Não quero prosseguir sem ti. Não sei como o fazer por isso escolho não parar de tentar. Sei que te dei o meu melhor, mas também sei que tenho mais e que consigo ainda encontrar outra forma de nos mantermos assim, eu e tu, juntos.
Não quero as dores que me trespassam a pele e a carne quando te imagino longe, distante do mundo que passei a imaginar contigo. Não quero parar de te querer, quero deixar para trás o que não funcionar para nós. Quero que a vida se mantenha acesa, em movimento, capaz de nos surpreender e fazer sorrir. Quero o som da tua voz, o toque suave da tua pele e os beijos, longos e meus, quando os recebo. Quero querer-te assim e mais ainda, provando-te que és tu e que tens o que me faz falta. Não paro. Não desisto. Não me escondo, não agora, porque deixou de ser possível.
Quando nos ouvimos. De cada vez que falamos, mesmo que dos outros, sentimos que estamos um para o outro e que se nos reencontrámos, então iremos manter-nos. Quando falamos com as vozes que o outro reconhece, tudo parece ficar no lugar certo, mesmo que não esteja. Quando, nos poucos silêncios, o nosso respirar se reencontra, fazemos sentido. Quando estamos, tudo o resto deixa de contar, mesmo que conte.
Não paro de tentar, não consigo parar de te ter. Não vou parar de tentar até que peças e assim mesmo terá que ser muito, com todas as tuas forças, para que acredite.
Não é para ti esta carta, porque não a irás ler. É minha, para mim e comigo em cada palavra, porque preciso de me deixar sair, preciso de me ler para perceber o que faço por aqui e de que forma ainda me mantenho, estóica e a sentir-te assim. Acabei a lembrar-me de ti, do que foste, não para mim, porque nem eras muito, mas do que tinhas para teres o que ainda senti hoje. Acabei por perceber, sem muitas dúvidas, o que me levou até a ti e o que me trouxe de volta. Acabei por acabar com o que não conseguias, porque já te arrastavas, inseguro, assustado, sem margem para te manobrares mais, sem saídas nem reservas. Acabei por perceber que não basta amar, não serve ter quem nos sirva, quando os tempos e lugares não bastam. Acabei por me deixar ir, e que bem me soube o teu sabor, mesmo que os nossos corpos não tenham sentido tudo, afinal não houve tempo.
Tudo voltará ao ponto em que estávamos ambos, antes de sermos eu e tu. O meu espaço, o que ainda consigo construir para mim, esteve apenas sossegado a dar-te o que tinha, meu, gratuito e sem gastos, porque apenas gastei tempo, mas usando-o bem. A minha vontade de ti impediu-me de dormir, mas vou fazê-lo agora, porque voltar a casa é isto, é estar aqui onde estive sempre.
Não estou a lamentar nada. Não estou à procura de culpados. Não me estou a deixar cair, porque o trabalho de me levantar seria apenas meu e cansa andar cansada. Estou apenas a reafirmar e a confirmar-me que terminou o que talvez nem tenha sequer começado. Estou a deixar que deixes de te sentir responsável. Estou a despedir-me, apenas isso.
Para ti, de mim, como sempre fomos, apenas um. Apenas um lado. Apenas eu. Um até breve, numa outra escolha.
Quando achas que sabes tudo. Quando pensas que até consegues identificar sentimentos, vem daí a vida e pimba! As pessoas são feitas de vivências e de tempos que nem sempre se encaixam nos nossos. As pessoas trazem bagagens das quais não se libertam, por não saberem como, e mesmo que te deixem segurar numas quantas, as que lhes dizem muito, as que as levariam a chegar a outro lugar, não as largam. As pessoas são elas mesmas e não mudarão por ti, mesmo que aparentemente sejas quem precisariam de ter.
Não sei porque ainda me espantam. Não entendo porque me atrevo, em alguns dias, talvez nos que chegam com mais sol, a acreditar. Não sei porque caminho, regra geral no lado contrário da estrada, evitando a carneirice, que a ser bem analisada nos impede de andarmos perdidos. Mas assim mesmo continuo a preferir ser obstinada na minha determinação, quero à minha maneira porque os outros já me provaram que da deles não vai, não resulta e não adianta.
Uau para mim que me deixei encandear. Uau quando sempre soube que não se pode olhar para o sol, porque basta senti-lo. Uau para a minha capacidade de manter o sonho para além da realidade, porque ela às vezes é bem cruel. Uau para tudo o que ainda terei que fazer, porque não se recomeça sem ter começado.
Mesmo que estejas para lá do que eras hoje, o tempo será meu aliado e certamente que acabará a correr para o meu lado. Mesmo que o tempo leve demasiado tempo e que acabe como comecei, apenas eu, sei que aprenderei a aceitar que sou a que terá que me bastar, a que se apanhará do chão e a que ficará quando todos os outros se forem. Tive sempre o meu coração comigo e no lugar certo, pronta para estar pronta para ti quando chegasses. Tive alguma inocência no desejo de ser desejada, quando nunca poderia ser possível, não assim, porque não sou apenas eu, não me tenho apenas a mim para que sintas que o teu lugar sempre foi "este". Tive, desta vez, por uma vez, a abertura que te permitiu ver para além do que mostro, mas não serviu e não bastou.
Tudo tem uma fórmula, um encaixe e um tempo que se encontra com o outro, se nos soubermos encontrar, se o que vivemos e sabemos chegar para além de nós. O que se parte até se pode colar e juntar peça a peça, mas os danos serão sempre visíveis e a recordar-nos, a cada olhar, que já foi da forma errada. Podemos sempre tentar, insistir, esperar e acreditar, mas não podemos somar o que apenas se subtrai, multiplicando o que sempre nos dividiu.
Mesmo que o tempo leve tempo, o amor que sinto por ti ficará mais suave, mais arrumado, a permitir-me acreditar que irei sobreviver, porque desistir, para mim, para nós, nunca foi opção. Não de nós e não dos nossos. Mesmo que o tempo leve tempo, vou ser capaz de perceber porque te quis assim e porque não te soube manter.
Para onde vão os corações que perdem os únicos corações de que precisam? Ninguém sabe, eninguém explica de que forma começamos a sentir pulsar o único órgão com poder para mudar tudo o resto, aqui e em qualquer outro planeta ou forma de vida. Ninguém sabe porque nos escolhemos e como conseguimos manter, para além das lutas, do desespero e até das quedas, a pessoa que nos completa os dias, mesmo quando os deixa vazios e a parecer que nada importa ou faz sentido se não estiver. Não sei para onde vão os corações que permanecem sozinhos, os que nunca encontram a sua metade, se é que a metade existe mesmo. Não sei porque esperamos tanto, ou desistimos de esperar, se o que acabamos a sentir nos deixa incapazes de explicar o que todos, em qualquer momento dos seus momentos, deveriam ser capazes de sentir. Não sei porque és tu, porque me sentiste a mim e porque ambos, no nosso percurso, precisamos que seja assim e não com outra pessoa qualquer. Não sei explicar porque me deixas a querer-te como apenas eu pareço conseguir. E não sei, não ainda, como iremos prosseguir num caminho que mais ninguém parece entender, mas que para nós faz tanto sentido como fará sermos nós e andarmos por aqui.
Para onde te sentes e imaginas a ir, quando do teu lado está quem muda tudo e te permite sonhar para além dos sonhos que aprisionas para que ninguém os possa roubar? Para onde, e até onde estás disposta a ir, se o que tens agora ainda não te bastar? Para onde foste, quando já parecias saber do que afinal apenas agora chegou? Para onde olhavas quando ainda não vias nada?
O meu coração tem um lugar, um destinatário e uma razão para bater. É para ele e por ele que pretendo continuar, porque apenas faço sentido enquanto tiver em mim e comigo quem me faz sentir assim.
Nunca soube, porque nunca me disseste, que antes de mim estivera quem afinal acabaria por ficar. Nunca soube, porque tiveste medo, ou porque talvez tenhas achado que eu a tiraria da tua mente, arrancando-a do único lugar onde sempre estivera. Nunca soube, não poderia, porque não há como estar no sítio errado, sendo a pessoa menos certa num coração que apenas tem lugar para uma de cada vez.
Não sei se fingias, se te forçavas a querer-me ou se apenas esperavas. Não sei quando me reconheceste e se alguma vez o foste capaz de fazer, mesmo que me tenhas dito, vezes sem conta, que era eu, que me querias e que precisavas de precisar de mim assim. Não sei onde falhei e para que lado olhei, para não estar a olhar para o que deveria ter mesmo visto.
Se mandássemos, cada um de nós, no que queremos realmente, talvez os finais fossem mais felizes e mais fáceis de carregar, antecipando o que só poderia chegar. Se mandássemos, tu e eu, teríamos cruzado outros caminhos, porque o que fiz não bastou e o que me deste acabou por me doer bem mais. Se mandássemos, se pudéssemos mostrar ao outro que somos quem lhe serve, nada do que digo e sinto agora seria o que estou a dizer de forma tão dolorosa.
Nunca soube e talvez nunca saiba se terá sido melhor assim, afinal acabei a ter o que recordar de cada vez que me recordar de ti!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.