Terei certamente muitos dias para sentir pena de mim, mas hoje não, hoje não sou capaz, até porque todas as memórias que me assolam fazem-me sorrir bem mais do que a vontade de me deitar e adormecer, abandonando-me à sensação de erro e de falha. Sou humana, por isso também avalio mal, mesmo que baseada nos dados que recebi e que antecipavam o que me chegou. Hoje não, amanhã, quando acordar, mesmo não sabendo de que forma, porque nada é igual e tanto que já o percebi, amanhã logo vejo se tenho tempo de me lamentar.
Se me deixasse acreditar que não tenho margem para errar. Se me forçasse a aceitar que falho porque estou desatenta, então tirar-me-ia todo o poder que acredito ter, em mim e na minha vida. Por vezes pareço ter o saco lacrimal roto, e choro até sentir que de tanto chorar já me lavei por dentro, mas escolho, quase sempre, ir à luta, arregaçar as mangas emocionais e recomeçar, todas as vezes que precise para aprender ou para ser surpreendida, pela positiva.
Hoje não me apetece pensar que não existe ninguém para mim. Hoje não quero acreditar que acabarei sozinha, porque certamente, algures, nesta vida, terei, para mim, quem queira ser o que sou já, dando-me o que acabará a receber. Hoje escolhi sonhar acordada, sentindo que ainda irei esbarrar em quem me respeite, ao que faço, admirando-me pelo que tenho e que é apenas a mim mesma. Hojenão vou usar palavras negativas, vou rir-me comigo e de mim, vou caminhar solta, livre, não devendo nada a ninguém e sabendo que sou bem mais do que me tentaram fazer e que por isso mereço muito mais do que me acabaram dar.
Temos que querer ser felizes para eventualmente o conseguirmos. Não a toda a hora e minuto e certamente que não sempre, mas é possível ser-se feliz saboreando o sabor que nos passa a felicidade conquistada. As pessoas felizes passam-nos uma energia que contagia, como contagiarão as infelizes, mas a essas não nos queremos colar, nem sequer beber do que forem largando. A felicidade, tal como muitos a imaginam, não existe e não vem sob o formato de bens materiais, por muito que nos possam deixar com a sensação de conquista. A felicidade é um estado emocional e constrói-se a custo, com muitas falhas, avanços e recuos, mas após instalada ninguém mais a volta a arrancar, a não ser que o permitamos. A felicidade que criamos alastra-se, pega-se, cola-se e não deixa ninguém indiferente. A ser genuína e sentida, torna-se um bem inestimável, um artigo raro, como raras são as pessoas que realmente se sentem felizes, seja porque razão for.
NADA de mendigar, pedinchar e sobretudo, NADA de embarcar em dores que se agudizam apenas com o olhar, porque as pessoas infelizes, ou as que nem sabe o significado de um sentimento ou de outro, são mais bem-sucedidas que o WD40 (passo a publicidade), porque se ele arranca qualquer sinal de ferrugem, imaginem o que fará aos optimistas. Nada de desistir do que é nosso por direito, só temos que saber actuar em conformidade, protegendo-nos do que não funcionar. Viver é bem mais difícil do que parece, mas bem mais fácil do que o fazemos parecer porque a verdade é que está tudo no querer. Assim sendo, embora lá usar de toda a felicidade que ainda abunda por aqui!
Inconstante e inseguro sou eu. Sou um inseguro crónico e tenho medo de parar de ter medo, porque é o que me segura aqui, neste marasmo que acabou a representar tudo o sei e conheço. Sou inseguro porque ainda não vivi, não o bastante para o deixar de ser. Inconstante porque nada na minha vida durou o bastante para saber com o que contar. Eu sou este, da forma que fui capaz de manter, com todas as dúvidas que apenas me empurram mais para onde não quero estar. Não crio memórias bastantes que me bastem e tornem tudo o resto mais fácil. Não espero, nem acredito que me mude porque não sei o que significa mudar. Hoje, sobretudo hoje, espero poder deixar ir o que me pesa, num peso que quase não consigo aguentar. Hoje a minha inconstância está a custar-me toda a segurança que fui incapaz de manter e nunca arranjei forma de te dizer o que valeria realmente a pena.
Sou inseguro e vou continuar a sê-lo apenas por te olhar, por te ver a conseguir o que me recuso. Sou inconstante e não me permito, de alguma forma, o que seria tão fácil de conseguir, tal como te consegui a ti, se ao menos soubesse como o querer.
Registaste cada registo falado e até os silêncios. Entendeste quem era e amaste-me da mesma maneira, daquela que dizias querer assim que me quiseste. Não tornaste nada fácil, apenas me lembras-te de como a minha insegurança me faria perder-te e desta vez, da única vez em que não precisava ser constante, fui-o e mantive-me como sou, sem nada para te oferecer e vi-te ir, olhei para ti até desapareceres, tu e o sol que nunca mais voltou a nascer, não por mim e nunca para mim.
Terminar comigo mata-me um pouco, sobretudo pela sensação de que não controlo NADA, nem o que aparentemente desejava. Terminar com sonhos, com desejos que quase toquei. Terminar comigo aceitando-me como sou, frágil e incapaz de sofrer para sempre.
Ver como as coisas me escorregam das mãos, como se vão uma a uma, em verdades que escolhi esconder e que apenas me adiaram o amanhã certo, magoa bem mais que uma ferida aberta. Saber o que sempre soube, mas de forma mais real, sem a distância que sempre impomos aos problemas que nos assustam, permitiu-me decidir, aceitar e continuar. Sentir que não me posso fazer sentir o bastante, que não basto e que não importo, não me consegue parar, nem impedir de olhar com atenção. Tenho que aprender com todo o processo e recomeçar do início mais renovada, mais forte e mais pronta. Por vezes é difícil ver com clareza, abrir o coração, perdoar e escutar outras dores para além das minhas, sem esconder o que apenas me poderá vir a "matar" de uma morte lenta, porque sei que sou mais, que consigo ser maior do que o que me derrota e que me devo a mim mesma TUDO.
Terminar comigo será sempre mais difícil do que deixar-te ir, porque a sensação de falha e de derrota é maior, mas eu e eu mesma acabaremos por nos resolver...
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.