma nova oportunidade de ser e de fazer mais por quem tanto faz por nós ao escolher amar-nos. A cada dia um beijar a saber aos beijos que continuaremos a querer dar!

Escolhas que te cabem!

Tens que ser tu a escolher o humor que envolverá o amor. Cabe-te inteiramente a entrega, o empenho e a capacidade de encontrar o que te devolverá a pessoa que sempre foste. Tens que ser tu a identificar o que te magoa e faz sorrir, mais ninguém poderá ter a chave da vontade e do olhar que nunca será igual a  nenhum outro. Tens que ser tu a superar o que não correu bem, avançando mesmo que após uns quantos recuos. 

Perceber que por vezes não chegamos a perceber nada, fragiliza, mas também pode motivar e impelir a melhorar. Continuar, dia após dia, a ter que recorrer a muitos mais dias para que um qualquer acabe por bastar, cansa, mas também impede de desistir. Desejar que o querer baste, o nosso em primeiro lugar e depois o de quem já deveria saber o quanto nos quer, estilhaça-nos, mas ainda assim não chega a quebrar.

Tens que ser tu a saber que importância tem o amor que te envolve, envolvendo-te em tudo o que te trouxer. Nem sempre será o melhor ou o desejável, mas todos os toques e inúmeros beijos que te trarão de volta o desejo que mantinhas escondido, avivarão o que te terás que viver, porque assim o determinaste. Tens que ser tu a escolher quem ficará na tua vida!

Pessoas que se encaixam!

Foi por ti e agora para ti, que passei a permitir-me passar os sentimentos que nos alimentam da forma certa. Foi por ti que parei de sentir medo de me voltar a apaixonar, mas também foi contigo que senti que a falta de controlo perante o que poderá chegar me enfraquece, e testa. Foi por ti que me desnudei como nunca fiz com ninguém e é para ti que me ofereço inteira, todos os dias e sem reservas, esperando que me esteja reservado o mesmo.

Não existem formulários esclarecedores no que concerne o amor. Não temos à mão manuais de boas práticas nem sequer testemunhos que validem os nossos. Não sabemos, muitas das vezes, do que nos caberia já saber, mas poderemos sempre ir tentando e prosseguindo. Não somos muito que valha a pena se formos apenas nós, mas nem sempre seremos a nossa melhor versão enquanto acompanhados. 

Que viagem tem sido a nossa, cheia de paragens, avanços, recuos, mas também com ambas as mãos cheias de muito amor. Tantas tentativas falhadas, mas ainda assim com inúmeras provas superadas. Tanta vontade de manter viva a chama do que nos sustenta e tantos goles inteiros de um amor que nos continua a alimentar. 

Sabes, porque te contei, quem sou, até onde me sinto capaz de ir e de que forma preciso do teu amor para o poder multiplicar. Sabes, porque me expliquei, que explicações me deverás dar se me quiseres ouvir explicar o que me está dentro e o que nunca aceitarei de ti, mesmo que me ames. Sabes e soubeste-o atempadamente, o que deixei para trás, que passado me inundou enquanto me reconstruía e que presente quero ter enquanto desenho o futuro onde até poderás estar. Sabes o que consigo dar porque me dou inteira sempre que me tens e tens de mim todas as certezas que te afastam as dúvidas. Sabes o que sinto quando me beijas e sabes que existe muito para lá de cada carinho, afago e abraço. Sabes que amar-me te desafia a ser melhor e que amar-te me permite ser da forma que mais ninguém conhece. Sabes que continuarei e tentar manter-nos, deixando para trás o que me enfraquece e também sabes que apenas preciso de saber de ti e do quanto me queres, para que te queira para sempre. 

Para que o sorriso volte...

Um dia serás amada, não te apresses. Um dia sentirás o teu corpo no corpo certo e o que julgavas nunca chegar, acontecerá como acontecem os dias que precedem as noites. Um dia alguém te recordará do quanto és bonita, mesmo que já não o sintas, e nessa altura sentirás tudo em catadupa, enchendo-te e preenchendo-te do que merece ser vivido.

Não desistas ainda, continua a acreditar no que consegues ouvir de cada vez que te sossegas e os sons te soam a verdades que ninguém conseguirá rebater. Aceita os finais que terão que acontecer para que a tua vida finalmente aconteça. Procura por quem quererá ser encontrado e caminha apenas pelos caminhos que te serenem a mente e firmem as passadas. Oferece-te o direito de reconheceres a pessoa certa mal acertes na "lotaria" da vida e interrompe o infinito ciclo da conformação. Obriga-te a obrigar todos os outros a manterem a atenção de cada vez que te olharem e usa bem as palavras para que ninguém se atreva a duvidar. Sê a única condutora do teu destino e reinicia a viagem.

Felicidade versus realidade

Já tive tudo. Já soube qual era o verdadeiro sabor dum início com muito caminho para fazer e acreditando que o seria para sempre. Já me senti tão especial quanto me fazia e fiz-me especialmente grande sobretudo por acreditar. Já esperei confiante pelo que teria que acontecer e já me aconteceram muitas das coisas pelas quais não tive que esperar, apenas desejar e sonhar.

Nada nos prepara para o momento em que a vida nos roubará a capacidade de permanecer para lá de qualquer adversidade, sobretudo emocional. Talvez seja suposto acontecer assim, ou talvez estejamos a adiar, desde o começo, o que inevitavelmente terá que chegar, porque nenhuma cor se manterá sem nuances, não por muito tempo e não quando a noite se sobrepuser ao dia.

Já tive tantos planos escritos com enormes sorrisos e confiança, que hoje me forço a procurar pela menina que muito terá para ensinar à mulher que me tornei. Por vezes reencontramo-nos, mas por tão breves minutos, que a vontade de a não perder de vista me alimenta e impede de parar de acreditar. Já tive tudo, mesmo e até quando não o sabia!

Escolhas...

Eu quero, tu queres e parecemos querer ambos, seguramente que não o mesmo, mas estou certa de que o determinaremos um dia! 

Quero o que me move para que me saiba mover de forma segura, primeiro comigo e por mim e depois na direção de quem eventualmente me faça sentir que sou vista. Quero um coração que bata descompassado, mas cheio de sentimentos bons e de emoções que o alimentem e mantenham sarado. Quero esbarrar em quem me consiga querer, sem que para isso o mundo precise de mudar a rota. Quero a normalidade inquieta e a inquietude que deixa tudo com sabor a normalidade e quero saber onde e como estar com quem esteja comigo. Quero tanto e tão pouco, que passei a usar de uma bitola que me defina sem que precise de me questionar ou permitir que me questionem.

A maturidade é muito mais do que todos os números que nos esfregam na cara para justificar o que ainda não conquistámos, ou o que até já conseguimos perceber. Ter nas mãos o poder de ir e voltar quando e sempre que se justificar, amadurece-nos, mas também nos verga se nos arriscarmos a ignorar o que se entra olhos dentro. A maturidade que vejo crescer, emocionalmente, mostra-me os lados cheios de luz, mas também os que escurecem a cada dia pela inércia e incapacidade dos que se recusam a amadurecer, mas desses estou totalmente protegida. A maturidade, como a vejo, permite-me ver para lá do que dizem ser e ter e é nela que me apoio para cair menos vezes, mesmo que não me consiga impedir de sentir a dor que cada tropeção originar.

Quero continuar a andar por aqui com umas quantas passadas firmes, mas mesmo que algumas sejam plenas de dúvida e constante busca, saberei sempre o que ser e o que fazer no final.

Amores que não bastam!

Não quero ser uma heroína, não no amor que me deverá assentar como uma luva, primeiro porque sei que o reconhecerei, escolhendo-o, e depois porque mereço ser igualmente reconhecida e verdadeiramente escolhida. Não quero lutar contra fantasmas, mesmo que eles possam existir, porque seguramente que se manterão muito para lá da minha capacidade de os saber gerir e aceitar. Não quero precisar de me impingir ou forçar a entrar no que deverá estar escancarado para mim. Não quero amores que cheguem de forma unilateral, porque acabarei inevitavelmente derrotada enquanto me esgotar no esforço de ser vista. Não quero ser a única a querer!

Foi tudo isto que determinei para mim e para qualquer novo amor que entrasse, mas também foi tudo isto que me "esqueci" de aplicar, desferindo-me golpes invisíveis que ainda hoje me deixam a padecer duma dor que nunca tinha sequer sonhado sentir. A minha determinação foi o que sempre me precedeu, no entanto acabei superada pela fragilidade dos que nada parecem saber e que acabam sem vontade de se conhecer, para que nada os force a forçar a vida a prosseguir. O meu olhar sob os outros de alguma forma era o que melhor me representava, porque me recusava a camuflar o óbvio, mas ainda assim, depois de tanto caminhar e conhecer, esqueci-me do quanto já me conhecia, e falhei-me.

Não quero ter que provar que sou a pessoa certa de alguém e não quero que me queiram sem que me provem que merecem ser amados da única forma que entendo, sem reservas.

O amor que sinto...

Gosto, cada vez mais, da diferença que não deixa de nos unir e das semelhanças que nos fortalecem. Gosto mais de ti hoje, porque me dei tempo para te ir olhando e avaliando sem qualquer malícia, apenas com um enorme desejo de te incluir. Gosto do sabor da tua boca quando e de cada vez que tens a minha e passei a gostar ainda mais dos beijos com que te envolvo e porque me sinto mais próxima e envolvida em ti. Gosto do tempo que corre depressa se estamos juntos, mas que é usado na íntegra para que usemos melhor o que ainda nos falta quando não estamos. Gosto de ti porra!

Sou uma acérrima defensora do amor simples e previsível na sua imprevisibilidade. Creio na capacidade que adquirimos quando deixamos de ser apenas um, mas que nos permite continuar a existir como um só. Os lugares comuns unem-nos ainda mais, mas os que apenas nos pertencerão individualmente também poderão ser de ambos, se os soubermos partilhar. Sou mais tranquila e confiante no amor que me chega hoje, mesmo que ainda precise de muitos quilómetros de ajustes para que ele se aninhe e permaneça.

Gosto de ser gostada como me tens mostrado e gosto de perceber que ainda tens lugar para muito mais de mim, sem que te assustes e sem que me tragas de volta os medos de antes. Gosto de perceber que também eu tenho margem para te mostrar todo o amor que sinto e que isso já não será demasiado.