Em quem pensas, em ti ou em nós? Pensar inclui querer ao outro o que queremos para nós, tudo o que nos deixar melhor e que nos souber aos sabores que nos passam os sentimentos verdadeiros. Pensar em quem se ama terá que ser feito bem antes de pensarmos em nós mesmos. Não conseguir pensar significa apenas que queremos fechar a porta que abrimos, porque mantê-la aberta será demasiado.
Pensas em ti ou em nós quando estás sozinha, a olhar para o nada que criaste quando afastaste quem amavas? Pensas em ti quando te impedes de sentir o que apenas o outro te pode passar? Pensas em ti quando desistes, quando te magoas nas tuas palavras e de cada vez que rasgas mais um pouco o que já começou débil e inseguro?
Quando e enquanto o sono não chega, avalias o que foi passando a uma velocidade que excedeu a tua capacidade de adaptação. Ouves as palavras, sentes os toques, mas somas cada lágrima e foram realmente muitas. Pensas em ti quando percebes quem és e entendes que és assim mesmo, mais fraca, menos intensa e incapaz de querer de outra forma, a que deixaria o teu coração controlar a tua mente. Pensas em ti quando aceitas que não podes mais, que não terás mais e que nunca serás mais. Pensas em ti ao sentires que foste apenas um pequeno palhaço sem graça, a tentar sobreviver num elemento que não é o teu. Pensas em ti porque tens sonhos que precisas de manter, queres realizar cada um e apenas assim encontrarás o teu lugar. Pensas em ti quando te despedes num adeus que carrega um sabor tão amargo, como amarga foi a viagem.
Não sei em quem pensas quando desistes, mas se o fizeste deixaste certamente de pensar, fechaste as mãos, viraste-te e não olhaste para trás. Quando desistes, o que começaste termina!
Amores que chegam com a temperatura que o calor carrega. Amores quase desenfreados, cheios de
toda a energia que as noites longas nos fizeram acumular. Amores desesperados e ansiosos, por mudanças, por renovações e
previsões de recomeços. Amores que
começam à velocidade que terminam, mas ainda assim a valerem cada sopro.
Encontrar-te, de face já mais morena que a minha. Olhar-te e ser olhado da mesma forma,
sabendo que tinhas entendido o que ainda não arriscara dizer. Sorrir-te sabendo que me irias sorrir
de volta, esperando que me movesse, com passos seguros, porque me asseguraras
do sucesso. Desejar-te, no minuto a
seguir ao perceber que te poderia ter, fez-me confiante.
O verão durou o tempo que durámos nós. Estivemos quentes, intensos,
determinados em prolongar, pelo tempo que estaríamos, juntos, no mesmo lugar,
sendo de outros bem distantes, o que sentíamos, na mesma sintonia e velocidade.
O verão durou dias quase loucos e
noites pela noite dentro. O verão
trouxe-nos, a ti e a mim, sabores que ainda não tivéramos, mas que acabámos a
reconhecer. O nosso verão, tal como
o amor que criámos, não teve lugar nem tempo para mais ninguém.
Ver-te rir e sorrir com os olhos.
Saber que sabias, tal como eu, que apenas seríamos, ambos, cada um dos momentos
que decidíramos experimentar. Deixar de lado, para o final do verão, o regresso
à realidade que nos consumiria. Trocar cada toque vazio, por todos que nos
enchiam e que não nos cansávamos de partilhar, foi o que nos deixou com a
sensação de que valera a pena.
A despedida não foi chorosa nem
cinzenta. Sabíamos o que tínhamos começado e terminar era apenas mais um passo
e uma consequência. Tu serás, por muitos verões, o melhor amor de um verão comum, aquele em que decidimos
ambos que podíamos, porque queríamos e porque sim. Eu fui, sem qualquer dúvida,
o teu verão possível.
Ninguém se meteu entre o que eu sentia por ti e o que desejava ter feito de nós. Ninguém me conseguiu convencer de que seríamos certos ou errados. Ninguém te trouxe, vieste sozinho e partiste da mesma forma. Ninguém me viu, como o fizeste, mas certamente que terás visto demais e sentido menos do que precisavas. Ninguém, a não ser tu mesmo, me disse que deveria parar ou continuar. Ninguém soube tanto do que sentia, como o soubeste e por isso mesmo terás descartado o que tanto fiz por construir. Ninguém me perdeu de forma tão deliberada e consciente como o conseguiste.
Quando iniciamos uma viagem a dois, teremos que nos manter ambos na maior parte do percurso, para que não arrisquemos estar a vir quando o outro se vai e sem sabermos quando retornaremos ao mesmo ponto. Terminar uma viagem também será sempre solitário, porque mesmo que se grite que estaremos a ir, de vez, para sempre e sem volta, se insistirem em não ouvir só nos restará mesmo continuar, na maioria das vezes como começámos, apenas nós.
Ninguém irá saber, sobretudo não agora, o que fui capaz de mudar para te tentar mudar. Sabia que era errado, soube sempre, porque o amor não muda ninguém, a falta dele sim e marca com ferros o que nunca mais terá forma de sair. Insisti e persisti durante o tempo que o meu tempo me deixou, mas acabei derrotada, esgotada e a não saber o que me faltava, quando parecia até ter tudo. Quis salvar-nos, aos dois, levando-nos para a frente, juntos, com certezas e achando que sabia o que precisávamos para nunca pararmos de precisar um do outro. Ninguém irá entender como fui capaz de esperar por nada, tendo sempre tão pouco, menos do que as palavras duras que me oferecias. Mas ninguém poderá, não depois da história que escrevi, culpar-me de ter pelo menos sonhado, porque enquanto o fiz tive-te.
Ninguém me afastou, nem sequer eu. Ninguém desistiu de nós senão tu mesmo...
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.